28.2.05

Bom dia!

Desconheço ainda a formação do novo governo, quem será o gajo que me vai vir ao bolso e o que vão fazer à saúde e à educação. Mas este ano, mesmo assim, quero ganhar uns amigos a mais. Livres de impostos.
Por isso optei por abrir uma Oficina onde posso fazer uns biscates durante esta semana. Estar entretido é o objectivo, aprender a fazer coisas novas seria o ideal.
Só para tentar aliviar o stress que o jogo de logo à noite me está a provocar e não tentar pensar que este ano não sou aumentado.
Mas para isso preciso de clientes.

Vá lá. Ponham-me a trabalhar…

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26.2.05



Está a dar-me um "vaipe"... será por ser sábado?
Eu explico:



A Idade do Retiro

Estão a aparecer transformações estranhas no meu ser!
Não é que esteja a ficar gordo. Nada disso (coitadinho de mim… setenta e cinco quilos e trezentas gramas). O colesterol?... nem sei o que isso é. A tensão está boa, a atenção recomenda-se e o outro "ão"… de vez em quando, funciona.

É mais a paciência, digo eu.
Dei comigo a não ter pachorra para aturar na vida gente mais parva do que eu. Aglutino-me já com coisa pouca e qualquer mesquinhice me incomoda. Nunca gostei de multidões, muito menos de apertos e vejo-me sempre rodeado de estafermos. Estou numa fase de sentir que só me aparecem cromos pela frente e já me falta a paciência para os aturar.
O que será isto?

Nunca tive psiquiatra e o médico de família nem sequer me conhece. Não recorro a advogados, cartomantes ou medicinas não-convencionais. O gajo que às vezes me dá umas dicas (um psicólogo radical e fundamentalista, que por acaso é meu irmão) quando lhe falo no assunto manda-me logo ir dar banho ao cão. Ele que até sabe que é uma cadela…

Pode ser um bom sinal mas eu sei que não estou bem.
Já não suporto a gritaria dos cachopos, os programas que passam na TV e os resultados do Benfica. Tudo isto sem referir que perdi a vontade de ir à pesca, de beber umas imperiais depois das dez e de gastar algum em novidades.

Vão-me valendo os blogs e toda a malta que está por detrás deles.
Mas isso só não chega para justificar esta mudança no meu ser ou explicar a metamorfose repentina do meu Eu.

(Epá!, se alguém souber de algum remédio…?)

Bom fim de semana!

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23.2.05



Papelinhos guardados na gaveta (com dedicatória)

Por vezes, fico perdido em recordações temporais de dias e noites que nunca mais regressam. Vivo em conversas trocadas sem sentido. Filosofias vãs que aniquilam a oportunidade de me voltarem a encontrar.
Mas os tempos, hoje, são diferentes.
As noites continuam a ter a lua como horizonte, mesmo não acompanhando o ritmo frenético da minha juventude. Os sons que oiço não perdem o brilho de todos os bancos de jardim e os espaços... esses espaços tão meus, continuam feitos no timbre artesanal do meu lado quedo da nostalgia. Da silenciosa esquina que reparto com flores. Flores essas que devem ter o seu próprio odor. Tão próprio como as cores que perpetuam o seu nome.

Agora é tempo de redescobrir as noites inventadas por crianças. Dias menos agrestes que me façam amar e rir, até que volte a anoitecer. Daqueles que iludem e deixam rastos. Que me indicam os caminhos para reduzir o outro lado da vida e da má sorte. Que deixam as cinzas apagadas dos cigarros que fumei.

Embriagando-me nesse odor, posso ver menos tragédias e ventos impelidos por desgraças. Posso ver partes iguais naqueles que nascem mais de perto. Posso ter até, diversas maneiras de sentir. É a própria vida que me ensina todos os dias. Pois “se há gente que encara a tristeza a rir", diz o poeta, "existem muitos outros que choram de alegria” .
Por isso, da minha janela ainda vejo o mar. Esse mar que me leva longe sem daqui sair. Mas que tranquiliza e me afaga. E me afoga em delírios trementes de ilusão.

Para quem tem pela frente uma vida dura e pintada em vários tons, viver sempre em função dos dias e das horas que passam vigorosas não é bom. Muitas delas lentas e difíceis, outras incrivelmente rápidas e decisivas.
Daí que, para além dos filhos e netos que já tenho, mais não deixo que a minha própria estória de ninguém. Que nunca escrevi. Mas que está inscrita onde só eu sei.

Talvez por mágoa, talvez por medo, pela angústia do dia de amanhã, se torne a máscara de mim e de todos os momentos. Pode ser até a sina minha, o meu fado, o egoísmo de todas as coisas e o terminal dos meus sonhos cor-de-rosa na esperança de que existe sempre, algures, um mar abandonado que me pode voltar a descobrir. Mesmo que seja nas areias dum rio que nunca encontra a foz, terei sempre perto de mim os trabalhos forçados atribuídos a um crime que nunca pratiquei. Mas que condena. Numa condenação a mais para um homem só.

Mas por amor, serei capaz de tudo. Até deixar de amar.

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21.2.05



Depois de passar esta euforia controlada, tenho a sensação que daqui a bocadinho vou trabalhar com outra vontade. Tomara que "eles" fizessem o mesmo.

Uma boa semana a quem passar por aqui.
Aos outros também.

Vá, toca a trabalhar...

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20.2.05



"Chamam-te fama e glória soberana ,
Nomes com quem se o povo néscio engana."
Canto IV, est. 96, vv. 7,8

O Velho do Restelo

Acompanhando de perto as motivadas gentes, feitas por momentos “salvadores” da Pátria, meti-me à estrada. Descobri escarpas de vontades esquecidas e campos onde as “mudanças” das portas que Abril abriu nunca se encontram.
De apagados que estão todos os cultos. De escondidos que estão todos os sábios.

As novas que trago são já velhas. Ressequidas pelo tempo que não faz, alagadas pela chuva que não cai neste país. Pobre e triste. Resignado e escravo.
Desiludam-se pois, os esperançados. Todos quantos depositam no dia de amanhã um rumo novo ou uma nova era. Todos aqueles que pretendiam outra etapa.
É tudo um jogo.

Um jogo que o fogoso tempo da minha juventude fez abandonar a esperança e o encantamento nas coisas raras. Um jogo de poder que traiu a fé nos homens e mulheres que nos governam. Onde o pano abre sem se ter escutado de Molière todas as pancadas. Em que o happy end nunca tem lugar e onde as trapaças duplicam como apostas.
Eu vi. Eu estive lá, considerado como sendo deles.

Seja qual for o resultado, amanhã continuaremos ao sabor das velas que não abrem. A remar contra marés sempre vazias e enredados no odor do sabonete Palmolive.
Continuaremos a projectar futuros e a adiar decisões. A desconfiar do vizinho e a fazer duma mentira uma verdade até que chegue o dia da natureza obrigatória.

Por mim, e de qualquer das formas, mais revoltado não posso estar ao longo de estes anos todos . E é naquele pedaço branco de papel que o vou dizer, assim como todos os anarquistas da minha mocidade.
Mas não é por eles que o faço. É pelo meu direito à Revolução.

Portanto, vou ali derrubar este governo e volto já.


Confira os resultados das Eleições Legislativas 2005

Aqui...
Ou aqui.

11.2.05


Marcel Marceau

Estamos, praticamente, a uma semana de mais uma metamorfose social prestes a eclodir neste país onde já quase toda a gente sabe onde está plantado. Isso mesmo! À beira-mar.
Do quarto onde nasci continua a ver-se o mar. Mas durante os últimos trinta anos mantenho-me à beira. À beira de um ataque de nervos sempre que alturas destas acontecem. Para mal dos pecados de todos nós.

Pode ser da idade, diz-me o meu vizinho da frente.
Calcula-se até, que não tendo ninguém por perto para ler o futuro na palma da minha mão, a menopausa da mãe que me foi dada conhecer possa estar a dar cabo dos meus genes de estimação. (Pode ler-se em estudo recente da Science sobre a emancipação dos filhos). Ou, diz quem sabe, o facto de estar “agarrado” ao computador tempo demasiado possa prejudicar a minha visão analítica destas coisas. O que poderá tornar-me num desequilibrado mental. Crónico.

Mas desde miúdo que recordo a minha adoração, quase idolatria, pelo Zorro e/ou Robin Hood. Tem a ver com uma tara manienta que sempre tive sobre humilhados e ofendidos. Sobre secos e molhados, ricos e pobres e coisas assim. E se a verdade estiver nos signos do Zodíaco, sendo eu Carneiro, há em mim o desejo de mandar em toda a gente e por tudo em pratos limpos. Ajudar e resolver. E sobretudo, dar. Dar a perceber que a malta deste povo não é (não deve ser) estúpida e, se preciso for, também sabe retribuir. Nem que seja um par de estalos a quem nos julga por imbecis. O que me daria um gozo do caraças e o sentimento de um dever cumprido.

