29.12.07



O Natal que (nunca) tive

Por escolha pessoal, este foi o ano com um Natal que nunca tive. Nem mesmo em criança, quando as dificuldades dos meus pais eram gritantes e que mesmo, de qualquer forma e com muito sacrifício da parte deles, havia sempre umas prendinhas na chaminé junto ao sapatinho que o meu pai nunca deixava deteriorar, já que era mestre bate-sola, e uma mesa pobrezinha mas bem composta no tempo em que o bacalhau era o prato favorito dos menos prósperos.

Por outro lado, recusei educadamente todos os convites e quis passar pela experiência de não ter natal. Masoquismo? Talvez não. De que outra forma poderia entender aqueles que estão “obrigados” a não tê-lo há muitos anos e tentar explicar aos netos e divulgar experiência tão dolorosa? De que outra forma, se pode sentir na pele a triste realidade do meu povo sofrido, como diz Elisa Lucinda?

Serviu-me de exemplo.
O olhar para uma mesa vazia faz doer os olhos. Dar pela ausência de pessoas a que se está habituado, estranha-se e rasga-se qualquer coisa em qualquer um. O facto de ter, ao menos, um tecto protector não ajuda muito ir lá mesmo ao fundo. Faltou o andar na rua, ter o nevoeiro a tapar a visão, e sentir o frio e a chuva a fustigar o rosto de todas as esperanças que pudessem ainda restar de que apenas se esteja a sonhar.

Muito provavelmente, na passagem d’ano vou mudar de rumo. Socializar-me. Enfrentar o novo Ano com uma réstia de confiança que me faltou nestes últimos quatro meses.

Até lá, a gente vê-se por aí.

Sucesso, saúde e sorte, é o que me apraz desejar a todos quantos passarem por aqui. Aos que não passarem, também.

23.12.07



Era nesta antevéspera de Natal, em mais um dia 23, que se me colavam aos olhos águas fortuitas.
Era neste dia que se espalhavam aromas e paladares por aquela casa, que só ela sabia fabricar.

Hoje, já nada resta.
Vazio o espaço. Mesa sem nada sobre a toalha bordada à mão, com imensas recordações para poder contar. Mas não consigo.

Talvez aguente a nostalgia ao ir passando pelos lugares de amigos que descobri com esta brincadeira séria nos espaços pessoais.
O que não consigo é quebrar o gelo desta saudade. Desta amargura que se me enrola na garganta quando trinco qualquer guloseima de Natal que ELA fazia.

Até a pena lírica com que escrevinhava sensações se quebrou. Evaporou-se a tinta e acabaram-se-me as folhas frias de papel nestas noites que ficam demasiadamente longas. Frias. Sem telhado onde me abrigar porque, ao que parece, o meu Pai Natal estatelou-se na visita que fazia todos os anos à nossa casa.


Resta-me a vontade e o consolo de vos ir vendo por aí.

Até sempre.

16.12.07



Provavelmente... é Natal!


Provavelmente, à medida que o tempo vai passando, os dias que se seguem trazem solicitude, amargura e saudade no que me toca, e coisas felizes em outras gentes a quem a vida quis que fosse assim.

Provavelmente, à medida que o tempo vai passando, nunca quis que os caracteres deste teclado, nesta conjuntura de escrever às pessoas que não conheço sem ser virtualmente, se apagassem com a humidade que jorra dum sítio que não digo. Que as palavras que escrevo, parvamente e taciturno, se diluíssem no vazio duma quadra que para mim não faz sentido num ano de lençóis frios. De cama e mesa vazias. De janelas onde antigamente piscavam luzes.

Provavelmente, à medida que o tempo vai passando, soltam-se e saltam crianças e casais felizes a estas horas deste Dezembro gelado. Risos e abraços que não consigo partilhar, com pena minha, nas casas abertas onde estes últimos anos mantive um laço mais apertado, e aonde não me cabe entrar. Por respeito e admiração. Por privacidade alheia. Não ser incómodo é a palavra certa, e há um nó que me atravessa a garganta quando utilizo as teclas deste velho e enferrujado computador.

Por isso, cabe-me desejar daqui a todos um Bom Natal neste meu espaço que se tornou triste.
E muito provavelmente, resta-me passar o meu da melhor forma que puder, desejando a todos quantos passam por aqui que estejam melhores que eu na minha maior prova de fogo: sem Pikena, sem Mãe (internada no Barreiro), sem filhos e netos (estou a trabalhar) e, provavelmente, sem a visita do barbudo da Patagónia. Ou mais alguém , a quem a vida, temporariamente a esta hora, não está a sorrir da forma mais conveniente. Mas só a curto espaço, acredito eu.

De qualquer forma, vou abraçar-me a esta facilidade de entender.

23.11.07



23 de Novembro

Todos os dias vinte e três são, ou eram, especiais. E o dia 23 de Novembro é uma data como outra qualquer para qualquer um. Mas para mim tem um significado deveras especial. Foi o dia em que mudei de vida já faz anos. Que arrumei de vez (pensava eu) as minhas traquinices inocentes e as loucuras mais maduras que um tipo da minha idade possa ter. Mesmo com o pijama vestido e os chinelos de quarto já calçados, enganei-me.

Por muito desenrascado que possa ser, ELA faz-me falta. E hoje mais que nunca. Basta pegar no ferro de engomar. Tentar decifrar todos aqueles botões das sofisticadas máquinas de secar roupa que nunca percebi, ou a de lavar loiça de um jantar onde se falava de tudo e mais alguma coisa.

A gata e os periquitos olham-me de soslaio. Inclusive, ter uma conversa passional num transporte público já me incomoda e estou a perder a paciência ao resguardar-me o mais que posso.
Os vizinhos tentam confortar-me. A rapaziada dos blogs têm sempre uma palavra de estímulo e encorajamento que me vão dando algum alento, e não me poderei queixar. Mas, de qualquer forma, queixo.

Queixo-me da vida. Da sorte. Do sacana do futuro que já viu dias melhores.
Não há nada a fazer.

3.11.07



Comovidamente alertado, como já me fez saber uma pessoa amiga, aproximam-se a passos largos datas “trágicas”. Uma já passei (o dia dos entes queridos), com o coração quebrado e a sangrar por vários lados. Aproxima-se outra, a vinte e três; a (ex-) celebração de mais um ano no desenrolar de duas vidas passadas em conjunto e ternamente enriquecidas.

Se passar essa… então, posso afirmar que sobrevivo. Que resisto. Enfraquecido, é certo, mas estoicamente a lutar para não me deixar vencer. Faltar-me-ão ainda mais. Aquelas onde todos juntam sorrisos largos. Crianças felizes. Perspectivas de um futuro mais risonho e muitas luzinhas a indicarem mil caminhos.

