5.2.08



Mãe,
quando me deste ao mundo ainda não existia Internet ou blogs e nunca poderias supor, ou imaginar, o futuro que me estava reservado. E eu, que desde pequenino me aventurei a lidar com todas as adversidades do meu e do teu tempo, vejo-me aflito para explicar este teu abandono temporário aos sete netos que, como filho, te dei a conhecer.

Sabes que com palavras sou um fracasso. Sou mais daquele olhar com que se consegue introduzir uma atenção. Um mimo. Um chuchar na teta que me amamentou durante largos meses. Ou um retrato com que se fica de quem sempre nos ensinou a melhorar a sorte que nos calhou. E hoje, consigo colocar-te na posteridade com todas estas tecnologias que por vezes nos confortam com amizades que não vemos, mas sabemos que estão cá.

Já tinha perdido o Pai.
Perdi o calor da cama onde dormia.
Agora perdi-te a ti.

Que mais me irá acontecer?, é o que apetece perguntar.

Provavelmente, serei eu a seguir. Mas juro que não quero levar ninguém atrás.
Irei sozinho um destes dias ter contigo.

Descansa em paz, Mãe!

2.2.08



A morte que me matou
foi à traição.
Sem avisar.
Esventrando-me a existência
dos poemas que fazia
com raiva de cão.

A morte que me matou
não tem sentido.
Fez-me perder o rasto do caminho
e as palavras
que da boca com que ria,
dizer já não consigo

De seguidas luas e noites
não sei dos trilhos onde passou.
Caíram-se-me os abismos.
Quebraram-se-me os vidros
e as portas abertas dos meus muros.
Apenas sei que foi dela a morte que me matou.