1.2.05



Ainda sou do tempo…

Hoje tenho vestida a minha farpela de sociólogo de meia-tigela. Não apenas para ter uma aparência diferente, mas porque a outra, a de operário, foi para lavar.
Já velho e cansado destas coisas da política, lembrei-me (faz hoje anos) que o Costa e o Buiça deram uns tirinhos para alterarem um regime.
Desta vez, no dia 20, Portugal, ou melhor, os portugueses vão dar tirinhos não para a mudança do dito mas, muito provavelmente, escolher outro chefe de governo.

Ainda sou do tempo em que os valores que despertavam nas pessoas a vontade de se expressar pelo voto eram a honestidade, a honradez e os ideais que os candidatos a tal cargo possuíam e com seriedade os defendiam.
Mas o "people" olha para estes tipos e fica logo a bater com "eles" numa lage. Não apenas pela forma como se degladiam, mas pela expressa falta de vergonha na cara, pela baixeza e a deselegância nos ataques pessoais, por golpes sujos e outras vilanesas, pela merda dos argumentos que arrastam atrás de si e pelo palavreado que alardeiam e nada muda.

Ainda sou do tempo em que os melhores políticos eram bem formados e as "promessas" que faziam não ultrapassavam o irreal. Ainda sou do tempo em que os políticos tinham um passado. Limpo. Cristalino e coerente. Sem correr o risco de lhes apontarem esquisitices, devaneios ou comportamentos que nunca podem ser de exemplo. Onde a arrogância e a prepotência logo ficavam banidos à partida , por quem de sol a sol fazia a sua vida.

Houve tempo em que lutei para acabar com a submissão implícita daquela gente e incentivar a liberdade no indivíduo como tal. Mas os tempos adulteraram-se e a escola destes gajos transformou-se. Por isso, não me admira que este povo transforme esta "cena", que devia ser bastante séria, numa palhaçada de risada à boca larga.
Diria mais: eles não sabem ou já não se lembram, que ainda sou do tempo em que umas trolitadas bem assentes faziam impor respeito e davam dignidade a quem assim lutava.
"à Buiça", se preciso fosse!

Mas... os tempos são outros agora.
Vá, vão lá votar, enquanto vou ver se a farpela que vesti ontem já está seca.

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