30.5.07



Esta brincadeira dos blogs tem coisas giras.
Estarei a lembrar-me de no século passado, os mais antigos nestas andanças (os meus amigos brasileiros), faziam da blogosfera dessa altura a moda do célebre FlashBlog; um momento único em que um blogger estava vinte e quatro horas à frente do teclado a editar o seu blog com tudo o que lhe viesse à cabeça. Desde música, arte, literatura, culinária, poesia e outras coisas que não lembravam ao diabo, para animar um dia como outro qualquer a rapaziada que por lá passasse. O/a desgraçado/a tinha que ali estar de noite e dia a animar os visitantes e que, ainda por cima, era obrigado/a a responder aos comentários que se faziam chegar. Chegaram a ser às centenas.

No final, provavelmente exausto/a e bem tocado/a, o/a pobre diabo passava o testemunho do próximo ao visitante mais participativo e, a coisa por assim dizer, passava de blog em blog até a malta se aborrecer e partir para novas iniciativas. Claro que copiei a ideia. E como na altura os blogs portugueses estavam mais virados para a guerra do Iraque, a brincadeira nem de perto nem de longe teve o sucesso com que a minha amiga Civana fazia o dela. No entanto, com os vinte ou trinta, já não me lembro, que por lá se fizeram representar, divertimo-nos à brava.

Isto vem a propósito de quê?
Vem a propósito que o meu amigo António Peciscas se lembrou de me atribuir, e a mais outros quatro bloggers, o prémio “Blog com Tomates”. É mais uma cadeia que rola em cadência nas pessoas que se tornaram amigos pela escrita. Agora para dar continuação à coisa, já é mais difícil. Primeiro, porque escolher alguém que nos toque mais de perto e que “lute pelos direitos fundamentais do ser humano”, como refere a origem desta menção, é complicado. Segundo; designar cinco que conheçamos já é mais fácil, mas peca pelo número escasso que nos é permitido nomear porque são imensos. No entanto, as minhas nomeações para receber este Prémio são:

- Tupiniquim

- Memórias do Cárcere

- Sidadania

- SolidariedadeBlog

- Netescrita

Mas haveria mais. Muitos mais, que fazem ver que vale a pena lutar pelos direitos e conquistas contra as desigualdades, injustiças, precaridades e desenquadramentos que presenciamos a toda a hora. Quer na saúde, no ensino, na justiça.

23.5.07



A Candidata

Esta candidata, parecendo a mais fácil de todas, é a mais difícil a quem posso contrapor o que quer que seja de irrazoável.
Para além de ser a suposta eleita que fará com que o meu círculo de vida termine com dignidade, é a “pikena” que mais pachorra teve nos meus excessos e conceitos. Os meus filhos sabem disso, e nada melhor que um dia vinte e três para dar a conhecer certos parâmetros. Desenganem-se todos aqueles que possuem de mim um retrato colorido.

Sou intolerante, ditador, tipo de gajo que acredita que o pensar dele é o mais certo. Considero-me atrevido e sem funções qualificadas, esperto ou parvo consoante os dias em que se vai sobrevivendo. Penso ser ateu, de esquerda (ou o que isso queira dizer), e ainda creio no Benfica e na boa-vontade de toda a malta em quem acredito diariamente. Mesmo, mesmo, desde pequenino. No entanto, todos os defeitos de quem ama alguém ou alguma coisa acompanham-me desde que nasci.

Sempre gostei de pobres, de animais abandonados, de causas perdidas. E hoje em dia, mesmo sabendo que as pessoas conotam e avalizam pelo que ouvem ou lêem nos blogs, não temo dizer à boca cheia que gosto de crianças. Pode provar-se pela família numerosa que consta no meu registo paternal, pelas lutas laborais e políticas que travei, pelos cães que sempre tive e gatos que agora tenho. Pela vontade com que me dispus ajudar, logo que possa, os que estão mais à rasquinha.

Pode trair-me uma paragem cardíaca, o vinho alentejano, a visão que tenho das coisas falsas. Podem trair-me as horas extras de trabalho ou as sensações que concluo serem normais em dias a que não posso responder. Mas o que nada me pode trair, é a certeza que tenho nesta minha candidata que me promete, e cumpre, um final feliz.

17.5.07



O Candidato

Para o melhor e para o pior, qualquer português é um eterno candidato.

Retratando-me pelos que já conheço, sei de fonte segura que desde o início do crescimento dos primeiros pêlos da futura barba que muitos depois passam a odiar, somos logo candidatos ao melhor partido da terra; ou seja, a miúda mais bonita que alguém alguma vez já viu. E temos largas experiência no assunto; fomos candidatos ao maior pão com chouriço do mundo, aos maiores fundos comunitários e, a crer no desafio de Blatter, somos candidatos a um dos próximos Campeonatos do Mundo de Futebol. O que me fez logo relembrar noutra vertente, o Benfica; o candidato a maior galáctico à face da terra.

Pelo sim pelo não, e entretanto, o termo candidato é “aquele que aspira a emprego ou dignidade; o que solicita votos para ser eleito para um cargo”, diz o dicionário. Mesmo que o cargo não dignifique toda e qualquer candidatura, mesmo assim, gosto da expressão. Soa-me a cândidas promessas, infelizmente candidatas a caírem em saco roto, como qualquer candidato que se preze gosta de salientar nos seus desaires.

Para quem conhece bem o país e os portugueses, não pode desmentir que numa simples matança do porco a candidatura de haver festa começa logo antes de trazerem o animal da loja, onde provavelmente nasceu, e no qual era o candidato número um para o destino que lhe estava reservado: presunto, salpicão, chouriça. Febras, coiratos e rabinhos com feijão encarnado.
Tal como um tipo qualquer, a acontecer num simples bailarico de aldeia, se se meter com a nossa namorada candidata-se a levar um murro nos cornos e a sair dali em maca. São assim mesmo os candidatos, e não há volta a dar. Porque falar dos ditos nos tempos que correm, qualquer estudante em disciplinas abrangentes e contemporâneas, candidata-se à nota máxima. Tudo pela urgência da teoria. Tudo pela mensagem que um candidato a qualquer coisa quer fazer passar.

E neste caso, não sei se fiz passar a minha. Quer a mensagem, quer a candidatura. De qualquer das formas, e até ver, permito-me pensar que me candidato a que ninguém passe cartão aos disparates de um candidato a candidato. Depois de ler o que um que nunca o foi tivesse dito:

"O pior analfabeto é o analfabeto politico. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, (...) do sapato e do remédio, depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista. O charlatão, o corrupto, o lacaio, os exploradores da malta que vota neles."
Bertolt Bretch