27.11.05

Os Candidatos


Qualquer que seja o lugar a que cada candidato se candidata, podem prever-se várias estimativas que os estimulam a isso. Talvez a vaidade, apetência e/ou vocação. Do oito aos oitenta, vai-se em três segundos mais rápido do que qualquer Ford Escort alterado para as corridas nocturnas em Monsanto.

Pode até desconhecer-se, mas cada um de nós tem em si um candidato escondido. Ou porque se quer resolver coisas e estar disposto a dar um abanão a esta merda, ou aproveitar a dolce vitta que proporciona ser-se conhecido quando se passa em qualquer rua ou lugar. Aí, não há mãos a medir. Reveja-se as imagens televisivas. As fotos das revistas. Outra vida que podia ter tido o gajo da fotografia. Vejam-se as candidaturas ao primeiro emprego. Aos castings. Ao subsídio e ao desemprego. Continuamos a ser "the best".

Estão a extinguir-se as Terezas de Calcutá. Os Budas e os São Franciscos Xavieres. Sobram entretanto muitos macedónios entroncados com perfil adequado no uso da força e da fraude: os tiranos. È apenas uma questão de escolha.
Acontece que os portugueses preferem que os não tomem por candidatos. Nem sequer apreciam o facto de escolher. Situam-se na longa lista de indecisos, jogam à defesa e atacam à má-fila e na má-língua. Tudo ao molho e fé num deus que já morreu. No entanto, existe a esperança de que qualquer coisa possa melhorar. Nem que seja para pior.
Depois disto, resta-me candidatar a um lugar que nunca quis: o meu sofá. E ver dali o que mais nos irá acontecer.

Uma boa semana a quem passar por aqui. Aos outros também, claro.

26.11.05

Olá!


esteve por aqui esta semana? Já aí vou...


É porque hoje também ganhei o direito de acordar assim. Parafraseando a Carla (link) ao ver aquela manganona ali ao lado.

19.11.05

A Sociedade Civil

Ao contrário do que se possa pensar, a Sociedade Civil é desmedida em contrastes de coloração política. Tanto pode estar de alva vestida pela noite adentro como de tons nocturnos logo pela manhã.
Nunca se sabe por onde anda nem aonde vai. Uma galdéria assumida, diga-se, mas consta como verdade que gosta de frequentar tertúlias e congressos. Reuniões e raves que durem até às tantas e metam acepipes sem ter que desembolsar um tusto.

A Sociedade Civil é daquelas coisas muito independente que faz da diferença do seu próprio pensamento o seu maior trunfo. Há quem diga que da indiferença também. Daí, poder dizer-se que é uma puta sabida que jamais se compromete publicamente porque lhe falta o vigor da tenra idade.

De experiências acumuladas e super-protectora, é a mãe de todas as consciências. Sobrando-lhe ainda, o aplauso que dedica às causas nobres e aos apelos nacionais. Isso deu para ver no Euro 2004, na vaga de incêndios que afligiu o país e na diplomacia com que trata os caprichos da administração do Metro do Porto e os negócios pouco claros da Banca .

Quanto às presidenciais, é lírica e romântica mas não gosta de perder nem a feijões. De tal forma, que o seu sentido de voto esteja irremediavelmente inquinado para o que pensa ser a solução menos gravosa. Mas não faz mal. A "Brasileira" tem café à borla, o meu filho Marco também faz anos hoje (28) e não é à Sociedade Civil que se pedem responsabilidades.

Bom fim-de-semana!

11.11.05

A Opinião Pública

Esta semana conheci a Opinião Pública.
Figura desassombrada, hirta, muito tu-cá-tu-lá com toda a gente e com semelhanças várias entre a Júlia Florista e a Rosa Enjeitada.

Motivado por razões óbvias – a minha campanha virtual, claro - era obrigatório que um convite para se explicar perante nós fazia sentido. Tanto mais que nestes tempos mais próximos apenas posso vir aqui uma vez por semana.

Sem tornar notória as minhas intenções, movia-me a curiosidade de saber da boca dela própria todos os queixumes. As amarguras que a penetravam (salvo seja), mais os conceitos e os predicados que, por norma, lhe são atribuídos.
Nesta matéria pareceu-me simpática, mostrando-se até entusiasmada com o enorme enlevo que é tida em conta pelos mais variados sectores da má-língua.

Falámos um pouco de tudo e de nada.
Aproveitámos a oferta de castanha assada na tascazinha de Alfama onde nos sentámos a beber um "tricofaite" (receita lá da zona) e soube por ela que tem uma família composta de muitas opiniõezinhas e zinhos. Aliás, como eu.

Sempre com o coração ao pé da boca, a Opinião Pública pareceu-me deveras sabichona e de quem se espera sempre uma resposta a qualquer assunto. Seja ele sobre os namoros homossexuais nas escolas portuguesas, as escolhas mediáticas de Luiz Felipe Scolari, ou inclusive, note-se, a preocupação de como os quatro jurados do “Caso Joana” teriam tão depressa aprendido as leis que regem o Direito, mais o Processo Civil e Penal Português para provar que o nosso povo não é parvo e castiga de forma severa os malfeitores.

De qualquer das formas, a Opinião Pública está exaustivamente por dentro de tudo o que se passa à sua volta. É volumosa de ideias e tem as costas largas. Cheia, portanto.
Desde Clichy-sous-bois até Omã. De Felgueiras até ao Iraque. Do Arco do Carvalhão até às putas de Bragança, opina sobremaneira sobre tudo mas ainda está para saber como é que a Gala da Confederação do Desporto conseguiu atribuir o prémio de "Treinador do Ano" a José Peseiro.

Quando lhe perguntei sobre a campanha dos outros candidatos torceu-me o nariz. Disse-me, olhos nos olhos, que muitos deles não têm tomates – foi mesmo assim – para endireitar o país, quanto mais foder o que fodido está.
Mas acho que gostou de mim. Talvez o bigode a tivesse impressionado, sei lá…
Uma coisa ficou acertada. Vai apresentar-me em breve a prima. Ainda mais maluca do que ela: a Sociedade Civil.

Até p’ra semana!

5.11.05

O Perfil

Após ter ultrapassado a barreira dos cinquenta descobri que também eu tenho um perfil. E com estas coisas das presidenciais, até que podia ser um “bom” candidato a candidato. Vejamos.
Tenho cento e oitenta centímetros de altura, mas de perfil pareço um pouco mais alto. Parte da minha juventude passei-a a guardar gado e estou bem por dentro dos males de que padece a Agricultura. Comecei bastante cedo a ligar-me às relações internacionais visto que o “boom” da emigração clandestina passou quase todo pela minha aldeia.
De finanças, nada nem ninguém melhor do que eu sabe como orientar um orçamento reduzido e estou à vontade para explicar direitinho todas as elasticidades e as matemáticas que se pode fazer a uma nota de cem euros.

Não sendo um político profissional, pertenço à classe dos “gandas mentirosos” e prometer é o meu ganha-pão. Tanto assim que o défice, a gripe das aves e a crise do Sporting, seriam as minhas primeiras prioridades a resolver. Outras se seguiriam como o desemprego, a Justiça e os projectos para o desenvolvimento nacional. Basta dizer que nestes últimos meses estive profissionalmente destacado no Centro de Formação Regional de Setúbal, na Casa Pia de Lisboa e no Intituto Superior de Engenharia da mesma cidade.

De História estarei ainda mais à vontade; não sei se alguém já reparou, mas neste humilde espaço há um tempo a esta parte não faço outra coisa senão contá-las. Assim como nos campos de Geografia, Economato e Veterinária não me atrapalho, tendo já estudos escritos sobre a matéria mas que ainda não me foi dada a oportunidade de publicar.
Nas Artes e na Cultura sinto que tenho ainda muito para dar ao país. Sou um óptimo actor e tenho sempre mais do que cinco minutos para ler os jornais sem ter a boca cheia de bolo-rei.
Isto sem falar das qualidades que possuo sobre os temas da Saúde e do Ensino devido ao facto de morar junto a um Hospital e estar rodeado por escolas secundárias.
Tudo aquém de nas horas vagas ter a pretensão de ser poeta.
Se isto não é ter perfil…

O que falta são as assinaturas. Mas vou já ligar para a Vogue, Visão e Reader’s Digest.

Bom, mas agora está na hora de ir fazer campanha porta-a-porta e passar nos blogs que tenho mais ao pé. Ou mais à mão.
Bom fim-de-semana!

4.11.05

ALERTA À POPULAÇÃO stop DEVIDO AO PROVÁVEL SURTO DE GRIPE DAS AVES stop AVISA-SE A POPULAÇÃO stop DE QUE SE DEVEM DEITAR O MAIS TARDE POSSIVEL stop NUNCA, MAS NUNCA stop SE DEITEM COM AS GALINHAS stop

1.11.05



O Terramoto e outros abanões

Duzentos e cinquenta anos depois, relembrar o Terramoto está na ordem do dia.
Assim como a escolha do meu almoço e demais tragédias e outros tronos derrubados.
Apenas alguns recordarão as memórias de Al-Quibir que não chegou a ser Alcácer. Apenas nós relembraremos Inês e o seu coração arrancado por vis traidores a um amor assolapado. Mais o de Isabel, real alteza, que com rosas alimentava um povo às escondidas de um tal Diniz que cavalgava toda sela e mais proveitos.

Talvez nunca esqueceremos Luiz Vaz, morto à míngua pela fartura que reinava de quem foi expulso, nem a audaz e corajosa estupidez dos conselheiros do Reino dessa altura e muitos Vasconcellos em que somos férteis.
E o Adamastor, recordareis por acaso?
Já agora, lembrai também as desavenças de Afonso e sua mãe Tereza, a bastarda de fino fidalgo de Castella e a palavra d’honra de Moniz. Um Egas chamado de forte velho, e para leais vassalos, claro espelho, e vede as semelhanças ou demais diferenças.


Chama-se a isto Fado. Saudade. A Alma valente dum povo que nunca morre.

Nestas letras singelas de tradução inexistente, existe um timbre duma nota só, porque dos gentios que somos e se preza, a palavra que nos é dada nem sempre cumprida é. Nem que por dada causa se pague em prestações.
Ímpares e aos pares, em cada canto onde se oiça a voz de Portugal e dos que se dizem portugueses como Joana Brites e mais seus sacos de farelo remendados.

Por isso, esperai pela pancada, poderia dizer Bandarra.
Ide e vede outros vendavais que se avizinham, falou Bocage que não era, “e à cova escura vai parar desfeito…” o sonho que teve em vão, remataria eu.

Pois após saber de antecâmara que outros terramotos se aproximam, agrestes e sombrios, quiçá soberbos ou malfadados como nos tempos da moda das tranças pretas, é bom saber que estais aqui de corpo e alma como Agostinho, o Santo Intrépido, ou tal galego de minha rua, indiferente a tantas modernices que o levaram a reinventar a tasca dele.

Que tenham bom Terramoto... perdão, um leal feriado.