10.6.03

Estamos bem. Muito bem. O meu cão foi operado com êxito e o relax pós-operatório não poderia estar melhor. Temos cão e dono completamente alegres.
Hoje comemora-se Camões. Vizinho meu na Calçada de S’antAna. Calçada onde também pernoitou Amália e se estabeleceu A Morgadinha. Sítio perto da Severa, não longe das tertúlias do Chiado, do Parque Mayer, da RibaD’ouro, e olhando S. Jorge de olhos nos olhos.
Por estas terras passou também Anthero, a rainha Isabel, Gomes Freire, além de Bibi, Carlos Cruz e eu. Campo onde alguém sabia o que era o “maistoideu”. Local onde passei parte da juventude, onde criei família e nasceu a minha descendência. Temos por onde descer para qualquer lado da cidade, assim Sousa Martins o conceda, mais o elevador do Lavra e a carreira 33 ou, ainda, o Metropolitano que está a dois passos no Intendente ou no Rossio conforme a direcção que se tomar.
Mas não foi esta disposição que me trouxe até aqui, agora. Estamos em blogs e é sobre blogues que pretendo escrever.
Estamos a ficar mais pobres. Quer blog’sticamente falando, quer linguísticamente detectando. O princípio era senhores muito bem falantes, muito bem pensantes e muito bem distantes. Numa palavra: Artistas.
Depois vem o furacão da descoberta. Blogs em frente com gente inóspita, soalheira e cientes de que precisam libertar-se do jugo da servidão. Jornalistas, estudantes, e gente que não tem mais nada para fazer do que tentar orientar alguém. Surgem as birras pela conquista dum espaço opinativo, surgem os desacatos e insultos por conversas de rua amarfalhadas e demonstrações de que não só vale a pena queimar as pestanas como também é necessário aniquilá-las.
Arreganham-se e parecem gente que está pela primeira vez a dar um passo. Demissionam-se e parece que o mundo deixa de existir. Não deixou. É aqui que entramos nós: a raia miúda. Pessoas simples sem nome que fazem poemas e os guardam longe de olhares curiosos e mãozitas inquietas de putos à volta das gavetas. Gente que tem opinião, experiência de anos muitos e vários dissabores. Avós e pais que descobrem na Net uma forma de estar um pouco mais actualizados. Gente, enfim, que desopila um pouco a forma sempre igual como decorrem os dias. Mas ficamos. Estúpidos mas hirtos. De pé, como morrem as árvores.
Não gosto daqueles que se perfilam como os sabe-tudo. Não pela forma de eles saberem ou não, mas pela imagem que transmitem na apresentação das suas ideias, dos seus pontos de vista e nas vaidades que transparecem dos seus posts. Afinal, são mortais e padecem dos mesmos vícios e virtudes que se encontra no dia-a-dia “lá fora”. Eu, por exemplo, já fico reconhecido se um “Dos Meus” diz: “ -Não sei como é que tens paciência para estares a perder tempo com os blogs quando tens tanto lado onde mais aprenderes.” Mas eu gosto assim e quando me fartar já me fui embora. Mas por ora não. Tenho com que me entreter nas horas vagas, Escrevo o que me der na gana e chateio quem eu quiser se me deixarem. “Isto é meu” e a mim ninguém me cala Alegremente. Mas por outro lado, não gostaria de ver a “coisa” banalizar-se” e endurecer a parte que acho mais gira: a descoberta das palavras. Em Portugal costuma acontecer o oito e o oitenta. Nos blogs vai do zero-vírgula-oito ao oito mil.
Pode ser que apareçam coisas novas, quem sabe. E quando isso não acontecer vou ao google.
Agora vou dar o anti-inflamatório ao meu cão. É mais importante.


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