23.2.07

Como se calcula, a maior parte dos bloggers não fazem vida disso. Escrevem e contam estórias apenas por prazer e passatempo. Transmitem pedaços da sua própria vida e trocam impressões, sorrisos, abraços virtuais que nos fazem descobrir a fórmula de sermos melhores pessoas. Criam amizades e outros laços afectivos como se desde pequeninos se conhecessem. Marcam encontros, almoços, e jantam em simples cavaqueira e reinação. Celebram datas que os marcaram a todos e trocam opiniões.
Este dia vinte e três não foge à regra, e hoje considero-o especial.

Para além de vincar sempre que posso a relação com a minha companheira nesta data, faz hoje vinte anos que morreu o Zeca Afonso. Isto lembra-me logo uma data de comunistas e poetas de quem fui, ou sou, compincha. Isto leva-me logo às calças à boca-de-sino e ao cabelo comprido a chegar ao meio das costas. Isto leva-me no comboio descendente e ao trazer mais um amigo. Às reivindicações, manifestações, e muitos encontrões e chibatadas de uns senhores de escuro vestidos.

O Zé estará para os putos da minha rua e geração como o Benfica esteve para os insatisfeitos da minha cidade. Coisas distintas é certo, mas que por qualquer razão que nem só os psicólogos sabem explicar, eram motivos mais do que suficientes para nos fazer pôr a pensar, a mexer e a gritar.

Zeca Afonso é, foi, e será sempre, um marco na minha formação como pessoa. Igualmente como os meus filhos e netos, ou as alegrias e tristezas que preenchem as vinte e quatro horas de todos os dias que continuarão até ao final dos outros que ainda me podem sobrar. Tal como os bloggers, essa rapaziada que escreve e contam estórias reais. E que me ensinam a ser melhor pessoa.

13.2.07






RTP 50 ANOS

São estas pequenas coisas que trazem à realidade quantos anos já passei.
Impossibilitado na escolha de ser filho do Estado Novo, sinto-me um dos netos do 25 de Abril. Só que já cá moram quase cinquenta e três e nem sequer ando a dar por isso.

O facto da RTP comemorar meio século levou-me a lugares longínquos no tempo. Nasci ao lado dela e retenho gratas recordações daquela infância.
Para quem não sabe, a minha escola na Rua de Santa Marta “dava” o dia 7 de Março. Dia maioritariamente dedicado aos miúdos. Muitos desenhos animados e muitos filmes. Estarei avulsamente a recordar o gato Silvestre e um outro com uns olhos muita grandes, o Bugsy Bunny, o Coyote, eu sei lá…, só sabia que aquele dia era o dia de fazer “campismo”; almoçava, lanchava e jantava no tapete que estava em frente da televisão.

Sendo de origem humilde, no entanto, tive a sorte de viver os meus primeiros anos na casa da minha tia Esperança. Uma minhota finíssima de trato e de perspicácia incomum que nos deixou faz pouco tempo. Mulher independente, acima da classe média em termos financeiros, que me permitiu desfrutar de oportunidades fantásticas que a maioria dos miúdos da minha rua ainda não tinham. A caixinha que mudou o mundo foi uma delas e comecei a formar-me com o Ivanhoe, com o Robin dos Bosques e com o Oliver Twist, entre outros. Pequenos momentos mágicos (link) da minha vida que ajudaram a lapidar o que hoje sou: uma completa miscelânea maluca daquela década.

Por isso, antes que passes o “Vamos dormir”, obrigado RTP!
Por tudo.

2.2.07



À pergunta do referendo sobre o aborto quem vota Sim ponha o dedo no ar!

Claro que a questão colocada deste modo, até parece estou a reviver os excessos daquela juventude revolucionária de que fiz parte. Mas com o passar dos anos, a malta vai adquirindo mais e mais conhecimentos, mais e mais experiência, e chegamos a um ponto onde podemos dar palpites qualificados. Daqueles que já nos passaram pelas vidas, daqueles encontros fortuitos, e daquelas camas feitas à pressa e mal-amanhadas, só para podermos dar a cambalhota do século com a miúda que engatámos naquela festa, praia ou discoteca, e depois se tem azar.

Calhou-me ser um dos felizardos desses azares cometidos por essa mesma juventude que, e diga-se em termos abonatórios, não é muito diferente da de hoje. No entanto, as soluções não tinham nada a ver com as que existem nestes tempos, onde as coisas correm mais depressa, e decidimos (eu e a secular chavala) fazer abortar o fruto daquele amor acalorado. Faria talvez hoje, ou amanhã não sei, 34 ou 35 anos se tivesse vindo a nascer e seguisse o mesmo rumo dos sete que vieram a seguir. E que continuam vivinhos da costa, graças a todos.

Dois contos e quinhentos foi quanto aquele risco me custou. (mentira, foi a minha mãe que ardeu)
Mas agora o país modernizou-se. As relações sexuais, mesmo que fortuitas, são mais cuidadosas devido à informação que se possui. Mais programadas em termos de saúde e higiene. Para "desgraça" da paixão assolapada que nos estava à flor da pele naquele tempo e que era tudo ao molho e fé em deus (hehe...).

De qualquer forma, não faço nem quero fazer, parte activa de qualquer Movimento. Primeiro, porque existem lacunas que o Estado ainda não clarificou no que diz respeito ao aborto que se está a tentar discutir, e eu nestas coisas desconfio imensos destes gajos. Dos outros também, é óbvio. Segundo, porque, na minha opinião, é às Mulheres deste país a quem cabe esta palavra final.

Só que pelo meu lado, gostaria que aquela cave da “Luciano Cordeiro” não se repetisse, e que o futuro que está nas mãos desta juventude nunca mais tivesse que subir aquelas escadas às escondidas.