17.11.03



Textos esquecidos de Natal

Há muito tempo tiraram-me o lado feliz da inexistência.
Na continuidade, tiraram-me o mundo puro da minha meninice.
Com tempo enorme de isolamento tiraram-me o lado forte da adolescência e, com o decorrer dos sonhos, fui crescendo ao sabor dos dias que iam chegando.
Formei-me em doses de intuitos e alguma imaginação. Fiz-me de fardos e cruzes em montes e vales que nunca vi. Transformei-me, sem o querer, num labirinto de emoções revolto em mares viciados e dispersos.
Fiquei líquido. Um líquido sólido de gelo e fogo que ultrapassa a nostalgia desta vida.
Sou por vezes um emaranhado de surpresas que ninguém viu, ninguém sabe.
Por alguns anos tiraram-me as raízes do meu próprio destino. Arrancaram-me a crença num deus que não existe ou já morreu.
Fizeram de mim um embrulho de restos e pedaços de cores dispersas e, pelo rumo que vou levando, sobra-me sempre qualquer coisa que insistem, continuadamente, em tirar-me.
Agora foi a vez de me roubarem o lado feliz do meu isolamento. Levaram também o sentido da minha própria liberdade. Perante tudo isto e de tudo mais o que possuo, espero que não consigam privar-me do que me resta: Tu!

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