6.5.06




A duplicidade dos portugueses sempre foi um trunfo nas relações que mantemos ao longo da vida com toda a gente, em quase tudo e em todo o lado. Suportados por dois pés, moldados por duas mãos, orientados por duas cabeças.
Já a cumplicidade tem os seus custos duplicados na factura que pagamos se não tivermos dois empregos.

É ponto assente que, duma forma geral, vive-se e morre-se em doses duplas. Em vida somos uns filhos da p…, que depois de a alma nos ter deixado passamos a ser as pessoas mais bacanas deste mundo.
Enquanto vai durando a experimental passagem por este lugar dos vivos, nunca abdicamos de nos rodear de duplicidades; temos dualidade de critérios, de conceitos ou de escolhas, e sempre que caímos à primeira sabemos que à segunda só cai quem quer.

Em Portugal vive-se com dupla personalidade até à exaustão: dobramo-nos em esforços para ultrapassar dificuldades, duplicamos as energias quando somos espicaçados, exigimos em troca o dobro de tudo quanto se dá.
Em sociedade, o diapasão é semelhante: pede-se uísque duplo em sessões especiais, repete-se a dose do cozido à portuguesa quando não somos nós a pagar, e quem não gosta de duplicar as suas próprias emoções sexuais…

À nossa volta, tudo gira com funcionalidades duplas: temos a alternativa governamental habilitada a dois partidos, temos - pelo menos - dois clubes que elegemos ser do coração, temos sempre duas opiniões e cultivamos o amor e o ódio como duplas sensações de estar na vida.
Para mal dos nossos duplos pecados só não temos duas dela, dois ordenados e dois meses de férias.