18.10.06

Por falar de amigos…


Uma recente pesquisa no Google deu-me a conhecer outra variante de como podem funcionar os blogs: em Solidariedade.
Não que desconhecesse essa vertente. O blog com o mesmo nome pode falar por ele, como tantos outros que se prestam a igual virtude. No entanto, a pesquisa levou-me até aqui.
Isto fez logo com que recordasse um dos primeiros casos que aconteceram aos bloggers portugueses. Temo que a Dânae (do Verso Explicito) se tenha também finado em 2004/05 devido a uma doença prolongada. Tal como Fernando Campos (ainda tão recente), do qual sinto saudade da leitura dos seus textos e da nossa cavaqueira sobre os netos e os filhos e da luta contínua no melhorar da nossa própria vida, no Messenger.

Parecendo que a vida continua – claro que terá de continuar – estas coisas mexem comigo (provavelmente é mais um trauma), e levam-me a pensar diferente sobre a vida e a morte. Sobre os que se movem e perpetuam até um dia neste sistema de contacto virtual.
Este raciocínio levou-me a dois casos ímpares: O Memórias do Cárcere e o Sidadania.

Dois casos diferenciados, mas com ligações subsequentes entre si; um está preso por delito, o outro preso está, na tentativa de minimizar os estragos da doença de que padece. Mas têm os dois o mesmo objectivo: divulgar a sua própria situação e alertar os outros para que se previnam das causas do estado em que se encontram. Sem tabus, sem medos. Por vezes até, sem retóricas académicas.

Ao contrário do que tenho afirmado, esta “brincadeira” dos blogs é um caso sério.
E não preciso esperar pelo Natal para reconhecer que é necessário dar-lhes um abraço. Extensivo a todos quantos desta imensidão humana fazem parte.

Hoje especialmente dedicado à minha Mãe,
minhota dos costados todos (Paredes de Coura) que perfaz a módica vivência de 81 anos, a quem faço alongar tal gesto,dedicando-lhe este poema de José Carlos Ary dos Santos:


QUEM DISSE QUE MORREU A MADRUGADA?
QUEM DISSE QUE ESTA NOITE FOI PERDIDA?
QUEM PÔS NA MINHA ALMA MAGOADA
AS PALAVRAS MAIS TRISTES QUE HÁ NA VIDA?

QUEM ME DISSE SAUDADE EM VEZ DE AMOR?
QUEM ME DISSE TRISTEZA EM VEZ DE ESPERANÇA?
QUEM ME LANÇOU A PEDRA DO TERROR
MATANDO O CANTADOR E A CRIANÇA?

QUEM FEZ DA MINHA ESPERA DESESPERO?
QUEM FEZ DA MINHA SEDE TEMPERANÇA?
QUEM ME DANDO TUDO QUANTO EU QUERO
DA MINHA TEMPESTADE FEZ BONANÇA?

QUEM AMAINOU OS VENTOS DO MEU CORPO
E SACIOU O MAR DA MINHA FOME?
QUEM FOI QUE ME VENCEU DEPOIS DE MORTA
E SOLETROU AS LETRAS DO MEU NOME?

QUEM FOI QUE ME FEZ SERVA SEM SERVIR?
QUEM FOI QUE ME FEZ ESCRAVA SEM QUERER?
QUEM FOI QUE DISSE QUE EU PODIA IR
TÃO LONGE QUANTO NÓS PODEMOS SER?

APENAS QUEM ME VIU CALADA E TRISTE
E DESPERTOU EM MIM UM MUNDO NOVO!
APENAS A ESPERANÇA QUE RESISTE,
APENAS O MEU SANGUE, APENAS O MEU POVO!

Sem comentários: