15.4.05

Na antecâmera dos

Ao estar quase-nada a despedir-me dos meus cinquenta, sinto a entrar-me pelo corpo adentro uma nostalgia assustadora. É verdade. Mas calculo que passageira.
Costumava considerar, enquanto mais jovem, que quando cá chegasse nada me assustaria. Nem as rugas, nem o ostracismo, nem nada. E este nada foi sempre de muita importância na minha vida.
Mas neste momento, em que estou diferente e defronte de mim próprio, tenho as minhas dúvidas. Quem já cá chegou, é provável até que o saiba.
Ele é o pâncreas a acusar os abusos de dias quentes. Ele é o “bicho” a recusar-se a mais noites escaldantes. Ele é a puta da vida (não és tu, Maria) a dizer-me para ter calma. O sacana do dia a aproximar-se e eu sei lá que mais…
- “Que diabo!, cinquenta e um anos não são nenhum bicho-de-sete-cabeças!!!” - dirão algumas ilustres presenças que por aqui perdem um bocadinho. Mas para mim foi. Ou é. Vividos tão intensos e velozes que mais me parecem quinhentos. A sério!

Retrospectivamente falando, tive sempre uma saúde de ferro. Tinha sorte com “as miúdas”, consegui os meus quinze minutos de fama e também passei ao lado de uma grande carreira. Vivi num tempo de mudanças radicais, da televisão a preto e branco e de ter que usar lacinho nos casamentos e nas festas “in”. Fui jogador de futebol, tipógrafo, galdério e actor. Auto-proclamei-me jornalista, homem da rádio e, desesperado, até servente de pedreiro. Li muito de bom e de mau, vi mais do que qualquer cidadão comum devia ver, cantei o Fado, declamei como assassino a Poesia, e enquanto a idade não se sentia, fiz de tudo um bocadinho quando a 24 de Julho ainda não estava ao meu alcance. Tal e qual pseudo-anarquista que se preze.

Sempre bem acompanhado “espiritualmente”, claro. Em doses industriais e muitas ressacas para contar. Só que me falta… ainda tanta coisa por fazer.
Como é que um gajo assim se pode sentir, à beira de ultrapassar esta barreira?

Vá malandros/as, digam lá! Agora que é moda toda a gente ver "sinais"...

(enquanto vou comprar copos, guardanapos e queijinhos de Serpa, para domingo)

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