Pequenos contos esquecidos
"...O maior erro do ser humano, é tentar tirar
da cabeça aquilo que não sai do coração..."
Um dia, Severino Monte, rapaz pobre que vendia mercadorias de porta em porta para pagar os seus estudos, viu que só lhe restava uma simples moeda de dez cêntimos e tinha fome. Decidiu que pediria comida na próxima casa. Porém, os seus nervos traíram-no quando uma encantadora jovem lhe abriu a porta. Em vez de comida, pediu um copo de água. Entretanto, ela pensou que o jovem parecia faminto e na vez do copo com água deu-lhe um copo com leite.
Ele bebeu devagar, enganando a fome.
- Quanto lhe devo? - perguntou no fim.
- Não me deves nada - respondeu ela. – A minha mãe sempre me ensinou a nunca aceitar pagamento por uma oferta caridosa.
- Agradeço-lhe de todo o coração.
Quando Severino saiu daquela casa, não só se sentiu melhor fisicamente, mas também a sua fé em Deus e nos homens ficou mais forte. Ele estaria resignado antes a render-se e deixar tudo. O trabalho. Os estudos. Até a própria vida.
Vinte anos depois, essa jovem mulher ficou gravemente doente.
Os médicos locais estavam confusos. Finalmente, enviaram-na para uma grande cidade, onde havia um especialista da sua rara enfermidade.
Quando leu o nome da aldeia de onde ela viera, uma estranha luz encheu os seus olhos. De seguida, vestido com a sua bata de médico, foi ver a paciente e reconheceu imediatamente aquela mulher.
Determinou-se a fazer o melhor para salvar aquela vida. Passou a dedicar-lhe uma atenção especial e uma demorada luta pela vida da enferma, travou. Ganhou a batalha.
Passado o tempo do total restabelecimento, Severino Monte pediu à administração do hospital que lhe enviasse a factura total dos gastos. Conferiu, e mandou entregá-la no quarto dela juntamente com duas rosas.
Ela tinha medo de abri-la porque sabia que levaria o resto da sua vida para pagar todos os custos da sua operação. Finalmente decidiu-se e abriu o envelope. Tinha algo que lhe chamou a atenção. Por baixo dos muitos dígitos tinha uma pequena mensagem:
"Totalmente pago há vinte anos com um copo de leite.
Severino Monte.”
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