5.2.05



"xi... o Miguel Cadilhe, pá! Onde é que eu andava com a cabeça?
Tenho que reaver a minha agenda dos tempos do liceu..."

As minhas diferenças com Pedro

Pode até parecer absurdo, mas sempre admirei o Pedro.
E porque não somos todos iguais, simpatizo menos com Santana Lopes.
Estudamos juntos, reinamos muito, mas as nossas distinções verificaram-se logo após a infância pela altura da escolha dos nossos actuais dissabores : eu escolhi Benfica, ele optou Sporting.
Porém, a sorte ou azar que os (des)equilíbrios económicos provocaram não se ficaram por aqui.
Ele seguiu os estudos, eu fiquei pelo caminho. Chegou a PM, e eu, por outras vias, consegui um patamar social que, mesmo com as diferenças reais existentes nessa matéria, nada me envergonha de poder estar à altura dele. Como cidadão. Apenas com a diferença de ser eu a poder julgá-lo. A ele, o "retórico", porque sempre fui mais "prático". Ele comprava o "Diário de Lisboa", eu pedia emprestado o "República". Ele escarnecia disto, eu ria-me daquilo. Ele tem que arranjar trabalho, eu já o tenho. Ele tem um partido. Eu ainda não.

Nunca foram as festas de garagem que nos separaram. A função social encarregou-se disso. No entanto, convém sublinhar, que o Pedro sempre foi um visionista. Lírico e sonhador. Um "sebastião" convicto e sem Império. Como eu. Só que ele sempre possuiu o condão de ter mais lábia. Um exemplo de oratória para os engasgados. Mas, depois de alguns comportamentos corrigidos, e com uma vida - a minha e a dele - recheada de experiências, ele é uma pessoa rejeitada pela maioria dos putos da nossa escola (São Domingos de Benfica).
Eu nem tanto assim.

Nem ele se lembrará que costumávamos comparar cada "conquista" (se eu tivesse "duas", ele ia a terreiro e arranjava "três"), e onde o rumo de cada um de nós se foi desenvolvendo em separado. Eu casei, e ele já o fez mais vezes. Tem um património maior que o meu, e nunca o invejei por isso. Desenvolveu as suas apetências, sabe do mundo, da vida, e toda a gente o conhece. Eu não consegui. Só nos filhos é que (ainda) lhe ganho: sete a cinco.

Por isso, encontrar pessoas como o Pedro nas nossas vidas não sucede a todos. Agora ter Santana Lopes por perto, pode acontecer a qualquer um. Daí, ser apenas isto que me faz ter a mão na consciência e decidir se o avise, ou não, do fim da sua carreira quixotesca . Uma fase terminal de um círculo viciante e compulsivo onde a política o levou e que faz as diferenças que nos separam. Que pode acabar mal e anular, irremediavelmente, o Pedro que eu conheci.

Dá para acreditar?

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