16.9.05



Um olhar sobre a Cidade...

A minha.
Onde por obra do destino terei nascido.
Criado de ruas mal-afamadas e de vossas excelências, eis que surge a oportunidade de a ver de perto antes de nascer o dia. Está diferente e anda triste, a minha cidade. E quão penosas estão as almas que por cá vagueiam. Pálidos rostos, esgares cansados, nenhum sorriso.
Cinzenta. Suja e apertada. Com pedras e rugas, uma desgraça. O meu jardim transformado subterrâneo. Feito para coisas que andam mais depressa. Sem Graça.

Dessas almas e desgostos, ninguém nos dá bons-dias.
O passo curto dos ponteiros do relógio troca o Paço. O do Terreiro.
Os amarelos da Carris estão difusos. Transtornados e obtusos. E choro. Convulso.
Faltam-me varinas. Ardinas. O leite vendido a retalho e o café com pão. Fresco. Estaladiço como D. Sebastião.
Faltam-me odores. Alfamas e outras mourarias.
Cores. Beijos e abraços. Mais fantasias.
E fujo. E escondo. A amargura de ter por dita a minha sina. Do fado. Deste rio que viu nascer a liberdade.
E tremo. E julgo. E digo.
Que mais traições terá minha cidade?


Então sou ou não sou doutor? (lá dizia o Vasco...)

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