21.3.05



Primavera Bloguista

Costumo dizer em tom de brincadeira que depois da invenção da roda e da fundação do Sport Lisboa e Benfica, os blogs foram a melhor coisinha que me aconteceu desde que me endividei para comprar um computador. E não vale a pena tentar perceber porquê, porque eu explico.

Parece difícil de crer que houve realmente um tempo em que a minha vida era explosiva, preenchida e divertida. Não apenas pela permissão da juvenil idade e disposição, mas também pela naturalidade como conhecia pessoas interessantes e coisas assim.
Aos 18 anos era já dono de uma substancial cultura básica, um pouco acima da média dos putos broncos da minha rua e, passe a imodéstia, até era considerado o exemplo do tipo esperto (e um bom partido, hehe…) pelas miúdas da escola no quarteirão mais à frente.
Porque a política estava então amordaçada, os perfis mais significativos que podia transmitir à malta da minha juventude tinham a ver com as sinaléticas culturais da época: o Tarzan e o Bill the Kid. Só mais tarde se seguiria Spencer Tracy, Abbott e Costello e o D’Artagnan.
Viciado em aventuras do género e nos discos do José Cid pela vida fora, nunca imaginei que para além da janela do segundo andar onde morava, existisse outro mundo. Mais abrangente e diversificado, mais tendenciosamente cultural e de grandes repercussões no planeta. Isso mesmo. Descobri os blogs!

É a eles que devo a rápida e forçada aprendizagem das línguas. Foi neles que descobri a Condessa de Ségur, o Pacheco Pereira e as trouxinhas de bacalhau. Foi por eles que tomei conhecimento dos lagostins-marmanjolas imunes à dor física e o segredo de Fátima. É deles também a responsabilidade de se saber o código Da Vinci, o código da Estrada e o código do Messenger.
Aliás, foram os blogs que me fizeram entender melhor o protocolo do Kioto, o acordo ortográfico e o Alberto João Jardim. E para não dizer que sou ingrato, é nos blogs que tomo pela primeira vez plena consciência do direito do contraditório, do estudo da Spina Bífida e da memória colectiva de Vilarinho das Furnas.

Qual Der Spiegel, qual Time? Os blogs, até na Quirguízia são o fiel retrato de que não existem distâncias e fronteiras nesta nova maneira de saber das coisas.
Quem seria eu hoje sem eles, hã…?

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