Talvez piores, serão as noites frias. Gélidas. Onde mais se vai fazer notar um vazio que não suporto e que me apertam entre quatro paredes caiadas de escuro. Uma mesa solitária sem cadeiras. Os pratos limpos. Uma toalha estendida sobre nada.

Uma cruz que tenho de carregar durante a vida que me resta.

27.10.07



Pesadelo

Por muito que pese a vontade de ultrapassar as coisas mais desagradáveis na vida de qualquer blogger, a coisa não é fácil. Tenho experiência disso e acompanhei, ao longo destes cinco anos que já levo nesta brincadeira de comunicar por esta via, determinados casos reais. Gente com quem contactava regularmente e se finou. Outros que se fartaram. Pessoas que acompanho mensalmente e têm problemas de saúde. De carência afectiva. De solidão. Arriscaria até, em alguns casos, de amor. Outros mais inadaptados, curiosos, refugiados em silêncios que ninguém entende, lá vão levando a água ao seu moinho.

O meu caso é dos mais banais; a Pikena foi-se e acabou.
Fiquei eu aqui. A falar e a escrever sozinho. Impávido e sereno, a cantarolar uma música qualquer ao ir abrir a caixa do correio na esperança que possa compreender alguma nova que me possa devolver o raciocínio de saber que não morri. A vasculhar notícias na Globo, na TSF, jogar os meus trunfos de memórias perturbadoras que me assaltam de noite em casinos virtuais, e saber os resultados da última jornada de futebol. Depois acabo no espreitar do que escrevem os nocturnos. Noctívagos de uma só pernada de pinheiros altos. Que comunicam de qualquer forma o seu estado d’alma e que tenho linkados ali ao lado ou encontro por acaso.

Depois vou à rua comprar pão. Com a barba por desfazer e tentar não me anular. Despejo o lixo que me sobrou. Restos que me não chegaram a satisfazer uma vida que não pedi e não dá para repartir com o que já perdi. (a nossa Becky, mais a dona).

E aí vou eu, ao encontro duma esquina que me esconda. Disfarçando toda uma raiva num simples pedido dum pé de salsa ou de hortelã à senhora do minimercado. Aquele onde gasto os últimos tostões do curto ordenado que se fosse pago em tristeza dava para sustentar todos quantos passam por aqui.

Resta-me a saudade de ajudar a mudar a cama de lavado. De pintar a casa. De arrastar os móveis quando a ela lhe dava na cabeça fazer obras. De ver-mos o Benfica juntos. Atirar-lhe uma flor para a janela quando estava à minha espera. Dormirmos agarrados num aconchego dum calor que era só nosso quando o frio chegava mais cedo e apertava as emoções. Aquele cheirinho. Aquele sorriso. O afago daqueles dias de “hoje não me chateies que dói-me a cabeça”.

São tudo coisas que estou a tentar ultrapassar facilmente.
Tal como, ao olhar as paredes brancas e geladas desta casa, tentar ser um grandessíssimo aldrabão e acabar por me convencer que tudo não passa duma noite mal dormida. Ou pesadelo.

22.10.07



As tragédias não têm necessariamente serem só gregas. Ou de Dickens, Dostoievsky ou shakespearianas. E os desastres emocionais que afectam estruturas que se julga serem sólidas – quer sejam pessoais, políticas ou económicas - destroem qualquer país. Qualquer família. Qualquer pessoa.

Temos os exemplos no Darfur, no Sudão, no Iraque. Sabemos pela História que os genocídios de 1918 e 1945 (Hiroshima) provocaram, e que ainda se sente, dor e sofrimento a quem sentiu na pele a situação. Titanic, Coreia, Vietname, Chernobyl, também ficaram na memória. Tal como o terramoto de 1755, as tragédias de Shansi, Sumatra, Peru, Irão. Isto só para relembrar alguns dissabores humanitários.

À escala do que cada um de nós possa imaginar, a vida de um viúvo não foge à regra. Regra que não sei explicar neste universo complicado que é o ser humano, e que mexe com o interior da nossa alma. Entra-se num conflito interno com forças que não sabemos medir a intensidade, nem os danos colaterais que provocam. Depois andamos de rastos. Com tendências para os disparates que só lemos nos jornais da manhã mais próxima.

Por isso, amanhã, vou viver mais um dia vinte e três. No silêncio de fazer contas à vida. Sem rumo. Talvez sem nexo. Apenas com a certeza que o que se abate de mais negativo nesta data, passe depressa. Nem que me tenha de afogar por uns tempos numa das baías deste rio Tejo que tanto gosto. A do Seixal. Onde o passado que mereço me destinou.

13.10.07

Palavras soltas


Seixal - Foto A. Caeiro

Tal como em circunstâncias adversas, os sentimentos que nos arrastam para dentro dum cemitério valorizam-se. Ali está tudo. O princípio e o fim. O nosso lado melhor. O mais fiel e escondido retrato que nunca ninguém vê. Tudo o que somos transparece de forma delicada. Rendida. Perante muitas coisas que não saberei nunca explicar.

A um metro e meio abaixo do chão que pisamos, jazem pessoas queridas. Corpos inertes que deram vida. Lajes que testemunham histórias e percursos e flores. Muitas flores.

Dos sítios onde me sinto agradavelmente calmo e tranquilo, aquele lugar será um deles. A par da beira-rio onde consigo ler e imaginar o futuro e que não tem necessariamente de ser um lugar mórbido ou triste. Um recanto onde se lavam as mágoas em choro compulsivo. Recuso-me a pensar assim.

Olhando os visitantes, apercebo-me que nutrimos um especial carinho uns pelos outros. Solidarizamo-nos com as perdas dos entes queridos e conversamos em surdina como se pertencêssemos a uma única família. Trocamos olhares cúmplices. Sorrisos amarelos como as pétalas de rosas esquecidas.

Venho de lá sempre emocionado. Com menos um bocadinho da minha própria vida. Mas ao falar com a pedra fria que esconde um dos meus tesouros, rendo-me à evidência que a lei da vida e morte é mesmo assim. Como as palavras tolas e soltas que este coração dita cá p’ra fora.

3.10.07

De volta

Ainda fragilizado a sentir palavras que fazem estremecer, recuperar os habituais gestos e comportamentos da vida passada até aqui, torna-se demasiadamente complicado acompanhar o tempo. Desde os meus primeiros passos que fui educado em ambientes muito portugueses: o da pobreza eterna, o da tragédia recalcada vezes sem conta, o da tristeza – essa vil e falsa amiga – que nos amarra e nos desgasta por toda a nossa existência. Pretendo alterar isso.

