17.5.07



O Candidato

Para o melhor e para o pior, qualquer português é um eterno candidato.

Retratando-me pelos que já conheço, sei de fonte segura que desde o início do crescimento dos primeiros pêlos da futura barba que muitos depois passam a odiar, somos logo candidatos ao melhor partido da terra; ou seja, a miúda mais bonita que alguém alguma vez já viu. E temos largas experiência no assunto; fomos candidatos ao maior pão com chouriço do mundo, aos maiores fundos comunitários e, a crer no desafio de Blatter, somos candidatos a um dos próximos Campeonatos do Mundo de Futebol. O que me fez logo relembrar noutra vertente, o Benfica; o candidato a maior galáctico à face da terra.

Pelo sim pelo não, e entretanto, o termo candidato é “aquele que aspira a emprego ou dignidade; o que solicita votos para ser eleito para um cargo”, diz o dicionário. Mesmo que o cargo não dignifique toda e qualquer candidatura, mesmo assim, gosto da expressão. Soa-me a cândidas promessas, infelizmente candidatas a caírem em saco roto, como qualquer candidato que se preze gosta de salientar nos seus desaires.

Para quem conhece bem o país e os portugueses, não pode desmentir que numa simples matança do porco a candidatura de haver festa começa logo antes de trazerem o animal da loja, onde provavelmente nasceu, e no qual era o candidato número um para o destino que lhe estava reservado: presunto, salpicão, chouriça. Febras, coiratos e rabinhos com feijão encarnado.
Tal como um tipo qualquer, a acontecer num simples bailarico de aldeia, se se meter com a nossa namorada candidata-se a levar um murro nos cornos e a sair dali em maca. São assim mesmo os candidatos, e não há volta a dar. Porque falar dos ditos nos tempos que correm, qualquer estudante em disciplinas abrangentes e contemporâneas, candidata-se à nota máxima. Tudo pela urgência da teoria. Tudo pela mensagem que um candidato a qualquer coisa quer fazer passar.

E neste caso, não sei se fiz passar a minha. Quer a mensagem, quer a candidatura. De qualquer das formas, e até ver, permito-me pensar que me candidato a que ninguém passe cartão aos disparates de um candidato a candidato. Depois de ler o que um que nunca o foi tivesse dito:

"O pior analfabeto é o analfabeto politico. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, (...) do sapato e do remédio, depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista. O charlatão, o corrupto, o lacaio, os exploradores da malta que vota neles."
Bertolt Bretch

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