27.6.04



Para que não se pense que sou um labrego de um espectador perante o que politicamente me rodeia, hoje apetece-me escrever sobre Circo, sobre o Benfica e, mais do que tudo, sobre Santana. Campo de Santana.

Foi aí que conheci os primeiros amigos. Foi aí que frequentei pela primeira vez uma escola, dei os primeiros pontapés na puta duma bola e arranjei as primeiras namoradas. Depois, veio a primeira masturbação, a primeira comunhão e a primeira desilusão.
No meu tempo de liceu (Camões/65), já era eu um benfiquista ferrenho com um géniozinho filho da puta, tive como colegas de carteira os meus primeiros adversários de xadrez, conheci os primeiros detractores de Mao, os primeiros cabrões da Mocidade Portuguesa e os primeiros maus feitios de gente que está (hoje) muito bem posicionada na vida. Foi também aí que tive o meu primeiro cargo (chefe de sala), o meu primeiro castigo (três dias de suspensão), o meu primeiro voto e o meu primeiro olho à Belenenses. Sempre por causa do meu feitio.
Fui sempre um tipo de classe humilde - nunca que me arrependesse - cuja vida foi, e é, nestes juvenis cinquenta anos como gentilmente adjectivou o amigo Buba, recheada de mudanças. Mudanças boas. Tenho sempre sorte em mudanças de PM ou de Governo, em mudar de roupa, em mudar de ares ou em mudar só por mudar de lâmina de barbear. Continuei com sorte na mudança de maré, na mudança de regime, na mudança da lua, nas mudanças do século, e a fortuna continua a sorrir-me em quase todas as passagens onde há mudança. Desta vez, na passagem pelos blogs, nas passagens que leio e nas passas do Algarve que estão p'ra vir. Tudo por causa de Santana.
Interpelando-me, só três coisas não consigo ultrapassar: o meu cepticismo na classe política, o meu receio de uma viragem ainda mais à direita e este meu feitiozinho de merda.

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