3.10.04



Dia do Rato

Falar com blogs é fácil, é simples, mas não dá milhões, julgo eu.
Clica-se neste, clica-se naquele e, entre um e outro, continua-se a clicar em vários outros que nos dão a conhecer um caminho quase infinito para mais e mais blogs.
E entabulamos conversa. Virtual. Em comentários, MSN, e-mail, tiques e toques, outras congeminações, recursos variados e o diabo a sete. Nisso estamos previlegiados.
Aliás, é o percurso normal de quem perde um bocadinho a navegar por aí, num dar-a-dar ao dedo com intermináveis horas gastas e sentir como se estivéssemos em amena cavaqueira com as pessoas que escrevem nos seus diários, e que elas próprias estivessem mesmo aqui ao nosso lado. Eu próprio, só para solidificar o intento, faço mais viagens dessas do que tenho de post’s escrevinhados. E, invariavelmente para não variar, é curiosa a impressão que me ficou; ninguém fala do rato. Esse precioso elemento das nossas vidas de bloguenses, bloguianos, blogães, ou de bloguices a quem der mais jeito.

E é precisamente com o rato que dramatizo, invento e consigo, contigo, e conto muitas coisas mais. É com o rato que compro, troco e alugo colectâneas, links,beijos e abraços.
É com o rato que sei de gente que escreve Poesia, Música, Dança ou Teatro. Pintam-se quadros, pinta-se a manta e descobrem-se coisas. Partilham-se ideias e ideais e idiotices. É com o rato que mutuamente nos aconselhamos, rimos e jogamos, e nunca nem ninguém - que testemunhasse - refere o rato. Esse acessório imprescindível.

Fazem-se diabruras e desenhos com o rato. Com o rato analgésica-se, morde-se, desactiva-se e marcam-se cruzes. Há quem realize compras e trocas, mije nos cantos da net e registe-se em tudo quanto é sítio de presenças e raivas.
Fala-se e comenta-se as primeiras páginas dos media, dá-se a conhecer casos, conceitos, leituras. Contestam-se as almas, reprovam-se os segredos e amam-se as donzelas, mas continuo a não ler uma palavra sequer sobre o sacana do rato. Não está certo!

O rato tem sido o meu principal, senão único, braço direito.
É o meu rato que possui o valor de abrir, fechar, aceitar, negar, o que eu quiser.
É o meu rato que me dedica toda a sua arte, na congénere componente tarefeira com que nos entendemos, que faz com que fale com quem quero e não absorva o que outros querem que eu aprenda, alinhe ou apresente. De que me serve uma análise bem cuidada se não tiver o rato para concluir. Fechar. Pôr fim. Despedir-me, desligar-me, e mandar o conteúdo indesejável p’ró c******. O meu rato faz parte da minha anarquia.

O rato, minha senhora e meu senhor, é o garante da nossa própria fantasia ou morte.
Sem rato ninguém diz nada, fala nada ou sequer existe coisa nenhuma. Porque carga d’água se esquece o rato - sábio, atento, leal e promissor - sabendo todos não existir rata capaz de o engolir ou escravizar?

São estas injustiças computorizadas que me fazem estar, por vezes, filosoficamente errado.
Mas hoje não! Hoje é dia do rato. Outro amigo que tenho. Assim como aquelas e aqueles que conseguiram ler isto até ao fim sem o utilizarem para sair a preceito ou com uma desculpa esfarrapada de, no mínimo, deixarem um "Olha!, boa merda de dia, o do rato".

Bom dia, boa tarde, boa noite, conforme a hora em que estiver sintonizado.

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