Quero mudar o rumo às coisas! Quero (como diz o Poeta) que o destino seja aquilo que eu quiser! E não sei porque carga d’água me fui lembrar deste vídeo que aqui coloquei e que já ouvi vezes sem conta. Mas, mesmo com as lágrimas a trairem-me, que me fez bem, lá isso fez. Provavelmente por ela.

A gente vê-se por aí…

3.9.07


Monsaraz, 2005

Luto é negro carregado. Vida vivida em tons cinzentos e sombrios, onde o mar e a terra alentejana não cala a dor das palavras certas que me traíram. O sofrimento. O sentido da perda. O sufocar dos soluços que aparecem sem ninguém os mandar vir.
Tenho que honrar o compromisso da minha forma de ser. Olhar de frente a nova vida e acabar de me arrastar nos cantos escondidos que fazem sombras dos teus gestos no fumo dos meus cigarros. Naquele amor onde me perdi.
Até sempre, Manuela.

23.8.07



Este meu primeiro dia 23 triste e amargurado, vou passá-lo no álbum das memórias que me recuso esquecer.

No entanto, as palavras das pessoas que não conheço sem ser virtualmente, foram duma enorme ajuda existencial para ultrapassar este difícil momento.
A minha abnegada Thita tem sido incansável nos desdobramentos que estas situações colocam. Assim como todos aqueles que faço questão de acompanhar enquanto por cá andar. Diz-se que os amigos vêm-se nas ocasiões. E aqui estou eu, de coração aberto, a soletrar um Obrigado profundo com a voz a trair-me o pensamento.


Por ordem aleatória, encosto-me ao ombro amigo dos que já souberam do sucedido: a Nucha, a Cinda, o Ouriço Caixeiro, o Orca, o Peciscas, o Finúrias, a Xinha, a Paula Raposo, o Zé “Prisas” Amaral, a Fatyly, o The OldMan, a Kalinka, a Isabel Filipe, a Didas, a Menina Marota, a Professorinha, a Fernanda, a Psique, a Elipse, a Poesia Portuguesa, a Fata Morgana, a Madalena, a Cainha, a Andreia do Flautim, a Irneh, o Quim, a Emília, e toda a família que andam nos blogs vezes sem conta desencontrados. A outros que por aqui passaram em silêncio e por respeito, também.

É a todos vós que dedico este dia vinte e três.

21.8.07



"Pudesse eu não ter laços nem limites,
ó vida de mil faces transbordantes,
para poder responder aos teus convites
suspensos na surpresa dos instantes!"

Sophia de Mello Breyner Andresen


Hoje vim falar contigo a sós um bocadinho. Acenar de longe o gesto simples de rever-te, e lembrar quanta falta me faz o teu doce e meigo olhar ou o sorriso lindo com que me deixaste. São as saudades que não consigo evitar em tudo o que toco e vejo; um livro, um prato, uma camisa por ti passada e limpa. Este blog. A música ligada.

Sei que não é dia 23. Nesse dia terei uma excursão marcada aos vários cenários que mais recordo, e enquanto isto não me passar andarei pelos cantos do quarto vazio onde me encontro e escondo atrás do fumo dum cigarro. E mais do que palavras, soltam-se-me lágrimas que não consigo suster. Só de olhar p’ra ti, emudeço. Estrangula-se-me a voz e a alma. Parece que também morri.

Malfadada sorte a minha.



ps - Fico grato, Cinda, pelo vídeo (e por tudo). Assim como a todos a quem irei dedicar algumas palavras. Frágeis de momento, mas sentidas.

8.8.07

O FIM

Na vida ganha-se e perde-se. Correm-se riscos. Vivem-se momentos mágicos. Trágicos e nostálgicos.
O que me vai acontecer, contêm uma sensação esquisita. Um sentido de perda enorme e um frio na espinha que abalam todas as estruturas do meu ser. Como um descalabro ou um terramoto que deitou por terra muitos anos bons.

Até um dia, Amor.


Vou ter saudades do teu sorriso e dos teus pés pequeninos.
Vou ter saudades da tua mão amiga com que me afagavas.
Vou ter saudades de te acenar da janela quando partias.
Vou ter saudades da tua companhia.

Tantas, que ao dedicar-te este sentimento, me sinto nada só de as pensar.

6.7.07

O negócio da China

Hoje em dia é fácil percorrer trezentos e cinquenta mil quilómetros em dois segundos e três décimos.
E eu ao fazê-lo lá consegui descobrir o grupo económico chinês que está a tentar comprar o Benfica. São estes, os gajos:


Da esquerda para a direita: Joe Berardo, Jaime Antunes, Alberto João Jardim e Stanley-Ho. Muito provavelmenta caracterizados por Fátima Lopes ou Siza Vieira, já não me lembro.

Desde Marco Polo e a Rota da Seda, Mao Tse-Tung e a Muralha, ou Wenceslau de Moraes e Tokushima, que já não me lembrava dos chineses. A sério. Tenho lidado mais com outras chinesices, tipo loja dos trezentos. Mas este interesse repentino pelo meu Benfica faz com que medite seriamente durante este fim-de-semana sobre as minhas próprias capacidades mentais e faça um auto-diagnóstico à reacção neurótica.

Desde o choque tecnológico de Sócrates aos chocos com tinta comidos em Setúbal na semana passada que também já não me lembrava que os neutrões das tomadas que por vezes sou obrigado a mudar cá em casa me fizesse sentir aquele abanão tão sumariamente natural quando não se percebe nada de electricidade e de mercados financeiros sem pontos e vírgulas chegasse a este ponto.

No entanto, nestes últimos dias os choques têm sido demasiados para a minha idade e já não sei se aguento. O melhor mesmo, é ir pedir um pouco de açúcar mascavado e uma folhinha de hortelã à minha vizinha da frente enquanto espero que isto me passe.
Não sem antes de desejar um bom fim-de-semana a quem por aqui passar.

4.7.07

Os novos equipamentos do Benfica... estavam já previstos.



E há sempre uma forma diferente de ver a coisa.



Explicando um pouco mais da situação que para alguns pode parecer de gozo, estamos em crer que a escolha foi a mais acertada. Senão vejamos; o local onde está o centro de estágio do Benfica é no Seixal (que por acaso é onde moro), certo? E neste caso verifica-se que a ideia é ir mais longe na retribuição do apoio que esta população tem dado desde que aqui chegaram. E porquê? Porque na baía do Seixal, um dos nossos ex-libris são precisamente os flamingos. E os flamingos são cor-de-rosa, não são? Ok, siga.

