23.3.07



Carta de Amor

Mais um dia vinte e três como tantos outros que ao longo destes anos de blogs comemoro e te dedico. Só que desta vez resisto ao trocadilho do Impulse (passe a publicidade) com que costumo brincar, e vou tentar escrever-te sobre coisas sérias em vez de te oferecer perfumes ou flores por este meio.

Se bem me lembro, como dizia Nemésio, o número em si sempre fez parte da minha vida. Tu sabes, mas dou alguns exemplos simples e avulsos:
1 - Quando era miúdo, meu pai jogava a sorte do rumo da vida dele com esse número nas rifas e nos cartões dos candongueiros, e volta e meia lá lhe saía alguma coisa e havia festa. Rancho melhorado, um brinquedo novo, cantares alentejanos até às tantas. E foi com estas pequeninas coisas que me fui apercebendo que a vida não é fácil.
2 - A soma dos dois coincide com o número da sorte na minha carta astrológica, mesmo sabendo que tais cartas valem o que valem e que não nos regemos por aí.
3 - A troca dos mesmos permite-me pensar que foi nesse aniversário do meu nascimento que compreendi os sonhos de uma vida melhor que todas as pessoas podem ambicionar.
4 - Por fim, foi a um dia vinte e três que deste mais sentido e significado à razão da cumplicidade humana. Tive a sorte de te encontrar e és a estabilidade emocional que sempre quis.

As coisas sérias, inicialmente referidas, são que nem todos os casais se perfilam pelo mesmo diapasão. E isso é que me dói.
Neste cantinho da nossa sala de onde te escrevo, muitas vezes assisto e reflicto sobre exemplos que fazem parte da nossa sociedade, dos nossos amigos comuns, de gente que até nos próprios espaços bloguísticos que acompanhamos mais de perto, os sabemos: casamentos curtos desfeitos em menos de três pancadas.
E lamentamos as vidas desfeitas. A dificuldade de nem todas se prestarem a começar do zero.

Ao contrário do título que dei ao que te escrevo, isto não é uma Carta de Amor! Mas podia ser.
Porque mereces todos os dias vinte e três que eu possa inventar.

Sem comentários: