27.1.05



Auschwitz - 60 anos

Primeiro eles vieram atrás dos comunistas
e eu não disse nada porque não era comunista.
A seguir vieram atrás dos judeus
e eu não disse nada porque não era judeu.
Depois vieram atrás dos católicos
e eu não disse nada porque nunca o fui.
Quando vieram atrás de mim
já não havia ninguém para falar em minha defesa.
[Martin Niemöller]


Memórias

Chegaram era já noite. Sem aviso prévio.
Levaram-me e tiraram um retrato a preto e branco.
Despiram-me as roupas, roubaram-me acessórios e a alegria que me invadia nessa tarde. Chocalharam-me os ossos e o que restava da raiva que trazia. Humilharam, ofenderam e tatuaram-me na pele um número. De algarismos desiguais na casa de imensos mil.
"ARBEIT MACHT FREI" era o tapete da minha casa nova . Velha e sombria, gelada e sem réstia de esperança de rever o meu país. A família, os amigos e o futuro.
Nas marcas dos carris dos vagões da morte como destino, ouviam-se tiros. Réplicas às respostas dos sins e nões que nunca acertavam nas perguntas. Vazias e vagas. Sem assinatura.
Três anos de amarga resistência naquelas campas sem nome onde havia um esgar de aviso. O último aviso que podiam ter deixado: “sobrevivam!, para que possam contar que aconteceu.”

26.1.05



Estou um pouco mais liberto depois de uma semana complicada.
Quase como todas as semanas. Porque ninguém me afiançou que a vida era fácil.

Consternação
Pelo falecimento do pai da Blue Shell.
Uma das ilustres visitantes recém-chegadas ao convívio deste pequeno espaço, mas que a amizade que se adquire, virtualmente ou não, faz com que pareça que somos todos íntimos. De longa data. E nestas coisas, é como se de família se tratasse.

Percepção
É das minhas vitais qualidades que arrasta consigo um dos meus piores defeitos: o perfeccionismo. Custa-me ter de aceitar que, há medida que a esfera de contactos se alonga, menos tempo tenho para “retaliar”. Não se trata de desculpa esfarrapada. É mesmo assim. Tomara o meu dia ter horas que nunca acabem. Saber de todos ao mesmo tempo e ir ao encontro imediato de quem passa por aqui. Mas não consigo.
Tenho horários compridos, uma família a sustentar, compromissos a que não posso fugir. Mas vai devagarinho. Ninguém está esquecido/a.

Detecção
Soube que alguns dos ilustres candidatos às eleições de 20 de Fevereiro “descobriram” os blogs. Ainda por cima, no “sapo”: um dos piores alojadores de páginas web. Com a agravante de apenas o Ministro da Defesa em gestão ter um sistema de comentários directo. Ele nem calcula os "piropos" a que se pode sujeitar. Mas demonstrou a coragem de que quando era jornalista.
Aos outros, os que o quiserem fazer (ajavardar), colocar dúvidas, sugestões ou mandá-los para um sítio que agora aqui não digo, só por e-mail.

23.1.05



Hoje é dia 23

Eu e esta senhora vamos festejar à moda antiga.
Por isso, depois do trabalho e de um banhinho tomado, vou estrear os sapatos novos. Pode ser que calhe um tango.
Nada de poemas e outras coisas líricas.
Hoje é assim

E nos outros dias também. Xau, até amanhã!


21.1.05



Seixal-Lisboa-Seixal

Numa cidade com mais de um milhão de pessoas entre as oito horas da manhã e as sete da tarde é difícil reconhecermos alguém durante esta viagem.
As pessoas levantam-se absortas, programadas e sem um pingo de alegria nos olhos.
À medida dos seus trajectos, tomam um pequeno-almoço errado e insuficiente, pegam o Destak na estação e dão uma vista d’olhos apressada pela outra informação.
Compram tabaco, uma revista e sentam-se para, em média, cinquenta e seis minutos de pública tortura.
Para muitos, um suplício maior do que o de Tântalo.

