4.1.05



As listas

Hoje passei-me e estive muito seriamente a pensar em votar. A sério!
Lembro-me que da última vez que o fiz levei uma banhada completa. “Perdi”. Mas além de “perder”, sempre ganhei uma coisa de que nunca abdiquei: a razão.
Digamos que é a compensação dos justos. A minha, claro. E o tempo veio confirmar que a tinha.

Quase trinta anos passados, a classe política (profissionalizada) nada veio alterar ao dispositivo da minha auto-defesa. Continuam a pensar que somos todos parte de um rebanho, que o povo é sereno e nunca interrompe uma masturbação. Nunca abdica de um convite para uma festa. Um bailarico, um copo, uma jantarada, quanto mais um coito. E sentem-se felizes por conseguirem realizar os desejos mais prementes deste povo.

Olhando para esta geração política, hoje, penso que estamos mais mal servidos a cada ano que passa. Quer em termos de qualidade, quer em quantidade. E para contra-ajudar, os portugueses estão a ficar velhos, pasmaceiros e rabugentos como eu, para os poder mandar para um sítio que eu cá sei.
Pegando nas palavras dos doutorados e entendidos na matéria, parecem cogumelos depois de um dia de rega, diria que esta lista de pessoas apresentadas a sufrágio, garante-me a célebre frase que a minha já gasta memória me recorda: mudar para que tudo fique na mesma.

Era precisamente o que não esperava destes gajos que se dizem inovadores.

Ainda não éramos seis milhões de benfiquistas e já o meu pai me alertava:” filho, tem cuidado porque eles andem aí.
Palavra de honra se conheço metade dos arautos da mudança!?
Em determinados círculos eleitorais, presumo até que os nomeados desconhecem os problemas de que a região padece e onde a formação académica de cada um nem sequer tem nada a ver. Abstenho-me até de abordar questões de favores emocionais onde em Coimbra é mais patente.
Em todos os distritos, que a Constituição prevê o fim e que ninguém ainda teve a coragem de assumir, é notória a clivagem e a oferta dos cargos públicos. Os aparelhos partidários sonegam a competência, a experiência e a não-obrigação das doutrinas programáticas dos chefes, em detrimento dos nomes mais sonantes. Dos gajos com as quotas em dia ou do raio que os há-de partir. Eles são arguidos, eles são suspeitos de actos pouco claros, eles são corruptos, oxigenados paneleirões e outros que tais.

Ainda assim exigem-me que escolha? Não estou a ver...

Mas este povo foi habituado assim. A barba e cabelo. A pão e chicote.
Mas nem para isso temos um aprendiz de feiticeiro, fosca-se...

Vou tomar banho de água fria. Pode ser que isto passe.

Enquanto isso, vão estando atentos e digam lá se pode ou não falar-se o fado.



Sem comentários: