24.12.06



A esta hora já ninguém passa por aqui.
Mas de qualquer forma, este ano fiz um propósito: não mandei nada p'ra ninguém. No entanto, hei-de dar a conhecer tudo aquilo que me enviaram. Só porque este ano achei mais graça comemorar a data na mesma altura dos espanhóis.

Até lá!

23.12.06



Hoje é dia 23

Apetecia-me plantar a maior árvore de natal do mundo. Gostaria de contar a mais bela história, pintar um quadro repleto de cores que ninguém tem, e desenhar todas as caras de corações que ninguém vê.
Apetecia-me sonhar com outro mundo. Ter notória a percepção de estar aqui. Sereno e solto, rodeado por um mar de azul onde os sonhos e os encantos ultrapassam qualquer fronteira.
Sabia-me bem reviver a criança que não fui. Soletrar poemas que não fiz. Cantar canções alheias, com vozes que nunca me saíram da cabeça. Hoje, apetecia-me virar o bico ao prego. Degustar melhores momentos e ter em mãos uma tarefa que ninguém saiba poder fazer. Mas não posso! Tudo à minha volta serpenteia em alvoroço. Quase tudo se transforma em atrapalho das coisas que prefiro não esquecer.

Só tu, Maria, consegues alterar o rumo ao meu sentido. Mudar a voz da minha rota, e libertar outros tempos que não voltam.

20.12.06



Durante alguns dias, grande parte dos blogs fica em stand by. Compreende-se. Compras de última hora, a azáfama nos preparativos para a festa da família e coisas assim. O meu não foge à regra e, para o caso, já tinha elaborado um discurso faustoso, feito de muitos blá-blás, para transmitir em palavras escritas de ocasião, o que quase toda a gente diz por esta altura.

Mas, em mais um ano que passámos juntos em leituras, trocas de mimos e coisas que tais nas partilhas virtuais de outros adornos amigáveis, optei pelo simples desejo que tenham uma quadra festiva do vosso agrado.
Não que seja penoso ou chato poder ter optado por esta outra forma. Todos merecem mais. Muitos merecem tudo.
Por isso, tomara poder estar no aconchego do vosso lar. No seio da família que os rodeia. Entre sólidos laços que nos unem, caso me aceitem como um dos vossos.

Simplesmente vos desejo um Bom Natal, e que 2007 vos traga tudo quanto desejam.
Porque de qualquer maneira, a gente vê-se por aí.

17.12.06



Crónicas festivas (3)

Por esta altura do ano, mesmo o mais macambúzio dos seres humanos, ninguém fica indiferente ao Natal.
Das formas mais diversificadas, todos os pensamentos vão desaguar na quadra natalícia. É nesta altura em que se disponibilizam cinco minutos a quem não vemos o resto dos dias. É nesta altura em que se faz gato-sapato das dietas e nos mascaramos de bons samaritanos. É nesta altura em que toda a gente apela à tranquilidade que nos falta durante os outros meses.

E o drama da questão reside precisamente aqui: todos sabemos disso e todos os anos se repete a dose.
Ainda nunca ninguém pensou prolongar definitivamente o Natal?

12.12.06


Crónicas festivas (2)

É costume por esta altura do mês alguns blogs realizarem variadas iniciativas animadas no sentido de um balanço geral do ano que está prestes a findar. Não tenho nada contra, nem nunca tive. Algumas até são engraçadas e divertem. Mas uma coisa é o balanço, o baloiço e o critério onde se agitam, e uma outra é serem levados a sério.
Tal como Sócrates garante aos portugueses boas notícias, eu não me esforço tanto nas estimativas dos promotores de tais iniciativas. Talvez por pequenina maldade. Talvez porque os meus genes são quase cem por cento alentejanos.
E o engraçado da coisa reside precisamente aí. Não no facto geográfico da região mencionada, mas na simples constatação de quem pretende avaliar os outros não se conhecerem de nenhures. Ou talvez sim...

Corre por aí “Os Melhores Blogs de 2006”. Até aqui tudo cool. Só que na primeira leitura que fiz aos resultados já apurados, soa-me a leviandade e subordinação. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro post à quase quatro anos que tinha a ver como se iniciaram os bloggers. Recordo ainda com mais prazer aquele que referia as novas descobertas e a devida divulgação de pessoas que continuam a escrever para agrado de quem, na leitura, lhes é fiel. E nenhum deles, provavelmente por descuido ou limitação de metros quadrados nos indicadores de referência, está lá.

A mim, por exemplo, já me aconteceu ser considerado “O Melhor Avô dos Blogs” pela Jackie, “O Mais Assíduo” pela Emília, e ganhar um prémio, que agora já não me lembro, por ter sido o visitante número não sei de quantos zeros, pela Catarina. Tive sorte e ganhei estima. Mas agora essa dos “melhores” blogs deixa-me frustrado. Primeiro, porque nunca seria capaz de ser um deles. (e a quarta classe arrancada a ferros é sempre um entrave). Segundo, porque os blogs são tudo aquilo que o seu autor quer que ele seja, mesmo que a avaliação possa ter razão de ser.

Um blog pode ser uma dor de cabeça. Um alçapão. Pode ser um filme, um pedido de auxílio, uma serenata. Um bom blog pode tornar-se até num péssimo programa de entretenimento televisivo na RTP1, um sucesso de vendas ou numa ressaca. Mas tentar considerar “Melhor” qualquer blog, não. Eles são todos bons.

11.12.06


Crónicas festivas (1)

Está na hora de iniciar o que a singela criatura indica.
Tem alguma ideia do que vai receber neste Natal?

Quando se passa a barreira dos cinquenta, no meu caso, a vitalidade nas coisas importantes da vida que levámos esmorece um pouco em qualquer área onde nos quisemos impor. Seja em sexo ou álcool, droga ou poesia, política ou luta armada. Os que sobrevivem às consequências nefastas que quaisquer delas provocam quando em exagero, não o negam. É da lei que o próprio mundo impõe.

Daí o estar mais preocupado em dar do que receber; como foi sempre apanágio nesta humilde criatura que rascunha na mediania em contra-baixo neste blog. No entanto, este ano a coisa está preta. Por muito que tente conseguir ganhar mais uns trocos, entre ajudado por dois braços que me abraçam e se coordenam, nunca vai dar para satisfazer as necessidades de todos quantos de mim mais perto vivem.

Não me basta morrer mais um traidor fugido à causa do que é nobre. Não me chegam os gritos aflitos das petições pelas causas da fome, da miséria e da vergonha, que qualquer sociedade que se diga digna, possa conseguir calar. Não me convence a promessa que justiça seja feita a tanto crime por julgar e a tanta mortandade a que assistimos.
São vírgulas e reticências a mais. São máquinas emperradas por olear. São pontos de exclamação sem respostas adequadas e são as merdas do costume que sentado no sofá não consigo resolver.