Hoje, declaradamente, fiz figura de parvo, mas não resisti olhar nas pessoas os seus tic-tac matinais e saber como que se envolvem nesta viagem.
Por hábito, as pessoas não entabulam conversa. Os portugueses ainda menos. Olham pela janela, distantes, a paisagem que sabem de cor e salteada. Olham diversas vezes para o relógio como se pudessem controlar o tempo que lhes foge. Remexem-se, inquietos, nas curtas cadeiras, suficientemente mini para quem tenha cento e noventa centímetros de altura e pernas longas. E não estou a falar de Naomi Campbell.

Os horários são outra desgraça que afecta quem viaja à procura do pão, do suor e das lágrimas.
As mentes brilhantes das administrações dos vários concessionários nos serviços de transportes, optaram pela redução em vez da dispersão e do método. Conseguem afunilar dez pessoas por metro quadrado. Juntam-nas em magotes de massa humana em movimento lento e levam-nas. Como quem dirige um rebanho opaco, Sempre na pior das horas: a de ponta. Quentinhas, ao molho e obrigatoriamente aconhegadas. Na fé de que um dia destes metade delas se reforme.

Para agravar ainda mais a situação, a maior parte das pessoas não sabe andar de Metro, escada rolante, ou até mesmo saber como funciona, socialmente falando, uma fila na paragem do autocarro.
Devido, quiçá, à múltipla variedade de raças e credos desta moderna escravatura, muito menos se preocupam por onde anda o título de transporte ou se trazem os trocos certos para a compra do ticket. E perdem-se minutos. Horas.
E paciência.

Será por isso que estou sempre desejoso de chegar a casa?

17.1.05



A falta de assunto

Quando assim pensei, notei que a mim próprio me enganava.
A falta de assunto, só por si, já é assunto. Vesgo e parvo, desinteressante e vago, mas é assunto. Tão bom ou melhor do que qualquer outro por onde o mar nos leva.

Bem posso socorrer-me, de entre outros, da Língua Portuguesa.
Essa pátria tão maltratada, e mal tratada, nos seus mais recônditos segredos. “Essa a língua em que por acaso de gerações nasci..."
Ou, melhor podia optar por Torga, o maldito, que “nem sempre escreveu que era intransigente e duro, capaz de uma lógica que toca a desumanidade. (...) e que nem sempre admitiu que estava irado com este camarada e aquele amigo. (...) tal a desgraça de nunca o deixarem estar só, pensar só, sentir só.”
Ou até mesmo de Cervantes. Ilustre andante Cavaleiro em que “ não havia medo em nada e de ninguém” e afirmava aos áureos ventos em generoso acto, que “se nos ladram é porque cavalgamos” e somos “o casto ardor de uma amorosa chama”.

Falta de assunto?
Falta assunto a quem é morto. Jaza cadáver. Frio, enregelado já, pela longa espera da mortalha a quem a “palavra que me lavra, alfaia escrava, de mim próprio matéria bruta e brava, é expressão da multidão que está comigo”. Falta de assunto?
Não!

Sei de Martinus e Adriana Iliescu,
mais Titã e os sons do infinito.
Sei do tremor da terra
e o flagelo sombrio e nu
que me traíu
e que me cega.
O castigo ténue,
o labirinto,
e a palavra vã.
Sei o tom deste ciclo
que não encerra.
Sei da raiva,
da vida pela manhã,
incontida,
foragida,
em vários credos
atravessada,
pela parca
e pobre Liberdade
adulterada
nos dias e horas que atravesso.
Sei de mim.
Do Mundo.
De ti
e do Mar calmo ao seu regresso.
Sei do poeta
e do amigo.
Por isso,
e sem desculpa,
faltar assunto
é coisa que eu não digo.