Por outro lado, nestas coisas de mercandish ou lá o que é, convém o reconhecimento às mulheres mais bonitas do país. E as mais lindas, sem dúvida, são do Benfica. E todas elas gostam desta cor. Mais. Também pensaram nas crianças, e decididamente na minha neta Thita que é uma fã incondicional do cor-de-rosa só ultrapassável pelo amor que ela tem ao Glorioso. Além disso, tente-se imaginar a Pink Panther, a Barbie e o Ken, o Noddy e o Ruca, todos juntos, a cantar no Estádio o hino do Benfica vestidos cor-de-rosa.

Eh pá, não me venham cá com merdas…

23.6.07



Qualquer dia vinte e três de todos os meses são extraordinários numa celebração cá muito minha. Mas este, o de Junho, é mais ainda.

É o dia em que me dobro em emoções e onde o cúmplice olhar com que o vejo tem um significado especial. É o dia em que me engasgo e gaguejo. Um dia em que as palavras e os gestos se afugentam num coração a bater mais forte. Um dia a menos para a contagem final dos que já me restam, mas que vivo com enorme intensidade.

É a pieguice do costume. A dificuldade de encontrar a forma de exprimir o sentimento. O medo que um simples "Amo-te" não seja suficiente para demonstrar o carinho, a gratidão, com que se deve tratar com quem se vive.

Pikena!

21.6.07



Previsão do Tempo

Entrámos no Verão.
E este, a analisar pelo que corre no mundo e no país, vai ser um verão quente. Daqueles estaladiços como os “frades” que eu compro pela manhã, vindos da padaria em Casal do Marco.
A crer na meteorologia política, social e desportiva, isto vai ferver. E não há protectores solares que aliviem a agressão das temperaturas elevadas que se vão fazer sentir.

Como sou mais pobrezinho do que a maioria dos bloggers e avesso a grandes deslocações ao exterior, sinto uma camada de ar quente oriunda da região Ota-Alcochete. Prevejo, também, céu pouco nublado ou limpo a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela devido à precipitação dourada onde podem surgir neblinas ou nevoeiros matinais se a coisa der para o torto.

No centro do país o aquecimento continuará com valores elevados já que o nosso Primeiro fez questão de lavar a sua honra no mar encrespado do Portugal Profundo. Os ventos podem soprar moderados se o falso engenheiro não fizer subir nas terras altas a temperatura máxima que deve rondar os três graus académicos.

Mais a sul os ventos podem soprar a muitos quilómetros por OPA e não existem colecções que façam baixar as ondas que podem atingir alturas ideais para a terceira idade. Aguaceiros fracos podem surgir na capital devido a ares quentes vindos da região centro, onde Telmo Correia explicará os trinta e três mil e duzentos caracteres que Carrilho ainda tem na gaveta.

Nas regiões autónomas, vento em geral fraco com ligeira subida de temperatura caso se verifique que o Alberto João possa ser ressarcido dos valores orçamentais da Madeira. A temperatura da água do mar manter-se-á, apresentando-se boas abertas em todo o território se o gajo ainda continuar a mandar em tudo aquilo.

4.6.07



Uma pa mim, Ota pa ti

Desconheço o plano, o contexto, o impacte ambiental que uma obra desta natureza pode conter e/ou alterar. No entanto, qualquer coisa me diz que a não queria ver enraizada e construída aqui. No deserto. Mesmo-mesmo de braço dado com a nova designação que a cidade onde vivo adoptou: Al-Seixal.

Por isso, não ando a dormir bem e respiro ainda pior. A visão também não anda lá grande coisa desde que deram o nome sui generis de “Caixa Futebol Campus” (!) ao Centro de Estágio do Benfica e a sacana da Sul-Fertagus nunca me deixar chegar a horas ao trabalho nos domingos e feriados. Não sei… parece-me que a criatividade, a competência e o bom gosto, sofreram alterações que me é difícil aceitar. E ver todo este país nas mãos de engenheiros e arquitectos, também não ajuda muito.

Ainda se me dissessem que a excentricidade cria talentos e desenvolve a sociedade, devolvendo poder crítico e soluções alternativas, tudo bem. Agora a malta assistir, impávida e serena, às preocupações do Cavaco sobre a matéria e não aproveitar os direitos que (ainda) temos para fazer vincar as preocupações e dificuldades que a maioria de nós estamos a passar, isso tolero menos ainda. Mas o elo mais fraco deve ser a minha visão – fraca – de ver as coisas.

Não deve tardar muito os blogs a favor da Ota e do Poceirão hão-de esclarecer as dúvidas. Ou então, os interesses privados e os fazedores de opinião não tarda nada colocam tudo em pratos limpos.

Cá para mim, mandava-os todos p’rá Madeira. De lá é capaz de se ver melhor...

30.5.07



Esta brincadeira dos blogs tem coisas giras.
Estarei a lembrar-me de no século passado, os mais antigos nestas andanças (os meus amigos brasileiros), faziam da blogosfera dessa altura a moda do célebre FlashBlog; um momento único em que um blogger estava vinte e quatro horas à frente do teclado a editar o seu blog com tudo o que lhe viesse à cabeça. Desde música, arte, literatura, culinária, poesia e outras coisas que não lembravam ao diabo, para animar um dia como outro qualquer a rapaziada que por lá passasse. O/a desgraçado/a tinha que ali estar de noite e dia a animar os visitantes e que, ainda por cima, era obrigado/a a responder aos comentários que se faziam chegar. Chegaram a ser às centenas.

No final, provavelmente exausto/a e bem tocado/a, o/a pobre diabo passava o testemunho do próximo ao visitante mais participativo e, a coisa por assim dizer, passava de blog em blog até a malta se aborrecer e partir para novas iniciativas. Claro que copiei a ideia. E como na altura os blogs portugueses estavam mais virados para a guerra do Iraque, a brincadeira nem de perto nem de longe teve o sucesso com que a minha amiga Civana fazia o dela. No entanto, com os vinte ou trinta, já não me lembro, que por lá se fizeram representar, divertimo-nos à brava.