Sei muito bem que é Natal. Posso não ser é o pai dele.

17.11.06



Uma coisa chamada blog

Hoje, ao ouvir os Sinais de Fernando Alves na TSF (às 17:52), dei comigo a pensar que o homem é bruxo ou eu sou um grandessíssimo plagiador. Eu explico.
Ontem, já noitinha, vindo para o aconchego deste lar que nos acolhe, optei por dar uma olhadela nos blogs antes de enroscar o meu cansaço, ao lado dum corpo ainda mais cansado da labuta. Para meu espanto e tristeza verifiquei que não tinha acesso à Internet. Logo na altura que tinha em mente uma crónica adúltera, estranhamente explicável ao ser comum, muito parecida com uma outra que escrevi faz anos cujo título era o que acima se descreve.

Num primeiro olhar pelos cabos e outros truques que eu cá sei, não consegui que a máquina arrancasse. Mesmo que me esforçasse a inventar estratégias que podiam fazer inveja à Microsoft.
Como àquela hora os técnicos do Apoio Técnico deviam já ter puxado para cima os cobertores, fui deitar-me debruçado sobre a ideia. Para que quando me devolvessem o meu mundo, pudesse então dar largas às fantasias reais que algumas vezes assolam o espírito de qualquer blogger que se preze.

Do rascunho que tinha delineado fiz um triplo no meu velhinho caixote que, enganadoramente, chamo do lixo.
As palavras amarrotadas que por lá ficaram até à recolha, nunca poderiam ser as mesmas que aquele enorme e ilustre comunicador de imprensa e rádio deu às suas mas a sensação daquela madrugada foi a mesma com que, finalmente, adormeci.

11.11.06



O Verão de S. Martinho está a ser aqui! Sábado. Na hora que der mais jeito.



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Para começar vai ser assim. Em Mangualde, terra de gente nobre e cativa, cantava-se:

“No dia de S. Martinho
Rabusca o teu soitinho
Faz o teu magustinho
Encerta o teu pipinho”


Daí, três coisas são primordiais para se ter uma noção mais completa do evento: conhecer S. Martinho, saborear castanhas e beber numa malga a água-pé. O resto é fado e festa e povo nas tradições seculares.
Para isso ser presente, eis um excelente trabalho de Manuela Ramos sobre o Santo.
Noutro apontamento, conheçamos melhor a castanha e as relações que mantêm com a cozinha tradicional portuguesa e a sua pequena história. Por fim, a água-pé. Esse derivado vinícola que faz as delícias ao magusto e acompanha as Festas pelas mais variadas zonas do país. Desde Marvão a Sernancelhe. De Estremoz ao arquipélago da Madeira ou até em Terra Chã, Angra do Heroísmo. Dos bairros típicos de Lisboa até Vinhais, onde está previsto um megamagusto para mais de sete mil pessoas no maior assador de castanhas do mundo. Quem sabe se na sua própria casa, onde o costume é tradição, não tem histórias de fogueiras e magustos p'ra contar. Talvez não como esta malta que adora o São Martinho, mas de outra forma que nos faça sentir origens. Quer contar a sua?

"Quentes e boas!..."


Boas e quentinhas, pedem vinho novo, barriguinha amparada ao balcão, copinho embevecendo o olhar - a postura típica do... "em flagrante delitro", como escreveu Fernando Pessoa sobre o próprio.
(artigo de Alfredo Mendes, jornalista do DN)


Fernando Pessoa na adega de Abel Pereira da Fonseca, em 1929.
Fotografia enviada pelo próprio a Ophelia Queiroz com a inscrição: «Fernando Pessoa em flagrante delitro».
Provavelmente acompanhado à guitarra e à viola na imprescindível voz de Hermínia Silva.


Gentileza d'A Minha Rádio ponto com


Tempo de Poesia


Os pequenotes da Escola de Ovar.


O Vendedor de Castanhas

Numa tarde chuvosa neste Porto
No Outono frio ventoso e cinzento
Um homem vende doses de calor
Em folhas de jornal velho embrulhadas

No pedaço de papel o conforto
Do bom petisco assado no momento
P’la perícia do vendedor
A preparar as castanhas assadas

Diz-me velho vendedor de castanhas
Que já fazes parte desta cidade
Nos dias frios que só tu entendes!


Quanto é mesmo aquilo que tu ganhas
Com o meu sorrir de felicidade
Ao comer com prazer o que tu vendes?


De João Natal, in Poetry Café


Efemérides de S. Martinho

Didas, a própria. Fez três anos que nos atura e vice-versa, e até parece que sempre nos conhecemos. Mesmo sem comermos castanhas juntos ou brindar com um copo de água-pé, registamos os Parabéns por tal ventura.


Do outro lado do mar também há castanhas

Cora Rónai é jornalista, editora e autora de livros e peças de teatro para crianças. Fotógrafa. Crítica. Blogger. Defensora acérrima do “seu” Rio de Janeiro, do meio-ambiente e dos animais. Senhoras e senhores, rabiscos do sítio dela:

"Vocês sabem como nascem as castanhas portuguesas? Em ouriços verdes, que crescem numas árvores lindas, frondosas e esparramadas. Quando esses ouriços ficam maduros, caem no chão e são colhidos. Às vezes já estão abertos, o que torna relativamente fácil soltar as castanhas; quando fechados, só com expedientes variados -- luvas de couro, instrumentos de jardinagem, pedras. Vale tudo para libertar as castanhas da sua competente armadura.

Imagino que numa plantação profissional existam ferramentas apropriadas e precisas ara a tarefa, mas no sítio temos apenas dois castanheiros, plantados há 40 anos pelos meus pais, e que, mais ou menos por esta época do ano, gentilmente produzem as castanhas de que precisamos.

Os castanheiros foram presente do Mr. Smith, o vizinho inglês, único habitante da região quando o sítio foi construído, em princípio dos anos 60. São árvores voluntariosas, que não crescem como ou onde a gente quer, mas como lhes dá na telha. Não adianta plantar as sementes. Nada acontece. Mas por baixo dos castanheiros crescidos aparecem, volta e meia, umas mudinhas que, eventualmente, podem ser transplantadas. Assim chegaram as plantinhas pequenas nas latas do Mr. Smith, e assim já saíram daqui tantas outras.

Mr. Smith morreu há anos, seu terreno foi vendido e um novo loteamento cresce ao lado do sítio; o morro em frente, antes deserto, hoje é um mar de luzes. Apesar disso o céu continua cheio de estrelas e os castanheiros seguem, ano após ano, seu destino de árvores bem amadas, enchendo o gramado de ouriços."

Festa rija
Falar de S. Martinho sem referir a Golegã é um pecado quase mortal.
As suas ruas nestes tempos estão cheias de cavaleiros e de amazonas. De charretes e outros carros de tracção animal. Mesmo os burricos que por lá se vão vendo ajudam a compor a emblemática feira que tem o mundo equestre como mote. No Largo do Arneiro, o coração da Vila, uma dúzia de cavaleiros percorrem o espaço nas calmas. Alguns cavaleiros envergam trajes de gala, com camisa branca, casaco apertado pela cintura, chapéus de aba larga, botas de cabedal. Outros circulam mais desportivos com calças de ganga e camisas de xadrez onde o chamamento da castanha assada faz sentido.
Acredita-se que ainda lá não fui?

(fonte Espigueiro e aproveitamento musical do meu amigo e saudoso Fernando Campos)



Crónicas de província


Subir a um Castanea não é fácil. Muito mais difícil é saltar dele. No entanto, lembro-me bem que em garoto era o maior desafio que os putos idos de Lisboa ao Minho tinham que enfrentar. Qual carro de bois, tosquia de ovelhas ou pisar as uvas em pé descalço nas vindimas!? Ir ao tojo e ouvir os lobos junto a um riacho de água límpida era soberbo, mas saltar dum castanheiro era o maior rappel daquela altura.
As frondosas galhas aparavam-nos a queda. Os aparatosos gritos das nossas mães em pulgas era o nosso prémio.
Ainda hoje, se não estivesse já c’os copos, atirava-me de um que ainda deve lá morar.
Coisas de putos. Que mantenho vivas até que a queda seja fatal.



Gostava de ter aqui a Aldina a cantar, o Zé Fanha a declamar, e todos os poetas e artistas desta vida que é só nossa em redor da mesa posta que entendemos como farta.
Foi o que consegui mostrar no S. Martinho, mas Portugal tem coisas ainda melhores.

Bom fim-de-semana!

31.10.06



Estou farto *

Estou farto que me digam que não presto. Farto de servir a vilanagem e dar comer aos burros que escoiceiam quando me vêem. Estou farto dos mandantes, dos algozes, de estudantes, e da merda desta vida que me deram. Estou farto!

Depois de dias a trabalhar arduamente num projecto sem importância, quedo no quebrado espelho à minha frente o meu olhar de espanto. O meu corpo, curvado de amargos anos, perdeu juventude e o juízo. Também o senso e os postiços dentes que me custaram uma fortuna. Os anéis foram-se igualmente nas enxurradas dos romances e dissabores mal amanhados a que nunca soube resistir. Os meus olhos claros de castanho marcam pupilas embriagadas de lugares castiços onde me perdi noites sem fim. E as rugas, estas rugas debaixo deste pescoço cansado e esguio, são a prova disso e estou farto.

Farto de alternativas partidárias, de capítulos abertos ao futuro, do sucesso indicador dos outros gajos, da lucrativa pose das bruxas, anti-cristos e outros futebóis.
Já não tolero nem consigo perceber o mundo onde nasci. Já não entendo o nuclear, o militar e as relações bilaterais. Já não tolero mais promoções, revoluções e novos rumos petrolíferos. Sabem-me a folhas secas onde cacarejam as galinhas, a ramos partidos onde mijam sete cães, a terrenos lamacentos onde cagam os porcos todos.

Abomino e desgraço o dia em que nasci sem fortuna exposta. Estou farto dos dias de poupança, dos dias de trabalho extra e da má aventurança que anda atrás de mim. Já não consigo olhar de frente a mulher que me pariu. Já não consigo amar a mãe que me deu filhos. Já não consigo sustentar tanta boca faminta em meu redor. Estou farto! Farto de abortos e arautos da desgraça. Farto que me indiquem o caminho. Que digam cheguei tarde. Que pisei o risco. Que cuspi no chão. Que estive a falar para o boneco.

Estou farto!


* nota do editor: catalogado como ficção e inspirado num anúncio do óleo Fula. De resto, estou muito bem e recomendo-me, hehe...

23.10.06



Cartas de amor, quem as não tem?

Ao contrário da paixão, um amor com muitos anos ganha raízes. Cresce desmesurado e forte. E declaradamente, o dia vinte e três tem lugar cativo neste blog para o conseguir reinventar.

Dizem as influências que tudo tem um significado que, mesmo a figurá-lo nas minhas regras de todos os meses, tem uma condicionante que atrapalha: a maneira de o fazer.
Por isso, hoje, meu amor , não te escrevo em versos de rimas mal escolhidas.
Relembro apenas que nestes passar de anos muitos, continuas a amante e a amiga, a esposa e o suporte entrelaçado deste amor pintado em cores de azul e lima.

Passámos por risos e choros. Trocámos abraços e beijos, mantivemos o hábito de lermos juntos as pieguices do recordar de mais um dia vinte e três, e o nosso cantinho encheu-se de gente boa. Os nossos olhos encontraram-se várias vezes para dar respostas às agruras da própria vida num desejar de cúmplices carinhos. Rabiscámos papelinhos, na surpresa de encontrar colada uma simples palavra de amor, ou de um afago expresso num postal que ilustra as nossas vidas.

E no fundo, talvez nunca tenha sabido dizer-te nas parcelas do meu tempo as coisas lindas que mereces. Reconhecer que me deste uma vida com sentido. Que te devo também a minha parte em troca da tua que nunca me negaste.
Mas conheces-me bem e sabes o meu modo de te estar agradecido.

18.10.06

Por falar de amigos…


Uma recente pesquisa no Google deu-me a conhecer outra variante de como podem funcionar os blogs: em Solidariedade.
Não que desconhecesse essa vertente. O blog com o mesmo nome pode falar por ele, como tantos outros que se prestam a igual virtude. No entanto, a pesquisa levou-me até aqui.
Isto fez logo com que recordasse um dos primeiros casos que aconteceram aos bloggers portugueses. Temo que a Dânae (do Verso Explicito) se tenha também finado em 2004/05 devido a uma doença prolongada. Tal como Fernando Campos (ainda tão recente), do qual sinto saudade da leitura dos seus textos e da nossa cavaqueira sobre os netos e os filhos e da luta contínua no melhorar da nossa própria vida, no Messenger.

Parecendo que a vida continua – claro que terá de continuar – estas coisas mexem comigo (provavelmente é mais um trauma), e levam-me a pensar diferente sobre a vida e a morte. Sobre os que se movem e perpetuam até um dia neste sistema de contacto virtual.
Este raciocínio levou-me a dois casos ímpares: O Memórias do Cárcere e o Sidadania.

Dois casos diferenciados, mas com ligações subsequentes entre si; um está preso por delito, o outro preso está, na tentativa de minimizar os estragos da doença de que padece. Mas têm os dois o mesmo objectivo: divulgar a sua própria situação e alertar os outros para que se previnam das causas do estado em que se encontram. Sem tabus, sem medos. Por vezes até, sem retóricas académicas.

Ao contrário do que tenho afirmado, esta “brincadeira” dos blogs é um caso sério.
E não preciso esperar pelo Natal para reconhecer que é necessário dar-lhes um abraço. Extensivo a todos quantos desta imensidão humana fazem parte.

Hoje especialmente dedicado à minha Mãe,
minhota dos costados todos (Paredes de Coura) que perfaz a módica vivência de 81 anos, a quem faço alongar tal gesto,dedicando-lhe este poema de José Carlos Ary dos Santos:


QUEM DISSE QUE MORREU A MADRUGADA?
QUEM DISSE QUE ESTA NOITE FOI PERDIDA?
QUEM PÔS NA MINHA ALMA MAGOADA
AS PALAVRAS MAIS TRISTES QUE HÁ NA VIDA?

QUEM ME DISSE SAUDADE EM VEZ DE AMOR?
QUEM ME DISSE TRISTEZA EM VEZ DE ESPERANÇA?
QUEM ME LANÇOU A PEDRA DO TERROR
MATANDO O CANTADOR E A CRIANÇA?

QUEM FEZ DA MINHA ESPERA DESESPERO?
QUEM FEZ DA MINHA SEDE TEMPERANÇA?
QUEM ME DANDO TUDO QUANTO EU QUERO
DA MINHA TEMPESTADE FEZ BONANÇA?

QUEM AMAINOU OS VENTOS DO MEU CORPO
E SACIOU O MAR DA MINHA FOME?
QUEM FOI QUE ME VENCEU DEPOIS DE MORTA
E SOLETROU AS LETRAS DO MEU NOME?

QUEM FOI QUE ME FEZ SERVA SEM SERVIR?
QUEM FOI QUE ME FEZ ESCRAVA SEM QUERER?
QUEM FOI QUE DISSE QUE EU PODIA IR
TÃO LONGE QUANTO NÓS PODEMOS SER?

APENAS QUEM ME VIU CALADA E TRISTE
E DESPERTOU EM MIM UM MUNDO NOVO!
APENAS A ESPERANÇA QUE RESISTE,
APENAS O MEU SANGUE, APENAS O MEU POVO!

17.10.06



"Conhecer alguém aqui e ali, que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado."
Goethe

Poderia ser com estas palavras do filósofo, escritor e cientista alemão, que justificaria a minha entrada nesta brincadeira dos blogs. Para além de ter referido algures que, sendo extrovertido, cultivo amizades reais com relativo jeito, no que toca aos amigos virtuais sinto mais dificuldade. A anomalia é minha, eu sei. Talvez seja por ter entrado já tarde para a blogosfera e estar um pouco mais maduro do que a maioria das pessoas que encontrei. Mesmo assim, não aprendo e não tenho juízo nenhum.


Ainda agora me inscrevi em mais um dos serviços gratuitos disponibilizados na rede (a Facebox) que me garante a companhia de três milhões de almas. Juntando o Orkut e o Gazzag, e mais quatro ou cinco em que estou registado, estarei rodeado de mais de cem milhões de indígenas. Isto sem falar dos quatrocentos e tal blogs que tenho em carteira.


Claro que não mantenho contacto com todos. Também era melhor. Já me vejo aflito para responder aos que tenho ali ao lado quanto mais. Mas a questão que me coloco é simples: terei necessidade de ter tantos amigos à minha volta?


Talvez, porque a minha infância não foi famosa nesse sentido, e sinta a necessidade secreta de manter os que arranjei por aqui. (Traumas, é o que é)
Por isso, neste "arrumar da casa" que me levou os últimos três dias sem quase levantar o cu da cadeira, tive uma sensação esquisita ao verificar que tinha perdido alguns.

Não posso descurar os que me restam.

12.10.06



Os Grandes Portugueses

Nesta altura do campeonato, este programa da RTP, que vai para o ar na sua primeira sessão no domingo, não deixa de me espantar pela negativa. A sério.

Quando se vive uma indefinição social e laboral com as medidas que este Governo tem implementado ao país, não deixa de ser curiosa a forma como alguém se pode recordar do tema. Até parece tortura chinesa.
Se por um lado me parece uma tremenda cabala contra o executivo do engenheiro, por outro, também pode dar a ideia de uma maquilhagem e assessoria como aquela que o ex-PGR tardiamente se deu conta que lhe faltava.

Podem vir a lume nomes como Aristides de Sousa Mendes, Camões, Infante D. Henrique, Egas Moniz, Duarte Pacheco ou Marquês de Pombal. Admito. Tal como admito Amália ou Eusébio, ou Carlos Lopes e Rosa Mota, António José de Almeida ou a Padeira de Aljubarrota. Todos eles com o seu grau de contribuição para engrandecer o nome de Portugal.

No entanto, as minhas segundas escolhas recairiam em Zé do Telhado e Alves dos Reis. O primeiro porque, ao contrário do que faz este sistema tributário, roubava aos ricos para dar aos pobres. O segundo, porque é o melhor exemplo da actual banca nacional. Onde as notas falsificadas de quinhentos daquela altura, foram substituídas por grandes máquinas de feudalizar bens, serviços, capitais e trabalhadores endividados.

Por fim, o grande vencedor deste certame, que promete entretenimento e grande espectáculo, seria este Povo que aguenta tudo isto. Sem dúvida, são eles Os Grandes Portugueses.

6.10.06



A minha retoma

Acredita-se que os blogs criam dependência. Discreta, é certo, mas dependência. O cidadão comum – homens, mulheres e crianças, que vamos achando diariamente se quisermos - ao descobrir esta ferramenta, exorcizou alguns fantasmas de comunicação. Problemas que vivemos todos os dias pelos motivos mais complexos que se podem supor.
Eu não fujo à regra.

Excluindo os personagens que fazem disto uma forma de trabalho, outros porém, compenetram-se na divulgação e no partilhar das coisas mais incríveis. Anónimos puros que rebentaram fechaduras das escrivaninhas onde tinham guardado papelinhos segredados de imenso valor artístico e pessoal. Tanto assim, que até os próprios meios de comunicação social já têm um espaço reservado aos seus próprios blogs no aproveitar do andamento deste fenómeno.

Mas esta brincadeira também cansa, satura, mesmo sem ser deprimente. Muito mais quando não se sabe do que falar ou expor.
Nas centenas, para não dizer milhares de blogs que já visitei durante estes quatro anos para onde sigo, muitos deles ficaram pelo caminho no primeiro mês de exposição pública. Outros, nem tempo tanto duraram.
Deixando de fora os clássicos, os mediáticos, os ícones da classe jornalística, o que sobra?
Sobram mais milhares a que é impossível aceder por falta de tempo.

