23.5.10




A cada dia vinte três não há causas nem lutas que me motivem.
Fica apenas um registo crédulo dum poema que escrevi. E a canção.
Só para que conste. Porque que o passado não se apaga da memória facilmente.




A morte que me matou
foi à traição.
Sem avisar.
Esventrando-me a existência
dos poemas que fazia
a dizer não.

A morte que me matou
não tem sentido.
Fez-me perder o rasto do caminho
e as palavras
que da boca com que ria,
dizer já não consigo.

De noites seguidas e várias luas
desapareceram os mares e os abismos
e já não sei os trilhos onde ela passou.
Quebraram-se-me os vidros
e as portas abertas dos meus muros e castelos.
Apenas sei que foi a dela, a morte que me matou.

9.5.10

No almoço das pataniscas, já descontraídos e com a loiça lavada. "2008 p'raí". Foi a última foto dela que lhe tirei.




Na escalada das coisas que acontecem, e na forma de reconhecimento a uma Poeta, aqui ficará gravado, e/ou recuperado, em forma de post um dos poemas de que mais gosto de Helena Domingues. A minha, a nossa, Nucha.

Será o mínimo que poderei fazer para recordar sempre a sua memória.

"Roubou-me o vento ao mar...
Levou-me de viagem...

Fez de mim nuvem passageira,
Sombra escondida,
Estrela cadente de brilho breve,
Caída dos céus sem aviso
E me afundou no teu rio
No teu sorriso

De novo, levou-me ao mar
O meu mar...
Que abafou meu silêncio gritante
E me cantou cantigas de embalar
Que me pegou ao colo
Me conduziu à praia
E a fez brilhar.
E nessa noite escura,
Noite sem luar
Como que por magia
A noite se fez dia

E o areal que de mim fora privado
Transformou-se no mais belo céu estrelado."