Mas como já demonstrei neste meu pequeno espaço, por variadas vezes, sou uma besta-quadrada em psicanálise e em cálculos matemáticos. Erro sempre em sociologia e, parece-me até, que necessito urgentemente de uma consulta psiquiátrica. Sem necessidade aparente de internamento compulsivo, diga-se de passagem.
Em sondagens ainda menos acerto, o que adjudica uma maior dose de estupidez da minha parte às tentativas a que me exponho.
Talvez por nunca recorrer muito aos ensinamentos de Platão, ser avesso a muitas filosofias de Nietszche, ao iluminismo de Locke e ter sido quase obrigado a aceitar as teorias de Charles Darwin. O que logo faz de mim um eleitor confundido. E por consequência... fodido.
(peço desculpa pelo palavrão)

Mas haja saúde!

Tendo a ser mais Dickens e Dostoievski, ou precocemente Agostinho da Silva. Pois fico "nunca sabendo se há filosofias nacionais". Mas admiro imenso as pessoas que descobri pelos blogs e estou agradecido pelo que tenho apreendido com elas em perfomancesestatisticaspontocom. Em claro e obscuro. Em verso e prosa, e outras advências que me surgem por acréscimo.

Sempre que quiser, serei tudo e nada. Poderei olhar as mamas da Samantha Fox quando ela tinha a vossa idade, apreciar um bom vinho alentejano e todos os carinhos que me enviam pelo correio. Também o ser benfiquista, faz de mim, desde já, um potencial sonhador nas capacidades humanas tornando uma mais-valia ao crer no futuro, e nesta malta toda, que nos pode representar neste vazio constante desta vida que se escolhe.
Mas existe um bichinho qualquer que me diz que não é desta que vamos lá.
Bastou-me olhar p'ra "eles", ouvi-los, e apalpá-los vem. Como diz o RAP.

Eu não sou político. Eu não tenho palavras. Eu não tenho vinho.
Mas que está aqui um caso dos trabalhos, lá isso está.

Agora, se não houver inconveniente, só cá venho no dia 20.
Vai apetecer-me andar por aí. A saber de uns e a outros conhecer.
Antes de me darem a saber a conclusão a que chegaram.

7.2.05



Carnaval 2005

Há seis mil anos atrás, o Carnaval justifica que afirme que “a tradição já não é o que era”.
Nem Baco tem o mesmo grau, nem Ísis aderiu ou se converteu às novas tecnologias.
Coincidente, ou talvez não, os carrum navalis da homenagem a Saturno, que eram viaturas puxadas por algumas cavalgaduras dessa altura, quer fosse em Roma ou no Egipto, afloriam nas ruas e vielas transportando em cima homens e mulheres nus. Despidos do seus mais elementares direitos ao agasalho, à reconversão de matérias fantasiosas ou outras abstinências pagãs.

Nos dias de hoje, o Corso está inserido numa sociedade menos clássica onde as máscaras surgem mascaradas. Menos artísticas, mais alegóricas. Pertinentemente mais Sócrates, infelizmente menos Dionisus, mas aonde se mantém alguns vestígios de bacanais, saturnais, lupercais e outros tantos uis e igual número de ais.

A Igreja sempre condenou estas manifestações até surgir Paulo II. Não este, o outro do século XV, quando permitiu o Baile de Máscaras no seu palácio. Uma abertura vista como mais uma fantasia dos tempos. Aqueles tempos. E nesses tempos, como nos de agora, posso aproveitar os ensinamentos do Dr. Hiram Araújo, um estudioso em assuntos relacionados com culturas carnavalescas, que considera estas barracadas em quatro períodos de excelência: O Originário, o Pagão, o Cristão e o Contemporâneo.

E se tudo isto é Carnaval, se tudo isto existe, se tudo isto é fado,

vais te mascarar de quê?

5.2.05



"xi... o Miguel Cadilhe, pá! Onde é que eu andava com a cabeça?
Tenho que reaver a minha agenda dos tempos do liceu..."

As minhas diferenças com Pedro

Pode até parecer absurdo, mas sempre admirei o Pedro.
E porque não somos todos iguais, simpatizo menos com Santana Lopes.
Estudamos juntos, reinamos muito, mas as nossas distinções verificaram-se logo após a infância pela altura da escolha dos nossos actuais dissabores : eu escolhi Benfica, ele optou Sporting.
Porém, a sorte ou azar que os (des)equilíbrios económicos provocaram não se ficaram por aqui.
Ele seguiu os estudos, eu fiquei pelo caminho. Chegou a PM, e eu, por outras vias, consegui um patamar social que, mesmo com as diferenças reais existentes nessa matéria, nada me envergonha de poder estar à altura dele. Como cidadão. Apenas com a diferença de ser eu a poder julgá-lo. A ele, o "retórico", porque sempre fui mais "prático". Ele comprava o "Diário de Lisboa", eu pedia emprestado o "República". Ele escarnecia disto, eu ria-me daquilo. Ele tem que arranjar trabalho, eu já o tenho. Ele tem um partido. Eu ainda não.

