8.5.06

Hei-los que partem

Nesta altura do campeonato, falar de futebol é tão ou mais importante como debater os mega projectos governamentais, a crise económica que o país atravessa ou as (des)conjunturas sociais.
Porquê? Porque está em causa o equilíbrio emocional de cidadãos anónimos e sem blog, cidades e regiões que dependem de receitas extraordinárias, sentimentos patrióticos que a razão dificilmente saberá explicar.

E nesta trágica contabilidade dos pontos ganhos e perdidos, o esgar da cidadania regional condói-se. Contrai-se e contraria-se como Fernando Ferreira na defesa da sua ideia. São como colheitas arrasadas por um traiçoeiro vendaval. Um aluimento que foge debaixo do chão que pisam. Um tremor de terra que abala a sua própria vida.

Vi homens e mulheres a chorar por causa disso. Presenciei crianças com cara de espanto sem saber o que aconteceu ao vê-los naquele estado. Vi olhares sombrios e gastos, faces de rugas vincadas pelo desânimo por não terem chegado ao fim.

É terrível a angústia pessoal que o futebol arrasta atrás de si.
Uma bola que bate na trave, um penalty "roubado" à descarada, um golo nos últimos descontos, uma Rádio que difunde em dois minutos as alterações da última classificação.
Aconteceu já com abnegadas gentes alentejanas, transmontanas e algarvias. Acontece hoje com os incansáveis minhotos e com uma parte significativa dos bairros velhos de Lisboa. Mas a matemática futebolística é mesmo assim: o fado dum povo atormentado sem o carisma que Raquel Lito descobriu.

Por isso, é pena minha vê-los partir.