16.1.05



Apelo à Humanidade

"Tivemos a tristeza de ver recentemente o tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em sete países da Ásia. Sabemos que esse tipo de facto é um acontecimento natural, porém havemos de analisar e acrescentar que a intensidade desse tsunami mostra-nos claramente que o desequilíbrio ambiental é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço em que vivemos para que não sejamos os responsáveis por catástrofes desta natureza."

Continue a ler esta cadeia de solidariedade em Diálogos Fraternos ou Fraternidade.

* Subcritores

13.1.05



Efeitos colaterais
(Como devem calcular, esta generosidade não podia ficar escondida na caixinha dos comentários.)

"Fiz este poema a pedido da Inês, de 8 anos. O poema foi-lhe dedicado, mas a generosidade das crianças deixa que o partilhe hoje contigo (e todos)." *


A AMIZADE

A amizade é:
como o fresco da sombra,
no Verão!
Como a carícia do mar,
ao nadar!

A amizade é:
água que mata a sede,
pão que mata a fome!

A amizade é:
gostar do outro como de nós.
Não o querer mudar.
E como é, o aceitar!

A amizade é:
Estar atento e dar,
ao amigo,
o que de nós precisar!

A amizade é, também:
A VERDADE,
mesmo que doa!
Mas não por QUERER
Magoar!

A amizade é:
Jogar a mão e suster na queda.
É amparar,
presente estar
quando de nós necessitar.

A amizade é RIR!
Rir muito, gargalhar
mesmo sem porquê saber,
se o amigo feliz estiver!
E é também
a capacidade de com ele chorar, mas
principalmente,
ajudá-lo sempre a andar,
pois é vasto o mundo
e longo o caminhar.

* - TMara (01.11.05 - 6:21 am)

12.1.05


Depois da "Rave", arrumar e limpar é a minha tarefa.
Depois irei conhecer os convidados de ontem que tiveram a gentileza de estar por aqui.

11.1.05



De volta ao meu cantinho, descobri em cada espaço acarinhado uma bela primavera que nos vê. E a cada nova descoberta junta-se um amigo, e por cada amigo renascem as palavras que não consigo transcrever.
A vida quase sempre nega as coisas que queremos, deixando-nos, por momentos breves, pensar que podemos ficar com elas. Desta vez, iludiu-me e enganou-se.
Ao vir aqui, senti que recuperei o mundo da minha meninice. O lado bom da minha criancice. O lado forte da minha pieguice.
Fiquei líquido.
Gelo e fogo ao mesmo tempo.
Tornei-me um labirinto de emoções.
Um mar revolto em sentidos variados e dispersos.
Um homem com um deus que não existe ou já morreu, mas ganhou o sol.
Na eterna questão de definir futuros em galhos de copas altas ou em ruas de algodão viscoso e cimento grado, aprendi na vida a não chorar. Da forma que sempre dói.
Mas hoje não consigo, Amigos.

Obrigado.

6.1.05



Vou estar fora uns dias, à boleia.
É.
Sabe bem desanuviar um bocadinho. E nada melhor que descansar a vista naquilo que os outros pensam e escrevem.
Vou ver de protestos e opiniões. Ler novas rimas e saborear imagens desnudadas e sem alma. Vou ao encontro de sinais, coisas pungentes e silêncios. Descobrir programas, encantamentos e sons que se podem ouvir bem fundo. Vou abrir janelas, desencantar amigos. Vou ajudar a perturbar-me, actualizar o raspanete, procurar papéis e deixar um olá por onde passo, e onde for preciso.
Mas volto.
Nem que seja só para verificar se há recados. Ou acenos no final das tardes.

Entretanto, uma pequena referência aos meus últimos ilustres visitantes: Pecola, Joana, Sibylla e ajm, a quem não tenho dado a importância que merecem. E deliciem-se com mais uma história ilustrada de humanismo do meu amigo Buba.