Nunca foram as festas de garagem que nos separaram. A função social encarregou-se disso. No entanto, convém sublinhar, que o Pedro sempre foi um visionista. Lírico e sonhador. Um "sebastião" convicto e sem Império. Como eu. Só que ele sempre possuiu o condão de ter mais lábia. Um exemplo de oratória para os engasgados. Mas, depois de alguns comportamentos corrigidos, e com uma vida - a minha e a dele - recheada de experiências, ele é uma pessoa rejeitada pela maioria dos putos da nossa escola (São Domingos de Benfica).
Eu nem tanto assim.

Nem ele se lembrará que costumávamos comparar cada "conquista" (se eu tivesse "duas", ele ia a terreiro e arranjava "três"), e onde o rumo de cada um de nós se foi desenvolvendo em separado. Eu casei, e ele já o fez mais vezes. Tem um património maior que o meu, e nunca o invejei por isso. Desenvolveu as suas apetências, sabe do mundo, da vida, e toda a gente o conhece. Eu não consegui. Só nos filhos é que (ainda) lhe ganho: sete a cinco.

Por isso, encontrar pessoas como o Pedro nas nossas vidas não sucede a todos. Agora ter Santana Lopes por perto, pode acontecer a qualquer um. Daí, ser apenas isto que me faz ter a mão na consciência e decidir se o avise, ou não, do fim da sua carreira quixotesca . Uma fase terminal de um círculo viciante e compulsivo onde a política o levou e que faz as diferenças que nos separam. Que pode acabar mal e anular, irremediavelmente, o Pedro que eu conheci.

Dá para acreditar?

3.2.05


Estou danado!

Não me convidaram para o debate.

(foto d'A Capital)

Mas fui ver! (sozinho)

A mulher adormeceu meia hora depois não sei antes de me responder a um comentário à mesa no jantar.
Eu - Estes gajos mentem com quantos dentes têm na boca!
Ela – Claro. São políticos.
A neta nem me disse nada quando veio buscar os bilhetes para “O Aviador”. Um beijo reconfortou-me a noite.

E eu que tinha tantas coisas para abordar...
Mas vali-me de um senhor que já foi vivo e que escreveu o que nunca morre, infelizmente:

“Aproxima-te um pouco de nós, e vê. O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos...”
Eça de Queiroz n’As Farpas

Depois... acho que também adormeci.

1.2.05



Ainda sou do tempo…

Hoje tenho vestida a minha farpela de sociólogo de meia-tigela. Não apenas para ter uma aparência diferente, mas porque a outra, a de operário, foi para lavar.
Já velho e cansado destas coisas da política, lembrei-me (faz hoje anos) que o Costa e o Buiça deram uns tirinhos para alterarem um regime.
Desta vez, no dia 20, Portugal, ou melhor, os portugueses vão dar tirinhos não para a mudança do dito mas, muito provavelmente, escolher outro chefe de governo.

Ainda sou do tempo em que os valores que despertavam nas pessoas a vontade de se expressar pelo voto eram a honestidade, a honradez e os ideais que os candidatos a tal cargo possuíam e com seriedade os defendiam.
Mas o "people" olha para estes tipos e fica logo a bater com "eles" numa lage. Não apenas pela forma como se degladiam, mas pela expressa falta de vergonha na cara, pela baixeza e a deselegância nos ataques pessoais, por golpes sujos e outras vilanesas, pela merda dos argumentos que arrastam atrás de si e pelo palavreado que alardeiam e nada muda.

Ainda sou do tempo em que os melhores políticos eram bem formados e as "promessas" que faziam não ultrapassavam o irreal. Ainda sou do tempo em que os políticos tinham um passado. Limpo. Cristalino e coerente. Sem correr o risco de lhes apontarem esquisitices, devaneios ou comportamentos que nunca podem ser de exemplo. Onde a arrogância e a prepotência logo ficavam banidos à partida , por quem de sol a sol fazia a sua vida.

Houve tempo em que lutei para acabar com a submissão implícita daquela gente e incentivar a liberdade no indivíduo como tal. Mas os tempos adulteraram-se e a escola destes gajos transformou-se. Por isso, não me admira que este povo transforme esta "cena", que devia ser bastante séria, numa palhaçada de risada à boca larga.
Diria mais: eles não sabem ou já não se lembram, que ainda sou do tempo em que umas trolitadas bem assentes faziam impor respeito e davam dignidade a quem assim lutava.
"à Buiça", se preciso fosse!

Mas... os tempos são outros agora.
Vá, vão lá votar, enquanto vou ver se a farpela que vesti ontem já está seca.