E é neste pormenor, que já tentei decidir acabar por aqui por mais que muitas vezes, depois de ter perdido um pouco da Cinda, do Pedro, do Fernando B., do Verso Explícito, do Green Shadows, do Ivo Jeremias, da Ângela a quem já perdi o rasto, e muitos outros que da passagem breve deixaram marcas. Outras tantas, terei pensado que melhor seria telefonar-lhes. Perguntar pela saúde, pelos miúdos, pelo cão ou periquito, e tentar saber como andam as coisas, como se de família se tratasse.

Auto-impondo um compromisso que tomei com outros mais reais (os blogs da família), vou continuar a ter enorme honra e prazer ao fazer parte do núcleo dos amigos virtuais. Não saberei nunca ao certo por quanto tempo, mas é um bem que me está enraizado.

Por isso, aí vou eu!
Abram-se-me as portas e janelas das palavras que procuro.

26.9.06



Presumivelmente, esta brincadeira já ganhou teias de aranha.
Mas não demoro muito. É só arrumar a tralha, umas coisitas publicadas e…


Depois, será bom saber de novidades e rever os bloggers amigos com um bronzeado de fazer inveja, hehe...

8.8.06



Foto Golfinhu2

posted by Thita - "ordens simpaticamente sugeridas pelo chefe", algures em trabalho.
(tá calão para os blogs, é o que é, hihi...)
Responsável pela ordem e manutenção neste período ficará o meu tio-avô.

29.7.06



Tomar partido

Tomar partido, para além de ser o nome do blog do Jorge Ferreira que nunca vi mais gordo, é uma das posições que os portugueses apreciam em se afirmar. Quer nas discussões dos vizinhos ou da família, quer da imagem que fazemos dos da ribalta, ou quer que seja num simples acidente na Ponte sobre o Tejo.

Ao contrário dos povos nórdicos, ou de mais alguém que se suicida quando está farto de tudo e de todos, nós gostamos de nos demarcar pelas coisas que eles consideram básicas mas que, para nós, são da maior importância para o próprio bem-estar da consciência. Um blogger, em tomar partido, não foge à regra. E os da fama constatados nestas andanças, ou eu próprio que de famoso nada tenho - a não ser na minha rua - também não.

A gente tem o professor Marcelo, o Alberto João, o Miguel Sousa Tavares, o Nuno Rogeiro, o Sérgio Figueiredo, o padre Borga e o diabo a sete mais o João Kleber, o Pacheco Pereira e os seus fantasmas, para nos relembrar que o título do post em todas as matérias tem razão de ser.

Como tal, estou a favor do Hezbollah e contra o dabliubush. Tenho muitas reticências na organização e contratações benfiquistas para esta época (mais um ano a sofrer) mas acredito piamente (mesmo não seja pio) que o Centro de con(es)tágio no Seixal seja um sucesso para a nossa zona ribeirinha. E/ou, para além disso, compreender muito bem a Maria João Pires.

Para finalizar, tomo o partido dos Soldadinhos da Areia, dos Poetas na Quinta da Ribeirinha e em todos os cantinhos, muitos tantos que carecem de carinho, dos casais felizes e de todos quantos possam fazer a esta vida melhorá-la. De resto, a gente vê-se por aí.

Bom fim-de-semana!

23.7.06



"Pikena"
ainda te lembras do tempo em que não havia blogs?
Agora tenho duplamente a forma de chamar por ti.

19.7.06

Coisas de blogs

Aqui há tempos recebi um e-mail a alertar-me que era o 84.º blog mais antigo em Portugal.
Resumindo-me ao especial cuidado desse estudo, lembro-me perfeitamente de que fui dos primeiros portugueses com blog a colocar música do meu gosto e fantasias com figurinhas a mexer (os gif), mas tudo isso foi devido à enorme ajuda da minha amiga Civana (uma ex-blogger brasileira, simpatiquíssima e prestável para o que desse e viesse), e outros experts que ia descobrindo pela rede.

Em princípio, tudo levava a crer que era irritante para os visitantes “levarem” com essa dose. No entanto, hoje em dia, quase todos os bloggers dão a conhecer as suas preferências musicais nos seus espaços que têm há tanto, ou mais tempo do que eu nestas andanças, que até o João “Fumaças” Fernandes já os tolera.

Depois, (passe a imodéstia)também me iniciei nos primeiros a colocarem videoclips. Aqui já foi por mera casualidade e descoberta; havia sites próprios que disponibilizavam essa facilidade, e aproveitava a onda logo que descobria os códigos que as tags deviam ter. Agora, os que se disponibilizavam nesse tipo de função, acabaram de fornecer esse tipo de facilidade, porque provavelmente os custos desses domínios devem ser pagos e a gente deveria estar a gastar energia duma casa que não é nossa. É justo.

Após o boom destes adereços que fizeram as delícias de alguns de nós, vieram os almoços e jantares em encontros blogosféricos sobre qualquer motivo. Braga, Évora, Porto ou Lisboa, foram algumas das cidades que presenciaram esses eventos. Com relativo êxito e no aprofundar de quem somos e o que é que estamos aqui a fazer.

Também, e não por acaso, o mercado editorial estava aberto à nova forma de comunicação que era notícia em quase todos os jornais que tratavam do assunto. Dai, resultaram as edições de blogs em livro e a descoberta de novos talentos. Estou a lembrar-me repentinamente d’O Meu Pipi, do Luís Ene, da Inês Pulido (uma pintora juvenil com enormes predicados artísticos reconhecidos pela gente do Norte e não só), da Rititi e tantos outros.

Tudo isto só para referir que vai sair mais um trabalho de vários ilustres desconhecidos pela editora Apenas Livros e dinamizado pelo meu virtual amigo Jorge Castro, onde a 29 de Julho vai fazer reunir na Quinta da Ribeirinha vários Poetas destes bocadinhos de vida que se empresta.

Agora tenho que ir. Ainda me falta dar uma palavra às pessoas que são do meu aconchego bloguístico e achei por bem ir assar sardinhas para a minha "Pikena" – que está de férias – e não tarda nada está a vir da praia com o seu bronzeado novo e o seu velho, e apelativo, encanto.

A gente vê-se por aí!

13.7.06



Depois de durante estes dias ter posto a escrita em dia e a leitura, cheguei à conclusão de que, em vez de andarem faunos pelos bosques, andaram figuras públicas a fazer o papel de Miguel de Vasconcelos (1590-1640) (colaborador próximo da duquesa de Mântua e do regime filipino), só por acharem que estar do contra traria de volta à realidade os problemas nacionais aos portugueses.

