13.1.12

O Adamastor



"Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
— "Ó Potestade, disse, sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?"


Ainda não encontrei nos areais destas praias mal frequentadas a bússola que me possa orientar onde é sul e este. E de caminhos já longos e percorridos, penso que nunca perdi o norte. Mesmo que Sereias sedutoras, transformadas em Delfins destes barrancos e vales à beira-mar plantados, me possam tentar contradizer.
É uma questão de fé e arrojo.
E mesmo que a fé nos tenha já abandonado, resiste a audácia que nos legaram Afonsos e Viriatos. Padeiras e vassalos. Descobridores e conjurados. Capitães e poetas. Operários e campesinos a quem a terra e o sustento tiraram em tempos idos.
Sou filho da terra onde nasci. E é por ela que agora vejo quem tomou montes e serras. Cada sulco cavado à rebeldia. Cada tomate apanhado. Quanta fruta apodrecida.
“Basta!”, disse um poeta da minha rua. “Os sonhos não envelhecem.”
Que fazer?, procurou indagar Lenine um dia. Mas os ideais e sonhos que acalentavam a esperança de mudar de sítio os donos dos cavalos acabou. Que faremos nós?, pergunto eu que nos meus próprios de menino queria mudar o mundo…
Não sei. E mesmo que soubesse, faltar-me-ia ainda qualquer coisa. Apenas sei que me estou a debater com uma grave crise para a qual nunca contribuí e não sei a volta a dar.
Mas há-de haver uma forma de protesto. Nem que seja à espadeirada.

3 comentários:

Al Cardoso disse...

Um excelente texto que nos faz pensar e muito!
Estou como voce, ..."ha-de haver uma forma"...

Um abraco amigo d'algodres

eduardo disse...

Faz tempo, amigo, que não te via. Fornos e Forninhos estão sempre no meu coração.

Madalena disse...

Mesmo conhecendo bem a tua escrita, surpreendes-me sempre e cada dia mais! Vamos ao que "menos" nos devia interessar já que para isso não contribuímos: nem que seja à espadeirada. Reforço! Assino por baixo. Com muita amizade. Com muita admiração! Aquele abraço e um beijinho grande!