A gente vê-se por aí!


Entretanto, a "rave"...



Agora entram eles...



Parabéns Seila, é para ti.

A titas já está à vontade...
(gentileza da FundaSão)

mas há mais ...


com muitos comentários

Bom, agora eu vou embora

o último que

Até amanhã!

4.1.05



As listas

Hoje passei-me e estive muito seriamente a pensar em votar. A sério!
Lembro-me que da última vez que o fiz levei uma banhada completa. “Perdi”. Mas além de “perder”, sempre ganhei uma coisa de que nunca abdiquei: a razão.
Digamos que é a compensação dos justos. A minha, claro. E o tempo veio confirmar que a tinha.

Quase trinta anos passados, a classe política (profissionalizada) nada veio alterar ao dispositivo da minha auto-defesa. Continuam a pensar que somos todos parte de um rebanho, que o povo é sereno e nunca interrompe uma masturbação. Nunca abdica de um convite para uma festa. Um bailarico, um copo, uma jantarada, quanto mais um coito. E sentem-se felizes por conseguirem realizar os desejos mais prementes deste povo.

Olhando para esta geração política, hoje, penso que estamos mais mal servidos a cada ano que passa. Quer em termos de qualidade, quer em quantidade. E para contra-ajudar, os portugueses estão a ficar velhos, pasmaceiros e rabugentos como eu, para os poder mandar para um sítio que eu cá sei.
Pegando nas palavras dos doutorados e entendidos na matéria, parecem cogumelos depois de um dia de rega, diria que esta lista de pessoas apresentadas a sufrágio, garante-me a célebre frase que a minha já gasta memória me recorda: mudar para que tudo fique na mesma.

Era precisamente o que não esperava destes gajos que se dizem inovadores.

Ainda não éramos seis milhões de benfiquistas e já o meu pai me alertava:” filho, tem cuidado porque eles andem aí.
Palavra de honra se conheço metade dos arautos da mudança!?
Em determinados círculos eleitorais, presumo até que os nomeados desconhecem os problemas de que a região padece e onde a formação académica de cada um nem sequer tem nada a ver. Abstenho-me até de abordar questões de favores emocionais onde em Coimbra é mais patente.
Em todos os distritos, que a Constituição prevê o fim e que ninguém ainda teve a coragem de assumir, é notória a clivagem e a oferta dos cargos públicos. Os aparelhos partidários sonegam a competência, a experiência e a não-obrigação das doutrinas programáticas dos chefes, em detrimento dos nomes mais sonantes. Dos gajos com as quotas em dia ou do raio que os há-de partir. Eles são arguidos, eles são suspeitos de actos pouco claros, eles são corruptos, oxigenados paneleirões e outros que tais.

Ainda assim exigem-me que escolha? Não estou a ver...

Mas este povo foi habituado assim. A barba e cabelo. A pão e chicote.
Mas nem para isso temos um aprendiz de feiticeiro, fosca-se...

Vou tomar banho de água fria. Pode ser que isto passe.

Enquanto isso, vão estando atentos e digam lá se pode ou não falar-se o fado.



3.1.05



O que vamos fazer à vida?

Pergunta a Fátima Campos Ferreira.
Não sei!
Sei apenas o que não quero que façam dela.

2.1.05



Como Carneiro que se preza

Este ano vou arregaçar as mangas e tentar fazer coisas impensáveis:

- Arranjar uma amante para dar a volta ao mundo.
- Não passar dos cinquenta para não envelhecer demasiado.
- Ser rico. Muito rico. Para, finalmente, saber de que cor é o sacana do dinheiro.

Sim, porque começar o ano a trabalhar já comecei. Conseguir ver “E Tudo O Vento Levou…” até ao fim, também já consegui. Falta-me apenas conferir como vão ser os meus impostos e, para que o ano me corra de feição, procurar a razão da minha vida dar um filme.

Tudo a postos?