24.4.05



A Última Noite Fascista

Uma noite de breu que se respirava pesada e fria. Era noite de quinta, como qualquer outra quinta-feira normal. De algum modo, também esperançada e quente, a mais longa noite das nossas vidas, prosseguiria silenciosa e repleta de magia. Onde em cada olhar trocado à luz de velas nas casernas, reflectiam sobre putos sem medo, cumplicidades que ninguém conseguira ainda explicar. Palavras de ordem soavam como bengaladas nos costados. O bater das horas certas entoava como um hino na pulsação desordenada dos gestos. Gestos ditados. Gestos surdos. E nas botas. Botas cardadas que deixaram marcas na memória destes anos já passados.

A vestimenta de combate dessa quinta-feira, suja e gasta, transportava o corpo e alma de uma infância adulterada. De uma juventude, condenada à morte pelos defeitos sociais, que reagia. Que gritava dentro do peito o silêncio dos que tinham já tombado. Era a noite mais longa e mais parda que nos acontecia.
Uma arma colada ao peito, onde o indicador não pode vacilar, é algo que fascina. O brilho do olhar sobre a “chaimite” é hipnose. A certeza de salvar uma Pátria moribunda é o que move e galvaniza. E lhes deu força.

Quando tudo terminou, aquele despertar não era igual ao de outros dias. O sol brilhava mais e as ruas deste país respiravam outro ar. Um outro espaço onde descobrimos uma nova forma de estar: a Liberdade. Porque essa noite de quinta, não era a de uma quinta-feira qualquer. Era a última noite fascista.

Obrigado, camaradas!

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