11.6.04



Ao contrário do que é habitual, hoje reparei na janela do meu vizinho da frente.
O que me fez olhar também para as janelas dos prédios da minha rua, para as janelas dos casebres pobres do meu bairro, para as moradias da minha freguesia e todas as janelas do concelho por onde passa o meu público transporte.
Senti que transbordavam dessas janelas, expectativas com um lado rubro e uma enorme esperança transmitida por um pedaço de pano do outro lado verde.

Ao contrário do que é habitual, senti naquelas janelas retratos de hospitalidade, de simpatia, de solidariedade, num povo habituado a não ganhar e amargurado por futuros áureos que nunca teve e nunca viu. Senti que nesta manifesta verdade circunstancial, estão patentes nos caixilhos dessas janelas o Fado e a Saudade, entrelaçados, que gritam os nobres feitos em oito séculos de História relatados. E senti-me bem. Senti-me honrado de ser Português. Senti orgulho do meu País.

Esta realidade a que assisti a caminho de mais um dia de trabalho pode durar apenas uma bola na trave. Pode demorar, no mínimo, uma bola que não entra. Pode ser que dure até noventa minutos, uma semana ou quinze dias. Mas, ao contrário do que é habitual, mais forte que a nossa Selecção só este povo que está atrás destas janelas.

Sem comentários: