24.2.12

Um dia destes

será um dia do meu último brasão
da minha voz embargada de emoção
de palavras emocionadas com paixão

um dia destes…
vou chorar de comoção
responder a coisas sem noção
e permitir-me dizer não.

um dia destes…
perseguido pela ocasião
deixo de dançar embriagado
deixo de pensar estonteado
se perceber uma nova solução

e assim acabo
num dia destes…
de andar constantemente angustiado
por uma nova madrugada
que nos faça dizer nada e tudo
no imenso mar de medos alagado
para melhor futuro

7.2.12

Bicentenário


Acordei tão estremunhado que senti quando pus o pé no chão que hoje era um dia especial. Não me enganei e a Google recordou-me desse facto.

Se devo a muitos aquilo que sou agora, Charles Dickens figura na minha elite, pequena e curta, dos que me ensinaram a viver e a sentir.

Foi com ele que percebi melhor os meninos pobres da minha rua.
Foi por ele que entendi a ganância dos mais fortes.

Muito antes de começar a ler na escola e os títulos grossos nos escaparates dos jornais - a "A Bola", o "Diário Popular" e a "República" são mais exemplos - o meu grande amigo imaginário era Oliver Twist. Camarada e franco. Franzino como eu e atrevido. Nada nos fazia frente. Nada temíamos e víamos o mundo como mais um obstáculo que teríamos que ultrapassar.

O engraçado da coisa é que não tenho sequer um livro dele na minha estante. Deio-os todos a quem tentei ajudar na formação de quem mais amo: os filhos. Mas não dei nunca a grata memória que tenho dele. Na leitura simples de muitos anos que o meu próprio coração faz questão de seguir sempre. Nas desigualdades dos oprimidos.