Isto vem a propósito de quê?
Vem a propósito que o meu amigo António Peciscas se lembrou de me atribuir, e a mais outros quatro bloggers, o prémio “Blog com Tomates”. É mais uma cadeia que rola em cadência nas pessoas que se tornaram amigos pela escrita. Agora para dar continuação à coisa, já é mais difícil. Primeiro, porque escolher alguém que nos toque mais de perto e que “lute pelos direitos fundamentais do ser humano”, como refere a origem desta menção, é complicado. Segundo; designar cinco que conheçamos já é mais fácil, mas peca pelo número escasso que nos é permitido nomear porque são imensos. No entanto, as minhas nomeações para receber este Prémio são:

- Tupiniquim

- Memórias do Cárcere

- Sidadania

- SolidariedadeBlog

- Netescrita

Mas haveria mais. Muitos mais, que fazem ver que vale a pena lutar pelos direitos e conquistas contra as desigualdades, injustiças, precaridades e desenquadramentos que presenciamos a toda a hora. Quer na saúde, no ensino, na justiça.

23.5.07



A Candidata

Esta candidata, parecendo a mais fácil de todas, é a mais difícil a quem posso contrapor o que quer que seja de irrazoável.
Para além de ser a suposta eleita que fará com que o meu círculo de vida termine com dignidade, é a “pikena” que mais pachorra teve nos meus excessos e conceitos. Os meus filhos sabem disso, e nada melhor que um dia vinte e três para dar a conhecer certos parâmetros. Desenganem-se todos aqueles que possuem de mim um retrato colorido.

Sou intolerante, ditador, tipo de gajo que acredita que o pensar dele é o mais certo. Considero-me atrevido e sem funções qualificadas, esperto ou parvo consoante os dias em que se vai sobrevivendo. Penso ser ateu, de esquerda (ou o que isso queira dizer), e ainda creio no Benfica e na boa-vontade de toda a malta em quem acredito diariamente. Mesmo, mesmo, desde pequenino. No entanto, todos os defeitos de quem ama alguém ou alguma coisa acompanham-me desde que nasci.

Sempre gostei de pobres, de animais abandonados, de causas perdidas. E hoje em dia, mesmo sabendo que as pessoas conotam e avalizam pelo que ouvem ou lêem nos blogs, não temo dizer à boca cheia que gosto de crianças. Pode provar-se pela família numerosa que consta no meu registo paternal, pelas lutas laborais e políticas que travei, pelos cães que sempre tive e gatos que agora tenho. Pela vontade com que me dispus ajudar, logo que possa, os que estão mais à rasquinha.

Pode trair-me uma paragem cardíaca, o vinho alentejano, a visão que tenho das coisas falsas. Podem trair-me as horas extras de trabalho ou as sensações que concluo serem normais em dias a que não posso responder. Mas o que nada me pode trair, é a certeza que tenho nesta minha candidata que me promete, e cumpre, um final feliz.

17.5.07



O Candidato

Para o melhor e para o pior, qualquer português é um eterno candidato.

Retratando-me pelos que já conheço, sei de fonte segura que desde o início do crescimento dos primeiros pêlos da futura barba que muitos depois passam a odiar, somos logo candidatos ao melhor partido da terra; ou seja, a miúda mais bonita que alguém alguma vez já viu. E temos largas experiência no assunto; fomos candidatos ao maior pão com chouriço do mundo, aos maiores fundos comunitários e, a crer no desafio de Blatter, somos candidatos a um dos próximos Campeonatos do Mundo de Futebol. O que me fez logo relembrar noutra vertente, o Benfica; o candidato a maior galáctico à face da terra.

Pelo sim pelo não, e entretanto, o termo candidato é “aquele que aspira a emprego ou dignidade; o que solicita votos para ser eleito para um cargo”, diz o dicionário. Mesmo que o cargo não dignifique toda e qualquer candidatura, mesmo assim, gosto da expressão. Soa-me a cândidas promessas, infelizmente candidatas a caírem em saco roto, como qualquer candidato que se preze gosta de salientar nos seus desaires.

Para quem conhece bem o país e os portugueses, não pode desmentir que numa simples matança do porco a candidatura de haver festa começa logo antes de trazerem o animal da loja, onde provavelmente nasceu, e no qual era o candidato número um para o destino que lhe estava reservado: presunto, salpicão, chouriça. Febras, coiratos e rabinhos com feijão encarnado.
Tal como um tipo qualquer, a acontecer num simples bailarico de aldeia, se se meter com a nossa namorada candidata-se a levar um murro nos cornos e a sair dali em maca. São assim mesmo os candidatos, e não há volta a dar. Porque falar dos ditos nos tempos que correm, qualquer estudante em disciplinas abrangentes e contemporâneas, candidata-se à nota máxima. Tudo pela urgência da teoria. Tudo pela mensagem que um candidato a qualquer coisa quer fazer passar.

E neste caso, não sei se fiz passar a minha. Quer a mensagem, quer a candidatura. De qualquer das formas, e até ver, permito-me pensar que me candidato a que ninguém passe cartão aos disparates de um candidato a candidato. Depois de ler o que um que nunca o foi tivesse dito:

"O pior analfabeto é o analfabeto politico. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, (...) do sapato e do remédio, depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista. O charlatão, o corrupto, o lacaio, os exploradores da malta que vota neles."
Bertolt Bretch

24.4.07



Por vezes me interrogo se comemorar Abril ainda fará sentido.
A distância que me separa de 1974 é cada vez mais longa. A imagem menos nítida. O som das botas na calçada menos sonoro e estou a envelhecer ao lado duma esperança que nunca dali saiu.

Falta-me o vigor dos vinte anos com que assisti à queda do regime. Perdi já o fulgor da juventude entusiasmada naquele sobe-e-desce constante pelas ruas de Lisboa. Deixei de ver realizadas as promessas que a nova ordem das coisas apregoava.

Em dados momentos, é-me desagradável constatar que perdi o rasto dos poetas e dos pregões. É-me penoso pensar que, passados trinta e três anos, o meu povo continua cómodo e casmurro. De cinzento vestido. Desgarrado e triste. Obeso de formas consentidas.

Em mim entristece-se-me a figura. Falta-me o brilho dum olhar novo. Rareiam as causas em que acredito.
Provavelmente, estarei azedo. Desiludido e parvo.
Mergulhado talvez na dúvida se Abril ainda terá razão de ser.

18.4.07



18 d'Abril

Fazer anos é como rever capas de discos já usados. Páginas a preto e branco onde se apontam datas e rabiscos que escondemos. Coisas raras que guardamos.

E em todos eles, sentimos a proximidade com quem já estivemos.
Existem retratos que provam quem amamos e beijámos todos aqueles que nos seguem. De quem ouvimos o primeiro choro, a primeira palavra que disseram e o primeiro andar.
Mas fazer anos, é ir mais longe. É dar pulos sem olhar para trás. É dar um passo a mais na direcção de um abismo que nos espera. Logo ali. Num traço de caminho da linha recta que nos foi dado a percorrer.

