17.5.11

De que é que tens saudade?...

… é uma pergunta que se arrasta pelos meus lençóis adentro, faz algum tempo. Está escrita na parede onde os meus olhos adormecem. Temo é o saber dum chegar ao fim, sem ter balanço e acta escrita, nestes cinquenta e sete degraus que já subi. E entre altos e baixos, a pergunta renitente que me assola, resiste ao que não queria responder: “De que saudades tens?”.

Primeiro que tudo, tenho a saudade de ser menino. Da minha Mãe e do meu Pai. Da minha primeira bola. Dos amigos da minha primeira infância. Da minha escola. Tenho saudade de coisas que nem sequer me lembro, mas sei que as vivi.

Ter a saudade por perto, é um enorme desafio. É uma memória, menina e traiçoeira, que reaviva os nossos passos. O percurso pelo qual todos nós passámos e que, por vezes, temos a ingrata sugestão de não os recordar por qualquer motivo.

Não me importo de divulgar quanto gosto do mar e de mulheres bonitas. Do meu país e do meu povo. Tenho saudade do meu rio e da minha cidade onde me banhava e me apetecia. Dos meus jardins preferidos que dá à cidade de Lisboa outro encanto. Tenho saudade de vender jornais e revistas do meu tempo, que agora neles e nelas sub-escrevo. Fico com a saudade da vida, onde há um fado da Maria da Fé, que diz ter valido a pena a ter vivido.

Outras saudades me restam, já mais adultas e em primeira fila: os meus filhos e a Mãe deles. Quem sabe, um dia, podem lembrarem-se de mim.

4 comentários:

Madalena disse...

Eduardo, também tenho muitas saudades da minha primeira infância, sobretudo pelas pessoas que ficaram por lá. Nunca de lá saíram. E mais do que a saudade, dói-me por vezes o remorso do que não disse, das momentos que não lhes dei. Tenho saudade do amor que eles tinham por mim: tão verdadeiro, tão intenso, tão desinteressado! Tenho saudades do quintal da minha avó, da beleza imensa da minha mãe, da alegria das minhas primas que também se retiraram cedo demais para essa terra do nunca.
Um beijinho para ti, Eduardo. Percebo bem todas as tuas saudades e nada sei dizer que possa confortar-te das que estão na primeira fila.....

os cornos de cronos disse...

Não tenho ainda idade para sentir saudades do que quer que seja, Eduardo. Mas como te conheço e sei quem és, torna-se fácil perceber-te. Mais à tua enorme sensibilidade e o carinho com que formas as palavras mais difíceis de escrever e recordar.

Anónimo disse...

Hoje evnho mesmo agradecer o teu comentário, o último que deixaste e que me deixou muito emocionada. Obrigada, Eduardo. Não quero é que penses que sou corajosa ou coisa assim. Não sou. Tive sorte e apanhei o bicho ainda indefeso e os estragos que fez são mínimos. Eu sei que podia não ter nada, podia nem sequer ter estragos, mas a uma coisa eu já me habituei: não passemos por aqui, pela Vida, sem receber estes "carregos". Ora eu tenho que admtir que o meu é pequeno. ESte. Tenho outros que não são visíveis, não têm o nome horrível e até só me tocam por proximidade e esses doem que se fartam.Um abraço enorme! Madalena

Márcia Maia disse...

Engraçado nossas sintonias, Eduardo. Vim aqui hoje, pensando nas minhas saudades: essas que se fazem ainda mais perto da gente quanto mais próximo está o aniversário.
Sinto tantas e tão parecidas. Sobretudo da minha mãe que, embora esteja ainda viva, perdeu-se há muito nas brumas do Alzheimer. E partiu sem haver 'oficialmente' partido.

Dessas sintonias, que ignoram a distância geográfica, penso eu, se tecem as grandes amizades.

Um beijo grande, meu amigo.