Todos sabem que a maior parte deste povo aprecia imenso caracóis. Ainda mais se forem acompanhados com cerveja fresquinha. E muitas. Perninhas de rãs nem tanto assim, e nunca ouvi falar de que comessem sapos. Engoli-los?, talvez.
Mas os arautos da desgraça, vulgo velhos do Restelo – sem desprimor para o CFB – tinham que “pegar” em qualquer coisa para que se tentasse inverter o rumo das coisas que toda esta brincadeira tomou desde 2004: ele foi o Quaresma, ele foi o sol abrasante que se fazia sentir em Évora, ele foi a Sagres, o Madaíl, as bandeiras nas janelas, eu sei lá…
Haviam de ter visto a comunidade emigrante de vários países, que tanto defendem em tempo de eleições, no companheirismo, na solidariedade num contar estórias de injustiças que também por lá se vive.

Só pelo facto de terem no currículo mais alguns diplomas que o resto do pessoal, há uma coisa que estes fazedores de disparates têm que engolir: os considerados estúpidos, os escravos, os eternamente sacrificados, ganharam um mês de completa euforia e felicidade. Não, apenas e só, pelo que o futebol conseguiu alcançar; isso é efémero, e será sempre, um erro dialéctico. Mas por tratar-se apenas duma coisa tão simples que nos levou um pouco mais longe no sentir de toda esta gente que trabalha por uma vida melhor; de como alguém nos conseguir juntar para uma roda de amigos sem nos explorar e enganar. Aqueles tipos todos conseguiram que desta vez os olhos rasos d’água e corações apertados fossem de alegria e satisfação.

Coisas tão simples que muitos dos que cuspiram para o ar não conseguiram fazer quando tiveram a responsabilidade de nos proporcionar algumas delas quando estiveram no governo do país.


adenda: reparem só como já começamos a torcer por José Azevedo, (a lutar sozinho) mesmo que o ciclismo tenha decaído com a morte de Joaquim Agostinho.
Mas onde estiver um português, estão sempre dois ou três. Milhões!

9.7.06



Regresso a casa

Não tão tarde como previra. De bolsos vazios mas com um coração maior.
Os portugueses, onde se encontrarem, são de facto poetas. Pessoas de bem que apenas o futebol faz aproximar e onde o encanto deste universo fantástico é sublime.
Temos um povo que merecia melhor sorte.

Malas desfeitas, alma emproada na recepção apoteótica que presenciámos, jamais se esquece os momentos únicos por que passei. Não fosse a realidade do país, quase me apetecia gritar “Viva Portugal!”.

24.5.06

Já uma vez aqui o disse que não sei lidar com aquilo que temos de mais certo na vida!
Hoje acrescento que nesta coisa dos blogs ainda é pior. Talvez pela afinidade que nos une pela escrita, que nos aproxima das palavras e ideias abertas ou, apenas e só, pela descoberta que fazemos nas amizades que criamos.

Não é raro saber-se no dia-a-dia da nossa própria vida, de gente que nos deixa sem aviso prévio. Adoece de repente e, mais depressa ainda, nos deixa. Nos blogs não é assim. Espera-se sempre daqueles que acompanhamos mais de perto que sejam eternos.

Daí, uma raiva maior. O grito. Uma injustiça que não se pode alterar.

O fraterno e Amigo Fernando deixa-me já saudade, mas continuará eterno.

Tal como de todos quantos conhecemos assim o espero.

23.5.06

A teoria da conspiração

Duma forma ou de outra, conspirador é uma palavra com a qual tenho alguma empatia.

Ainda não solicitei explicações a Daniel Sampaio mas julgo não ser necessário fazer um trabalhoso exercício de auto-análise para o que presumo ter percebido: é que em miúdo gostava de ver filmes de espadachins e de cow-boys. Tramas que me espicaçavam a imaginação e que acabavam, quase sempre, em rocambolescos desenlaces inventados por mim.

Passados que foram todos esses anos de reprises nos cinemas da minha zona, os conspiradores continuaram a fazer das suas. Agora em cenários completamente diferentes mas com objectivos iguais: tramar, maquinar contra os poderes. Assim de repente, e como escrevo em directo, lembrei-me dos de 1640 e de 1973/74. A maquinação que levou ao derrube da ocupação filipina e a libertação da canga que o regime salazarista tinha imposto ao país. Também posso acrescentar os Três Mosqueteiros, Sir Humphrey Appleby ou os seguidores de Hare Krishna, que não perco nada com isso.

Mas sob o signo da verdade, Manuel Maria Carrilho, homem dotado de excelente cultura e experiência política, excedeu as minhas expectativas sobre o tema em que se debruça. Vendo a coisa desapaixonadamente, também não me incutem confiança todos aqueles tipos de colarinhos engomados que são alvo das alegadas acusações do marido da encantadora Bárbara Guimarães.

Por outro lado, o homem pode estar numa fase de vitimação pessoal o que poderia facilmente explicar as reacções ao livro que agora publicou, mesmo me dando conta de outras conspirações nos processos Casa Pia e Apito Dourado.

Como em Portugal a culpa morre solteira ou enviúva, só tenho uma grave incerteza: e se ele tem razão?

20.5.06



Por muito que se pretenda esconder, o futebol quer se queira ou não, é uma linguagem universal. Mais abrangente que o próprio Esperanto ou as perspectivas da retoma económica (inter)nacional.
Basta verificar que, em termos terapêuticos, funciona melhor do que uma aspirina quando as coisas nos correm bem. Sobrepõe-se, sobretudo, aos altos índices do desemprego, ao deixa-andar de todo um povo que permite auto-manipular-se facilmente e às incompatibilidades dos deputados da Madeira.

Se se reparar no esforço que os blogers fazem para se manterem “actualizados”, não há um que não disponibilize um pouco do seu tempo ao futebol. Inconscientemente, ou talvez não, a coisa não fica por aí: no fundo, bem lá no fundo onde batem as bolinhas dos portugueses, renasce uma fé que se perdeu, exibe-se um orgulho que já teve dias melhores e acredita-se que somos tão bons ao pontapé como qualquer outro país com melhores recursos.

Foi assim em 2004, será assim em 2006. Garanto eu.
A prová-lo estão vinte mil mulheres lindíssimas deste país à beira-mar que tenho aqui ao pé de mim.
Para mostrar ao mundo a bandeira mais bonita que se pode ter.

15.5.06

Ser ou não sê-lo

Jamais alguém me poderá apontar o não ser patriota!
Daqueles antigos patriotas a quem os velhos problemas do Estado e do País nunca derruba.

Não tendo já em mim as energias renováveis que disparates e outros excessos fizeram ruir bastante cedo, nunca deixarei de me identificar com a maternidade Alfredo da Costa, a farinha 33 e o velhinho e já defunto Estádio da Luz. Ciclos que combinam e se completam com a pasta medicinal Couto, o cheirinho castiço da sardinha assada e as tascas de Alfama.
Todo um retrato com Tejo e fado e tudo.

Quero lá saber das incorrectas certezas do Deutsch Bank, das nacionalizações do Morales ou do enriquecimento do urânio iraniano. Antes do mais sou português de todas as costelas que me restam. Defendo o território, a família, a língua e as iscas com elas.
A praia do Meco, a Toirada e a Selecção, também são agentes comuns à minha reacção de contra-ataque.

Agora o que mais me perturba são os efeitos colaterais no pobre do Figueiredo. Um portuguesíssimo de Carregal do Sal que rentabilizou na Afinsa um dos nossos maiores patrimónios culturais e centenários: o selo.

Estarei contigo, Albertino! Ao pé de ti, o Alberto João não é nenhum jardim. É saloio.

8.5.06

Hei-los que partem

Nesta altura do campeonato, falar de futebol é tão ou mais importante como debater os mega projectos governamentais, a crise económica que o país atravessa ou as (des)conjunturas sociais.
Porquê? Porque está em causa o equilíbrio emocional de cidadãos anónimos e sem blog, cidades e regiões que dependem de receitas extraordinárias, sentimentos patrióticos que a razão dificilmente saberá explicar.

E nesta trágica contabilidade dos pontos ganhos e perdidos, o esgar da cidadania regional condói-se. Contrai-se e contraria-se como Fernando Ferreira na defesa da sua ideia. São como colheitas arrasadas por um traiçoeiro vendaval. Um aluimento que foge debaixo do chão que pisam. Um tremor de terra que abala a sua própria vida.

Vi homens e mulheres a chorar por causa disso. Presenciei crianças com cara de espanto sem saber o que aconteceu ao vê-los naquele estado. Vi olhares sombrios e gastos, faces de rugas vincadas pelo desânimo por não terem chegado ao fim.

É terrível a angústia pessoal que o futebol arrasta atrás de si.
Uma bola que bate na trave, um penalty "roubado" à descarada, um golo nos últimos descontos, uma Rádio que difunde em dois minutos as alterações da última classificação.
Aconteceu já com abnegadas gentes alentejanas, transmontanas e algarvias. Acontece hoje com os incansáveis minhotos e com uma parte significativa dos bairros velhos de Lisboa. Mas a matemática futebolística é mesmo assim: o fado dum povo atormentado sem o carisma que Raquel Lito descobriu.

Por isso, é pena minha vê-los partir.

6.5.06




A duplicidade dos portugueses sempre foi um trunfo nas relações que mantemos ao longo da vida com toda a gente, em quase tudo e em todo o lado. Suportados por dois pés, moldados por duas mãos, orientados por duas cabeças.
Já a cumplicidade tem os seus custos duplicados na factura que pagamos se não tivermos dois empregos.

É ponto assente que, duma forma geral, vive-se e morre-se em doses duplas. Em vida somos uns filhos da p…, que depois de a alma nos ter deixado passamos a ser as pessoas mais bacanas deste mundo.
Enquanto vai durando a experimental passagem por este lugar dos vivos, nunca abdicamos de nos rodear de duplicidades; temos dualidade de critérios, de conceitos ou de escolhas, e sempre que caímos à primeira sabemos que à segunda só cai quem quer.

Em Portugal vive-se com dupla personalidade até à exaustão: dobramo-nos em esforços para ultrapassar dificuldades, duplicamos as energias quando somos espicaçados, exigimos em troca o dobro de tudo quanto se dá.
Em sociedade, o diapasão é semelhante: pede-se uísque duplo em sessões especiais, repete-se a dose do cozido à portuguesa quando não somos nós a pagar, e quem não gosta de duplicar as suas próprias emoções sexuais…

À nossa volta, tudo gira com funcionalidades duplas: temos a alternativa governamental habilitada a dois partidos, temos - pelo menos - dois clubes que elegemos ser do coração, temos sempre duas opiniões e cultivamos o amor e o ódio como duplas sensações de estar na vida.
Para mal dos nossos duplos pecados só não temos duas dela, dois ordenados e dois meses de férias.

30.4.06



Tristezas não pagam dívidas

Muitos menos se forem aquelas que não são nossas.
Convenhamos que Portugal é um país duvidoso e endividado. Por si só, já os portugueses duvidam da dívida dos endividados que duvidam e/ou vice-versa.
À primeira vista pode parecer complicado compreender o raciocínio mas não se duvide que o que nos invade a alma de tristeza, ao fim e ao cabo, são as dívidas que nos colocam dúvidas. Isto é, dividimos a dívida pela dúvida e o quociente dá-nos um resultado do qual se dúvida daqueles que não têm dívidas.
Consequentemente, advém da prova dos nove que a dívida que mantém a nossa tristeza vem daqueles que raramente se enganam e nunca tem dúvidas mas que nos deixam endividados.

27.4.06



Uma no cravo...

Em qualquer altura de pronunciados discursos é de bom-tom usar gravata. Às riscas. Recuperando a moda italiana dos anos trinta. Laços também dão jeito em lugares bem frequentados. Agora cravos?

Os cravos só podem ser temperamentais, com cor de fogo. Furacões como Daniela Mercury e apaixonados como Ronaldo. Robustos, ferozes e justos, sem papas na língua. Puros.

Por isso, estou absolutamente de acordo que o homem do leme seja coerente com arranjos florais. O que é mais difícil entender é a descoberta que só agora faz ao incluir a exclusão e a justiça social como recadinhos de menino bem comportado. Quando esteve incluído durante dez anos a tentar desenvolver o país devia saber que os cravos também simbolizavam isso mesmo.

Que se lembre disso no(s) Dia(s) do Trabalhador antes que caia da cadeira.

23.4.06

Recordar Abril

À passagem dos trinta e dois anos de Abril, lembrar a criança do cartaz faz-me doer.
Sentir que aquela pequenina mão depositava esperança num cano duma espingarda, também.

Hoje, em Londres, a criança do cartaz terá quarenta. Anos passados e percorridos num fugaz sonho de menino apesar dos seus cabelos já sem brilho. De caracóis desfeitos e promessas vãs. De sorriso triste e desnudados pés.

Abril envelheceu, tal como todos nós. Mas não morreu!

(está só adormecido, diz a minha Pikena, porque ainda estamos a 23)

19.4.06

A vida é fértil em pregar-nos partidas. E na sequência dela, por vezes, podemos entender como sinais o que nos vai acontecendo nas horas e nos dias que passam devagar.
Se já tinha o legado garantido pela linhagem que cá deixo – os meus sete filhos – também estaria completo pelos quatro netos que já tinha. Mas ontem nasceu mais um: o Lourenço.
Foi uma bonita prenda de aniversário, filha.
Já me posso dar ao luxo de morrer em paz!

18.4.06



Provavelmente cheguei a uma altura da vida em que preferia que o espaço de doze meses tivesse para aí uns quinhentos. Para outros, naturalmente, desejam que passem a correr. Mas quando se apercebem que já é irreversível voltar atrás, dão-me razão.
Por isso, nada melhor do que ter o equilíbrio que a própria vida se encarregará de nos mostrar.