Fazer anos, também é um imenso mar de gentes e lugares que nos marcaram. É o tic-tac do relógio que nos vinca o andamento. É o minuto seguinte à nossa espera e a vontade de ultrapassar mais uma barreira. Sem cabelos alvos e de medos assustadiços. Soletrando os dias já passados como decorados já estivessem.

Fazer anos faz a prova que acontecemos. De ter aproveitado o que a própria vida deu e ensinou. De conseguir dizer nas palavras do poeta: “Eu vivi!”.
Por isso, um ano mais me aconteceu.

E fico grato por tanta gente boa ter em meu redor. Como agora. Onde ao contá-los, verifico que ultrapassam os anos que já fiz.

Parabéns Thita. Parabéns mano. Parabéns Lourenço.

10.4.07

Por muitas razões que nos levem a ausentar do nosso próprio espaço, há uma que nos leva a ter em conta: as amizades que fizemos virtualmente.

A Cinda, tal como todos os outros que tenho ali ao lado, não fogem à regra. Preciso é de mais tempo para os acompanhar.
Vai daí...

30.3.07



O fim do mês
(leitura não aconselhada a pessoas demasiadamente sensíveis)

Pelo discurso governamental que oiço diariamente, até parece que vivo num país em crescimento constante. Não me parece. De há uns tempos a esta parte, além do Dia 23, é o fim do mês que me traz maior encanto. A sério.
Um gajo vê-se em palpos de aranha para pagar os compromissos com a compra da casa, do carro, dos cigarros desalmadamente fumados em nervoso miudinho, e à rasca para poder comprar um bom vinho tinto alentejano. Um gajo vê-se grego para que lhe aumentem o ordenado, para que lhe dêem mais trabalho, para que lhe proporcionem novas oportunidades de ir buscar mais algum. Mas a coisa está preta e é no final do mês que os neurónios têm quarenta e oito horas de descanso.

Dando ao coiro quase todos os dias 14 a 16 horas sem paragens, vejo-me de aflitos para fazer face a esta merda da vida que levo. Por vezes me interrogo se estar na situação do Zé “Prisas” Amaral não seria melhor. Pelo menos, como ele diz, e com toda a razão, tem-se cama, mesa e roupa lavada. E nunca se estará preocupado com despesas, acrescentaria eu. Para além de existir a probabilidade de ficar bem na vida se o golpe tiver sucesso.

Já sabia que Portugal é um país de fantasistas. De desenrascados. De malta que faz das tripas coração.
Mas foda-se! Já chega. Sou fantasista, desenrascado e faço trinta por uma linha para ter um fim de vida descansado.
O que não sei fazer… é milagres. Seja com um, ou com dois éles.

Por isso, já estou naquela de pedir às senhoras da limpeza do local onde trabalho papel higiénico para trazer p'ra casa.
Não por comer ou cagar em demasia. É apenas um princípio de poupança nas voltas ao estômago que esta política me dá.

23.3.07



Carta de Amor

Mais um dia vinte e três como tantos outros que ao longo destes anos de blogs comemoro e te dedico. Só que desta vez resisto ao trocadilho do Impulse (passe a publicidade) com que costumo brincar, e vou tentar escrever-te sobre coisas sérias em vez de te oferecer perfumes ou flores por este meio.

Se bem me lembro, como dizia Nemésio, o número em si sempre fez parte da minha vida. Tu sabes, mas dou alguns exemplos simples e avulsos:
1 - Quando era miúdo, meu pai jogava a sorte do rumo da vida dele com esse número nas rifas e nos cartões dos candongueiros, e volta e meia lá lhe saía alguma coisa e havia festa. Rancho melhorado, um brinquedo novo, cantares alentejanos até às tantas. E foi com estas pequeninas coisas que me fui apercebendo que a vida não é fácil.
2 - A soma dos dois coincide com o número da sorte na minha carta astrológica, mesmo sabendo que tais cartas valem o que valem e que não nos regemos por aí.
3 - A troca dos mesmos permite-me pensar que foi nesse aniversário do meu nascimento que compreendi os sonhos de uma vida melhor que todas as pessoas podem ambicionar.
4 - Por fim, foi a um dia vinte e três que deste mais sentido e significado à razão da cumplicidade humana. Tive a sorte de te encontrar e és a estabilidade emocional que sempre quis.

As coisas sérias, inicialmente referidas, são que nem todos os casais se perfilam pelo mesmo diapasão. E isso é que me dói.
Neste cantinho da nossa sala de onde te escrevo, muitas vezes assisto e reflicto sobre exemplos que fazem parte da nossa sociedade, dos nossos amigos comuns, de gente que até nos próprios espaços bloguísticos que acompanhamos mais de perto, os sabemos: casamentos curtos desfeitos em menos de três pancadas.
E lamentamos as vidas desfeitas. A dificuldade de nem todas se prestarem a começar do zero.

Ao contrário do título que dei ao que te escrevo, isto não é uma Carta de Amor! Mas podia ser.
Porque mereces todos os dias vinte e três que eu possa inventar.

19.3.07

Dia 19 (clique para ouvir Chico Buarque)

Lembrar-me do meu pai não é difícil. Cada vez que o faço recuo no tempo e chegam-me à memória retratos de família: aquele afago, um carinho, um chupa-chupa como prémio por me ter portado bem.
Homem simples de raiz alentejana, marcou-me sempre. Quase anónimo, pobre de finanças e analfabeto, batia solas em busca do sustento e fazia versos que não escrevia. Cantarolava modas da sua terra de Odemira e vivia um dia de cada vez.

Sabendo da importância que uma mãe tem na vida duma criança, do pai fica quase tudo. Copiamos a figura. Imita-se-lhe os gestos e segue-se-lhes as pisadas. Mesmo depois da incontornável separação que a própria vida nos impõe em dada altura, o pai é sempre a primeira moldura que se vê quando se abre a porta da nossa nova casa.

Por isso, hoje recordo o meu.
Arrependido apenas por não ter conseguido viver mais tempo ao seu redor e, como sempre nas limitações dos mortais, não poder voltar um pouco atrás.
Mas nada podia fazer. A morte levou-o cedo.
Cedo demais, presumo eu.

14.3.07



“Hoje não me apetece escrever” podia ser um resumo simples que serviria apenas para optimizar a actualização do novo blogspot que só veio complicar. Mas não é. E não sendo um tipo de falar muito, há sempre qualquer coisa que me atrai nas palavras. O sentido, o significado, o som e a cor que elas transmitem deixam-me para aqui a ler e a escrever sozinho.

