24.4.07



Por vezes me interrogo se comemorar Abril ainda fará sentido.
A distância que me separa de 1974 é cada vez mais longa. A imagem menos nítida. O som das botas na calçada menos sonoro e estou a envelhecer ao lado duma esperança que nunca dali saiu.

Falta-me o vigor dos vinte anos com que assisti à queda do regime. Perdi já o fulgor da juventude entusiasmada naquele sobe-e-desce constante pelas ruas de Lisboa. Deixei de ver realizadas as promessas que a nova ordem das coisas apregoava.

Em dados momentos, é-me desagradável constatar que perdi o rasto dos poetas e dos pregões. É-me penoso pensar que, passados trinta e três anos, o meu povo continua cómodo e casmurro. De cinzento vestido. Desgarrado e triste. Obeso de formas consentidas.

Em mim entristece-se-me a figura. Falta-me o brilho dum olhar novo. Rareiam as causas em que acredito.
Provavelmente, estarei azedo. Desiludido e parvo.
Mergulhado talvez na dúvida se Abril ainda terá razão de ser.

18.4.07



18 d'Abril

Fazer anos é como rever capas de discos já usados. Páginas a preto e branco onde se apontam datas e rabiscos que escondemos. Coisas raras que guardamos.

E em todos eles, sentimos a proximidade com quem já estivemos.
Existem retratos que provam quem amamos e beijámos todos aqueles que nos seguem. De quem ouvimos o primeiro choro, a primeira palavra que disseram e o primeiro andar.
Mas fazer anos, é ir mais longe. É dar pulos sem olhar para trás. É dar um passo a mais na direcção de um abismo que nos espera. Logo ali. Num traço de caminho da linha recta que nos foi dado a percorrer.

Fazer anos, também é um imenso mar de gentes e lugares que nos marcaram. É o tic-tac do relógio que nos vinca o andamento. É o minuto seguinte à nossa espera e a vontade de ultrapassar mais uma barreira. Sem cabelos alvos e de medos assustadiços. Soletrando os dias já passados como decorados já estivessem.

Fazer anos faz a prova que acontecemos. De ter aproveitado o que a própria vida deu e ensinou. De conseguir dizer nas palavras do poeta: “Eu vivi!”.
Por isso, um ano mais me aconteceu.

E fico grato por tanta gente boa ter em meu redor. Como agora. Onde ao contá-los, verifico que ultrapassam os anos que já fiz.

Parabéns Thita. Parabéns mano. Parabéns Lourenço.

10.4.07

Por muitas razões que nos levem a ausentar do nosso próprio espaço, há uma que nos leva a ter em conta: as amizades que fizemos virtualmente.

A Cinda, tal como todos os outros que tenho ali ao lado, não fogem à regra. Preciso é de mais tempo para os acompanhar.
Vai daí...