Vai daí, hoje fazemos nós, nós e nós.
Amanhã faz ela e ela.

14.4.06

A paixão de Cristo


Sempre fui apegado a Cristo. Um homem afável, simpático, voluntarioso e um excelente lateral-esquerdo que usava a camisola número cinco no clube da sua terra natal.

Apaixonado por tudo o que o rodeava, de cultura não se poderá dizer o mesmo. Zé Cristo é avesso a que lhe façam o ninho atrás de qualquer parte do corpo, mas para ele não há diferença alguma entre estar À Espera de Godot e O Livro de Pantagruel de Bertha Rosa Limpo.

Mas sempre foi esperto. Saudavelmente esperto.
A forma sui generis dele ver o mundo fazia prever que não tinha sido formado em quartos escuros, nem levado quaisquer nalgadas. Modesto até na forma com entendia as desigualdades sociais e os respectivos desacertos da sua folha de féria, não pecava mais do que os outros que lêem jornais, vêem televisão ou navegam na Internet.

Mas este Cristo carrega também a sua própria cruz: reformou-se. Passa agora os seus dias de volta da beleza dos lírios e dos gerânios no Jardim Botânico para tentar esquecer os trinta e três contos que lhe deram por troca de uma vida com cinquenta anos de trabalho.
À noitinha, quando na solidão do pequeno quarto alugado na Rua do Salitre ouve as notícias emitidas por um rádio já fanhoso, nada o perturba ou enfurece ao saber que quem decidiu da sua sorte falta ao trabalho vezes sem conta. “É Páscoa!” – consola-se, ao acender a última beata, “Os cabrões hão-de morrer descalços.”

Amanhã vou levar-lhe um par de botas cardadas, a sua paixão.

4.4.06



Leio que setenta e cinco mil blogs (!) são criados diariamente no espaço cibernauta.
Provavelmente haverá algum exagero na notícia divulgada, mas não deixa de ser curioso que, confrontado com outra que nos diz que o folhear da imprensa escrita teve um decréscimo de leitores, existe uma certeza quase absoluta: as pessoas precisam de falar, criar laços e espaços, escrevendo.
Os motivos serão vários, mas a palavra solta e a vontade de exprimir bocadinhos de vidas guardadas é mais forte.

Perceber que ao lado duma janela na minha rua possa estar alguém de quem leio pequenos segredos, é admirável. Saber que um nickname esquisito frequentou os meus lugares de infância e o divulga como se estivesse lá e quase pudesse tocar-lhe, é arrepiante.

Estranhos prazeres, poderá dizer-se. Mas é esta beleza de corpo e alma enraizada que descreve que a notícia pode não pecar por exagero.

1.4.06

1.º d’Abril



O dia das mentiras é, para os portugueses, o dia de se contarem verdades.
Ao contrário do que manda a tradição, hoje pode muito bem dizer-se mal sem se ser enganoso e sobrepor outras plaisanteries. É como um Carnaval alterado no melhor sentido do termo, onde “o bom mentiroso não cora, não se engasga e mente tão bem que acredita na falsidade que está a contar.”

Tem alguma ideia de qual seja a verdade mais mentirosa?

29.3.06



Lá como cá...

Por muito que maçador se torne falar do Benfica, ontem, no jogo com o Barcelona verifiquei muitas semelhanças entre o Glorioso e Portugal. A sério.
Lá, como cá, também se vive do passado. Do sonho. Da enganosa fantasia.
Cá, como lá, faltam os malabaristas. Os artistas. Poetas de bem-dizer e melhor fazer.

Por muito que me repita, lá como cá, só a garra não chega. Faltam complementos importantes que façam a diferença. Faltam os sorrisos largos de quem fizer um filho fá-lo por gosto. Faltam botas 45, uma camisa número dez, o capitão que nos envolva ao desafio e 3333333 medidas.

Ter o estádio cheio e o país ao rubro é pouco.
Lá como cá, os efémeros minutos da fama não chegam. Ir mais além do que se propõe seria a meta. Funcionar em bloco era o ideal. Criar a nota tilintante com que se compram os melões faria com que se viabilizassem ideias. Mas isso dá trabalho e faz levantar cedo.

Por muito que acredite que alguma coisa possa melhorar e que a inércia se aniquile, as diferenças da qualidade existem. Lá como cá, são assustadoras as desigualdades, as fragilidades, os nervos à flor da pele que impedem a progressão no terreno e a competitividade criativa. Não basta ter a tecnologia de ponta à mão. É necessário saber geri-la. Aproveitá-la como mais-valia.

Por isso se diz neste pequeno e grande mundo que é Portugal, que quando o Benfica espirra o país fica constipado.
Lá como cá!

27.3.06



Dia Mundial do Teatro

Tal como todos os dias internacionais, o do teatro também é para celebrar, claro.
E fugindo um pouco de Gil Vicente, um extraordinário site disponibilizado (entre outros) por João Vidal de Sousa, este assinalável evento não pode morrer de pé como as árvores, como dizia Palmira Bastos, essa grande Senhora do Teatro português. Temos que lhe dar ânimo, já que de vida anda pelas salas d’amargura.

Sou um português que nunca foi muito de fazer teatro mas sempre gostei de boas peças. Estou a lembrar-me de Fátima Felgueiras… perdão, da Mãe Coragem de Berltolt Brecht (Lisboa, 1975), quer interpretada por Gisela May (em Nova Yorque) ou Eunice Muñoz que tive o privilégio de conhecer em fim de carreira, no Teatro Villaret.
Como se percebe, também não frequentei muitos palcos. Eram mais tapumes, pisos duros e, de vez em quando, as escadas rolantes do Parque Eduardo VII.
Quanto a actores, estou recordado de Lawrence Olivier em Hamlet (Viena, 1966), Orson Wells em Citizen Kane (Budapest, 1941), e Luís Guilherme na Reunião Misteriosa (Porto, 2006).

Quanto ao glossário apavora-me os termos, sou franco. Coxia, por exemplo, tira-me o apetite. Já para não falar do Fosso de Orquestra ou Didascal, que me dá uma ligeira sensação de hérnia sedentária à boca de cena mesmo sendo na direita baixa.
O que gosto mesmo é dos dramaturgos. Esses sim. Vivem a peça, os diálogos, fazem todos os personagens. Já a encenação tem a sua farsa. Veja-se o happening dos espectadores de futebol na intertextualidade dos seus ícones.

Para terminar este quiproquo, de maneira alguma se pretende satirizar o solilóquio. Trata-se apenas de um texto cénico onde o imprescindível ponto faltou ao ensaio. Mas acho que fiz o meu papel.