Por ordem das coisas, passados que foram já uns anitos, os blogs vieram substituir as minhas bic laranja e bic cristal. As minhas folhas A4 e a minha velhinha máquina de escrever. Nessa aturada fase de afirmação pessoal eu era um ditador. Era tudo meu, como acabei de confessar, e até os disparates que escrevia ficavam escondidos para mais ninguém os ler.

Actualmente tudo mudou. Desnudei-me de certas peças. Despi-me. E mesmo que não se veja nada de extraordinário e os disparates continuem, sinto que a inaptidão ao mundo escolar de outrora, em certas áreas, podia ter sido melhorada caso tivesse a sorte de ter Professores como a Emília Miranda.

Isto quer dizer o quê?
Quer dizer que havendo vida para além de Marte, existe também uma realidade que o jet set dos bloggers, como lhes chama o nosso conhecido Jumento (link ali ao lado), menosprezam ou votam ao ostracismo: os blogs editados por crianças e para crianças. O Netescrita, entre outros que fui descobrindo, é um deles e um exemplo.

Com a particularidade daqueles putos andarem nestas coisas há três anos.
Parabéns Emília!
Parabéns Netescritores!

10.3.07



Depois de ter passado o meu tempo primaveril a tentar focá-las (para não utilizar outro palavrão sexualmente mais desonesto), reconheço que a Mulher é, foi, e será sempre, uma pessoa fundamental nas nossas vidas. Os bloggers mais jovens que se pronunciam sobre estas coisas podem vir a descobrir isso mais tarde mas, posso deixar já registado que, quando chegarem a essa conclusão, provavelmente, já terão meninas pequeninas a quem querem dar o melhor para o futuro delas.
Aí, vão ter que contar com outras já maiores. As tais que escolheram para companheiras duma vida.

Pensando bem, uma pessoa nasce e cresce com a atenção e os cuidados duma Mulher, certo? Seja mãe, tia, avó, a vizinha da frente ou a que estiver mais à mão. Qualquer de nós, homens, teremos sempre uma relação forte com uma Mulher para contar, historiar ou definir. Quer seja no bom ou mau sentido.
Uma Mulher pode marcar-nos a ferro e fogo. Por acréscimo ou defeito, uma Mulher pode acrescentar-nos mais-valias ou problemas que nunca mais na vida saberemos solucionar. A Mulher em si, acredite-se ou não, é a pessoa com mais poderes e encantos para destinar a vida de qualquer um. E tenho as minhas já escolhidas.

Por isso, eu não tenho dia certo para as poder comemorar. Gosto de todas elas e pronto. A qualquer hora. A qualquer dia.
Basta-me que sejam as Mulheres da minha vida.

23.2.07

Como se calcula, a maior parte dos bloggers não fazem vida disso. Escrevem e contam estórias apenas por prazer e passatempo. Transmitem pedaços da sua própria vida e trocam impressões, sorrisos, abraços virtuais que nos fazem descobrir a fórmula de sermos melhores pessoas. Criam amizades e outros laços afectivos como se desde pequeninos se conhecessem. Marcam encontros, almoços, e jantam em simples cavaqueira e reinação. Celebram datas que os marcaram a todos e trocam opiniões.
Este dia vinte e três não foge à regra, e hoje considero-o especial.

Para além de vincar sempre que posso a relação com a minha companheira nesta data, faz hoje vinte anos que morreu o Zeca Afonso. Isto lembra-me logo uma data de comunistas e poetas de quem fui, ou sou, compincha. Isto leva-me logo às calças à boca-de-sino e ao cabelo comprido a chegar ao meio das costas. Isto leva-me no comboio descendente e ao trazer mais um amigo. Às reivindicações, manifestações, e muitos encontrões e chibatadas de uns senhores de escuro vestidos.

O Zé estará para os putos da minha rua e geração como o Benfica esteve para os insatisfeitos da minha cidade. Coisas distintas é certo, mas que por qualquer razão que nem só os psicólogos sabem explicar, eram motivos mais do que suficientes para nos fazer pôr a pensar, a mexer e a gritar.

Zeca Afonso é, foi, e será sempre, um marco na minha formação como pessoa. Igualmente como os meus filhos e netos, ou as alegrias e tristezas que preenchem as vinte e quatro horas de todos os dias que continuarão até ao final dos outros que ainda me podem sobrar. Tal como os bloggers, essa rapaziada que escreve e contam estórias reais. E que me ensinam a ser melhor pessoa.

13.2.07






RTP 50 ANOS

São estas pequenas coisas que trazem à realidade quantos anos já passei.
Impossibilitado na escolha de ser filho do Estado Novo, sinto-me um dos netos do 25 de Abril. Só que já cá moram quase cinquenta e três e nem sequer ando a dar por isso.

O facto da RTP comemorar meio século levou-me a lugares longínquos no tempo. Nasci ao lado dela e retenho gratas recordações daquela infância.
Para quem não sabe, a minha escola na Rua de Santa Marta “dava” o dia 7 de Março. Dia maioritariamente dedicado aos miúdos. Muitos desenhos animados e muitos filmes. Estarei avulsamente a recordar o gato Silvestre e um outro com uns olhos muita grandes, o Bugsy Bunny, o Coyote, eu sei lá…, só sabia que aquele dia era o dia de fazer “campismo”; almoçava, lanchava e jantava no tapete que estava em frente da televisão.

Sendo de origem humilde, no entanto, tive a sorte de viver os meus primeiros anos na casa da minha tia Esperança. Uma minhota finíssima de trato e de perspicácia incomum que nos deixou faz pouco tempo. Mulher independente, acima da classe média em termos financeiros, que me permitiu desfrutar de oportunidades fantásticas que a maioria dos miúdos da minha rua ainda não tinham. A caixinha que mudou o mundo foi uma delas e comecei a formar-me com o Ivanhoe, com o Robin dos Bosques e com o Oliver Twist, entre outros. Pequenos momentos mágicos (link) da minha vida que ajudaram a lapidar o que hoje sou: uma completa miscelânea maluca daquela década.

Por isso, antes que passes o “Vamos dormir”, obrigado RTP!
Por tudo.

2.2.07



À pergunta do referendo sobre o aborto quem vota Sim ponha o dedo no ar!

Claro que a questão colocada deste modo, até parece estou a reviver os excessos daquela juventude revolucionária de que fiz parte. Mas com o passar dos anos, a malta vai adquirindo mais e mais conhecimentos, mais e mais experiência, e chegamos a um ponto onde podemos dar palpites qualificados. Daqueles que já nos passaram pelas vidas, daqueles encontros fortuitos, e daquelas camas feitas à pressa e mal-amanhadas, só para podermos dar a cambalhota do século com a miúda que engatámos naquela festa, praia ou discoteca, e depois se tem azar.

Calhou-me ser um dos felizardos desses azares cometidos por essa mesma juventude que, e diga-se em termos abonatórios, não é muito diferente da de hoje. No entanto, as soluções não tinham nada a ver com as que existem nestes tempos, onde as coisas correm mais depressa, e decidimos (eu e a secular chavala) fazer abortar o fruto daquele amor acalorado. Faria talvez hoje, ou amanhã não sei, 34 ou 35 anos se tivesse vindo a nascer e seguisse o mesmo rumo dos sete que vieram a seguir. E que continuam vivinhos da costa, graças a todos.

Dois contos e quinhentos foi quanto aquele risco me custou. (mentira, foi a minha mãe que ardeu)
Mas agora o país modernizou-se. As relações sexuais, mesmo que fortuitas, são mais cuidadosas devido à informação que se possui. Mais programadas em termos de saúde e higiene. Para "desgraça" da paixão assolapada que nos estava à flor da pele naquele tempo e que era tudo ao molho e fé em deus (hehe...).

De qualquer forma, não faço nem quero fazer, parte activa de qualquer Movimento. Primeiro, porque existem lacunas que o Estado ainda não clarificou no que diz respeito ao aborto que se está a tentar discutir, e eu nestas coisas desconfio imensos destes gajos. Dos outros também, é óbvio. Segundo, porque, na minha opinião, é às Mulheres deste país a quem cabe esta palavra final.

Só que pelo meu lado, gostaria que aquela cave da “Luciano Cordeiro” não se repetisse, e que o futuro que está nas mãos desta juventude nunca mais tivesse que subir aquelas escadas às escondidas.

27.1.07



Ela convenceu-me (link)

Desde miúdo fui sempre adverso a comprimidos. Ainda hoje, quando alguma dor de cabeça me chateia a cornadura (sou Carneiro) ou alguma parte do corpo onde me doa, evito os “melhorais”, os simples “cêgripais” e outros caldos de galinha. No entanto, a Herbalife entrou-me pela casa adentro acerca de um mês e a coisa está a mudar de figura. Eu explico.

Para além de uma pessoa séria e cem por cento cool, a minha "pikena" preocupa-se com a saúde dela e minha. Com a dos filhotes e dos netos, e até com a da empregada da limpeza ou a do meu vizinho da frente, que é o meu parceiro de snooker cá do bairro.

Na realidade, sou testemunha directa que “aquilo” só está a trazer vantagens a quem toma. Em boa medida, até eu já me sinto menos cansado desde que comecei a engolir diariamente o “Omega” não sei das quantas. Desde simples dores de cabeça, perda de peso, pele limpa e saudável, fortalecimento das paredes intestinais e outros etc’s., aqueles produtos nutritivos e naturais operam milagres. Acho que só não faz nascer os dentes novos que já ando a precisar.

Por outro lado, não menos interessante para as pessoas mais materialistas, o investimento em se ser distribuidor/a independente destes produtos fantásticos não é exorbitante, e rende muito mais por centos do que qualquer banco “dá”. (aqui, sou eu a puxar a brasa à minha sardinha) Faz-se na passada, como os representantes da empresa dizem. Mas para essa fase resultar é necessário ter mais perfil do que qualquer vendedor de viaturas usadas. E ela tem.

23.1.07



mais um dia 23, amor
que de tanto o amar
me envolvo
perdidamente

e de me achar tão certo
valho-me do saber
que de te amar eternamente
nunca sei quando me perco

20.1.07



Cortaram-se os festejos!
Eu tive sorte porque demoraram um pouco mais do que é normal na maioria da rapaziada que anda por estas bandas. Nem todas largas, mas dá para desenrascar qualquer cumprimento que se queira dar aos que de mais de perto acompanhamos nesta brincadeira dos blogs.

Já cá venho! Ou melhor... já aí vou.

6.1.07



Presentes

Desde o século XIII, as encenações do Natal de “nuestros hermanos” tem sido um dos aspectos mais conhecidos das celebrações espanholas. País com forte tradição católica e talento para realizar festas religiosas tradicionais, desenvolveu muitas maneiras de comemorar aquela noite especial. Uma delas, ao contrário do que acontece em Portugal, é serem dados os presentes na manhã de 6 de Janeiro, “Dia de los Reyes”.
Para além disto, os festejos são particularmente dedicados às crianças. Em Madrid, por exemplo, iniciam-se junto à Puerta del Reloj com o desfile de carros alegóricos de figuras alusivas à quadra, com os Três Magos distribuindo doces e caramelos entre a multidão.

Neste dia, a família reúne-se à volta da mesa saboreando “roscón de reyes”, o bolo-rei deles, e mantêm a tradição de quem achar a fava será rei por um dia. Quem sabe se hoje não me tocará a mim? (que de espanhol não tenho nada)


Agradecimentos a:
Wathctower e Novo Milénio (fontes históricas)

Márcia Maia (E À Mais Bela Princesa de Além-Mar)

quase um poema de natal


eu queria um natal sem luzes
sem sinos sem coroas sem presentes
sem festas de confraternização
onde se repete quase escandindo
(e à exaustão) a palavra so-li-da-ri-e-da-de

eu queria um natal mais solstício
que natal — um natal pagão —
um natal simples sem palco
onde a gente ousasse ser apenas gente
como a gente que a gente é nos outros dias


Jorge Castro (Poema Inédito)

não te digo do natal coisa nenhuma
do natal enfeitado a sumaúma
que se arruma em cada ano nalgum canto

não te digo do natal em mar de espuma
esse efémero natal-coisa-nenhuma
quebradiço a ter-de-ser e sem encanto

não te digo do natal de coitadinhos
nem daquele de nós todos tão sozinhos
conformados sem ter sonhos nem espanto

não te digo do natal feito de prendas
num afecto leva-e-traz que me encomendas
e trocamos cada ano em qualquer canto

mas te digo um natal fio de seda
do casulo entretecido que te enreda
e te leva ao riso ao sonho em doce encanto

digo ainda do natal feito de enlaces
desfiando o casulo onde renasces
enlaçando cada ser por valer tanto

digo então um natal que desse fio
deslassado mundo fora como um rio
nos envolva a todos nós num acalanto

mais te digo do natal de um outro início
celebrando a nova esperança o solstício
recriado em nossa voz num novo canto.


Morfeu (Cartão Festivo)

Peciscas (Cartão de Natal)


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